212.
DISCURSO INDIRECTO.
1.
quando se restituem as palavras de um orador ou de um escritor à letra, isto é,
tal como se elas estivessem efectivamente a ser pronunciadas ou escritas,
designamos esta forma de apresentação discurso directo: oratio recta.
Se
as palavras forem tornadas dependentes de um uerbum dicendi ou sentiendi (sendo
os seus complementos directos ou completando-os tomando-os como verbos de
orações principais), a forma de apresentação do discurso chama-se indirecta
(oratio obliqua). Esta é a apresentação de enunciados, expressões da vontade e
perguntas de uma pessoa representada como oradora ou escritora que é
introduzida como o sujeito de uma oração principal.
2.
A oratio oblíqua latina é apresentada em latim, por conseguinte, pela relação
de dependência entre um sujeito em oração principal e o verbo que lhe está
imputado como predicado através de uma oração substantiva infinitiva (acusativo
com infinitivo) ou através de orações subordinadas, intrinsecamente dependentes
da principal com os predicados verbais em conjuntivo.
3.
Transformação das orações:
Orações
principais que contêm enunciados aparecem em oração infinitiva.
Uma
conexão com uma oração relativa não altera em nada o carácter da oração
principal de tal sorte que tais orações surgem igualmente em oração infinitiva.
Caesar
a legatis Remorum quaesiuit, quae ciuitates Belgarum quantaeque in armis essent
et quid in bello possent. Qui responderunt:
Plerosque Belgas esse
ortos a Germanis
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“plerique Belgae sunt
orti a Germanis.”
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Eos Rhenum traductos propter loci fertilitatem ibi consedisse Gallosque expulisse
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“ii Rhenum traducti propter loci fertilitatem ibi consederunt Gallosque expulerunt.”
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Plurimum inter eos Bellouacos
et uirtute et auctoritate et hominum numero ualere
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“Plurimum inter eos Bellouaci
et uirtute et auctoritate et hominum numero ualent.”
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Orações
principais que contenham um desejo (ordem, exigência, vontade, pedido,
conselho) estão em conjuntivo e seguem a regra da consecutio temporum (184), a
maior parte das vezes sem serem introduzidas por UT. A negação é sempre NE.
Neruii
rebelione facta Q. Cicerone min hibernis cinctum tenente. Quorum duces Ciceroni
suadent, ute x hibernis discedat. Cicero ad haec unum modo respondet:
Desinant talia poscere
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“Desinite
talia poscere!”
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Ne sperent
Romanos ullam accepturos
esse
Ab hoste armato condicionem.
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Ne sperauistis
Romanos ullam accepturos
esse
Ab hoste armato condicionem!”
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Orações
principais que contenham um interrogação real (isto é uma interrogação que se
dirija à segunda pessoa), estão em conjuntivo de acordo com as regras da
consecutio temporum (184). As perguntas retóricas encontram-se em oração
infinitiva.
As
interrogações que se encontram já no discurso directo no conjuntivo (potencial,
deliberativo) permanecem em conjuntivo, mesmo quando são interpretadas como
interrogações retóricas.
Caesar
idóneos homines ad Pompeium misit cum his mandatis:
Tota Italia dilectus haberi,
Ciuitatem esse
in armis.
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“Tota Italia dilectus habentur,
ciuitas est
in armis.”
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Cur id fieret?
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“Cur id fit?”
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Quonam haec omnia
nisi ad Caesaris perniciem
pertinere?
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“Quonam haec omnia
nisi ad Caesaris perniciem
pertinente?”
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Orações
secundárias estão sempre em conjuntivo de acordo com a regra da consecutio
temporum (184). São consideradas na oratio oblíqua sem excepção como
intrinsecamente dependentes (181.3.3).
Diviciacus
Haeduus apud Caesarem de fortuna Galliae queritur:
Galliae totius factiones esse duas:
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“Galliae totius factiones sunt duae:”
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Harum alterius principatum tenere
Haeduos, alterius Arvernos.
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“harum alterius principatum tenent
Haedui, alterius Arverni.”
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Factum esse,
uti ab Arvernis Sequanisque
Germani mercede arcesserentur.
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“Factum est,
uti ab Arvernis Sequanisque
Germani mercede arcesserentur.”
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Peius Sequanis
Quam Haeduis accidisse,
Propterea quod Ariouistus
Tertiam partem agri Sequani,
Qui esset
optimus totius Galliae,
Occupauisset,
Et nunc de altera parte tertia
Sequanos decedere iuberet.
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Peius Sequanis
Quam Haeduis accidit,
Propterea quod Ariovistus
Tertiam partem agri Sequani,
Qui est
optimus totius Galliae,
Occupauit,
Et nunc de altera parte tertia
Sequanos decedere iubet.
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Futurum esse paucis annis,
Uti omnes ex Galliae finibus pellerentur
Atque omnes Germani Rhenum
transirent
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Fiet paucis annis,
Uti omnes ex Galliae finibus
pellantur
Atque omnes Germani Rhenum
Transeant.
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4.
A respeito da escolha dos tempora nas orações em conjuntivo:
O
tempo das orações latinas orienta-se fundamental pelo predicado principal da
oratio oblíqua, de acordo com a consecutio temporum.
Na
apresentação viva o perfeito do conjuntivo pode seguir um pretérito.
Na
tradução para português tem de se escolher o presente ou perfeito do
conjuntivo. Apenas quando as formas verbais em causa (na 1ª e 3ª pessoas do
plural) não se distinguem do presente ou do pretérito perfeito do indicativo
emprega-se o pretérito do conjuntivo.
5.
Escolha da pessoa e dos respectivos pronomes.
Na
oratio oblíqua é empregue por regra a 3ª pessoa. Por isso também a 1ª e a 2ª pessoas se encontram referidas por pronomes da 3ª pessoa.
Os
pronomes que se referem à pessoa que fala, portanto que estariam na 1ª pessoa
em discurso directo, são os
reflexivos: sui, sibi, se; suus, sua, suum. Para clarificação emprega-se
também ipse, ipsa.
Os
pronomes que se referem à pessoa a quem se dirige, portanto que no discurso
directo se encontrariam na
2ª pessoa, são: ille,
illa ou is, ea.
Os
pronomes que não se referem nem à pessoa que fala nem à pessoa interpelada,
portanto: na 3ª pessoa, permanecem na 3ª pessoa. São: is ea, ille, illa.
Helvetiorum
legati Casari dicunt:
Sibi esse
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In animo
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Est nobis
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Iter per provinciam facere, propterea quod
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Haberent
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Aliud iter nullum
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Habemus
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Se rogare, ut
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Nos rogamus, ut
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Eius
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voluntate
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Tua
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Id sibi
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Facere liceat
|
Id nobis
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