quarta-feira, 14 de março de 2012

Antiga, 6ª sessão (Tomaz Fidalgo)


6º Aula 14.3.2012

Vita -- (continuação da aula anterior) Aparece em nominativo e genitivo (genitivo de relação). Compreender as aparições do termo e os verbos que o caracterizam.
determinação fluvial, que passa, se esgota e asfixia. Fala-se de um der vivo que é a vida.


1.3 " Ut Agripina vita concessit" - quando a vita de Agripina passou; quando agripina morreu. A morte de Agripina é o passar da vida dela. A morte é o último suspiro (quando o spiritus se espraia), e isso corresponde a não estar mais habitado pelo sopro. Assim, torna-se mais clara a construção "ut Agripina vita concessit", pois é a vida que se perde, que passa, que a abandona.

1.9 Período de vida, duration of  life. Neste caso para marcar aquilