sábado, 10 de março de 2012

Fil Antiga, 4ª sessão, 7 de Março (Tomaz Fidalgo)


Spiritus: a breathing, breath, breath of a God, breath of life. também arrogância, coragem, energia. Espírito, alma, (soul) (principalmente em casos poéticos). Tácito utiliza também como arrogância, como se vê nos textos mais à frente). Alguém inchar = ficar orgulhoso.
 Acontecimento transcendente. Traduz a palvra πνεῦμα, que foi santificada por S. Paulo. A raiz do termo é sp, de onde vem sopro, soprar. Não é apenas ar, mas o sopro. Compreensão de que, na respiração, há uma comunhão com a totalidade da vida. (como se verá nas passagens, isto leva a uma comunhão do interior com o exterior). O sentido é dado neste contacto com o exterior. Não apenas o contacto táctil da pele com os outros objectos, mas o contacto da respiração com o exterior: o contacto visual (é sinestésico), comunhão de acesso. Em Aristóteles a verdade toca, há um contacto táctil com a verdade. O spiritus está em contacto com o exterior: para os gregos todos os órgãos sensoriais eram tácteis, e o tacto extrapolava do contacto da pele com o que toca (eu toco com o dedo na água e digo que a água toda da praia está fria.) Introdução do spiritus numa atmosfera; tudo é ao mesmo tempo a totalidade dos acontecimentos: os sentido são um foque que pressupões o acontecimento maciço de tudo ao mesmo tempo: a experiência da existência em que o a priori é o própria abertura do acesso. O espírito é qualquer coisa da natureza da aura ¾ o que envolve. Em alemão, "Hauch": sopro, vento, são sempre utilizados por Rilke e Höldering como acontecimentos da lucidez. O espírito é definido como algo que tem sempre uma interpretação do que o envolve: não há acontecimento da nada que não implique uma interpretação do ambiente. Quando se descreve acontecimentos de ira e de cólera, as metáforas são de natureza térmica. Mas esses são sempre visto à luz do homem: tudo funciona como conteúdos para o humano , e isso dá-se com base em antropomorfismos.
A compreensão de spiritus corresponde a um modo de compreensão do acontecimento da vida: a habitação de um horizonte de sentido. A vida como acontecimento de sentido. O Homem é um ser que habita sempre um horizonte de sentido.
Algo que habita em nós, como diz o termo ἐνθυοσιασμόσ. Estar inspirado é dito na voz passiva: uma presença em nós. É, no exemplo de ἐνθυοσιασμόσ, a presença de Deus em nós. Estar disponível para a visitação de um espírito.
No sentido de breath of life está a ideia de ψυχη. Algo que restaura e que nos faz acordar, adormecer, ter fome, etc, algo que está entretecido com o corpo: corpo como limite do próprio espírito: o corpo é o limite do espírito na medida em que é a superfície de contacto do sopro vital com o mundo, com a vida. Ideia que na morte a lucidez é espalhada, espraiada. A lucidez tem diversas roupagens: que são o corpo desde que nascemos e se vai alterando, e, na última, o corpo espraia-se. Cícero; o espírito, quando morremos, abandona o corpo e regressa à sua pátria.
Tácito utiliza também como arrogância Alguém inchar = ficar orgulhoso. Mas também pode ser coragem (forma de estar perante situações).
Também utilizado para falar das pulsões que nos abordam - as ὁρμαί (tem a ideia de abordar um navio, era o termo para falar dos piratas que abordavam os navios). Para os gregos ter um desejo era estar habitado por um desejo, como algo extrínseco que me move sem o meu consentimento, ter desejos é ser passivo. Ex. ἐπιθυμητικόν = επι + θυμοσ.

2.43"sed praeter paternos spiritus uxoris quoque Plancinae nobilitate et opibus accendebatur " traduzido por "But beside the father's haughty temper there was also the noble rank and wealth of his wife Plancina, to inflame his ambition." Espírito como temperamento, algo de inato, como a maneira de ser de alguém, o feitio. Piso herda o feitio do pai, que era irascível. Ele recebe esta ferocidade de nascimento: é mesmo algo que nasce com ele. Mas esse espírito não é algo de hermético, pois é susceptível de ser influenciado pela mulher (que era uma megera). Categoria fluvial, ele é influenciado pelo feitio do que herdou do pai, mas também pela relação com a mulher. Carácter fluvial e de respiração do meio: respira-se o meio em que se vive e isso remete para uma influencia mútua: do meio para nós e de nós para o meio. Podemos estragar a vida dos outros e eles podem estragar a nossa, e isso acontece por esse carácter fluvial da nossa relação com o meio e com os outros: transposição de um sopro para outro sopro por herança e transposição de sopro por habitar o mesmo espaço.

2.70 "si effundendus spiritus sub oculis inimicorum foret, quid deinde miserrimae coniugi, quid infantibus liberis eventurum? " Se expirar o espírito/exprirar o último suspiro debaixo dos olhos dos inimigos, o que é que ainda ia acontecer à mulher e aos filhos? Espírito como aquilo que está em nós e nos dá vida. Ideia de πνευμα grega. Mas talvez também no sentido de: a vida que habita em mim. Algo que está dentro de mim e perco com a morte, sopro com a morte ("o último suspiro" - ideia de partida, abandono).Ele compreendeu a situação com ira não menos do que medo.

4.12 "Agrippinae quoque proximi inliciebantur pravis sermonibus tumidos spiritus perstimulare. " Maneira de ser, temperamento, carácter. A maneira de ser dela era incitada pelos seus próximos. Era estimulada ao ponto de encher o se carácter orgulhoso. É uma maneira de ser, mas um maneira de ser que é influenciada pelo exterior. Mais uma vez há uma metáfora física: ela incha. Há uma manifestação desta maneira de ser no corpo. Os verbos a modificar o sntido de spiritus são: insectari, exagitare, inhiare e perstimulare. Eles mostram o horizonte de manipulação do spiritus.

13.16"quod ita cunctos eius artus pervasit ut vox pariter et spiritus raperentur "o veneno invade o seu corpo todo ao mesmo tempo e raptou-lhe a voz e o espírito. Ficou sem aquilo que dá expressão à face: o espírito como agente responsável pela vida do rosto.

13.21 "commotis qui aderant ultroque spiritus eius mitigantibus " Aqueles que estavam presentes e que ficaram abalados tentaram acalmar o seu spiritus. Aqui parece ter o sentido de energia, de excitação, por estar  associado ao "commotis" (comoveo).Mais uma vez a ideia de algo que dá vida ao corpo. eles queriam acalmar o espírito dela, queriam arrefecer-lhe os ânimos. Não tem nesta passagem o sentido de "maneira de ser", mas um estado em que se está, um modo de 'estar a ser' do tal sopro que anima o corpo e que é a vida.

15.57. Epicária: ela exprime, comprime o sopro, já ténue, ao pendurar-se no pescoço com o seu peso todo para se enforcar. ela suicida-se , uma compressão do sopro para fora.

15.64 Nero poupa a morte à mulher de Séneca. "vitalis spiritus " o espírito vital, traduzido por energia vital. Aquilo que dá vida. A vida já estava fraca nela. A energia que é a vida que habita em nós. É a modificação do espírito vital que determina a forma como as pessoas se apresentam. Tem uma expressão no rosto.
Ao relacionar com os outros textos, e mesmo com base neste, entende-se que é algo que vai variando consoante as ocasiões. Um pessoa pode ter um spiritus mais assim ou assado, mas ele nunca é inflexível. Pelo contrário, o spiritus é em cada caso modalizado e categorizado de acordo com a vida, com as circunstâncias que o afectam. O humano como afectável pelo exterior. As paixões, medos, etc, como algo que afecta, ao ponto de determinar, o espírito. (é neste sentido que também o animus, e outras as características da res mortalium têm sido definidos)

16.24 "vultumque et spiritus et libertatem insontis " Quando viu que a face e o espírito e a liberdade do outro não se baixaram perante ele, mas pelo contrário o desafiaram, Nero ficou furioso. Mais uma vez a relação entre o spiritus e a face (vultus) ou expressão da face/rosto. É aquilo que transparece pela expressão do vultus.

16.26 "cohibuit spiritus eius Thrasea ne vana et reo non profutura, intercessori exitiosa inciperet  Contem o espírito de Rústico, porque isso não vali de nada, e só o ia prejudicar no futuro" Traduzido por: "Thrasea checked (controlou, neste caso) his impetuous temper, not wishing him to attempt what would be as futile, and useless to the accused, as it would be fatal to the protester " O temperamento impetuoso. Neste caso é algo que é característico dele e parece ser assim independentemente das circunstâncias. Mas será mesmo? em causa parece estar (como até agora) este misto de determinação congénita e afectação do exterior. está-se sempre a jogar as determinações internas e as externas. Parece que se volta sempre ao problema da liberdade na primeira aula: qual o papel que temos na nossa própria vida quando somos determinados quer pelo exterior quer pelo nosso carácter (que não somos nós que escolhemos)? Qual a margem de manobra que temos na nossa própria vida? Nos anais esta pergunta é sempre levada ao extremo, ou analisada em situações extremas: o único modo de saber o que realmente é o homem é levá-lo ao extremo e ver o que é que dá, ou o que é que sobra...

16.34 "de natura animae et dissociatione spiritus corporisque inquirebat ", "With him, as might be inferred from his earnest expression of face and from words heard when they raised their voices, he was speculating on the nature of the soul and on the separation of the spirit from the body, " Oposição clara entre corpo e espírito. Mais uma vez há uma alusão à face/rosto e à sua expressão, embora não esteja directamente relacionada. Aqui é tido como espírito que anima o corpo e de que modo se processa a separação deles. é por isso dado que são tidos como diferentes (mas estas palavras são postas na boca do mestre cínico). Um não é sem o outro durante a vida, e é a dissolução da sua união (dissociatio é um termo jurídico - dissolução) entre corpo e alma: é uma sociedade que é dissolvida no momento final.


A diferença entre animus e spiritus é que o spiritus extravasa a vida temporal. Spiritus é também uma acontecimento de sopro, mas como algo de património de alguém: e tem uma gradação ontológica (spiritus divinus, etc). Os termos têm raízes diferentes mas referem um acontecimento de lucidez. O animus tem também uma interpretação de fluidez, mas tem um carácter mais reactivo, e no spiritus é sempre dado nos momentos finais, ou nos momentos de inspiração.

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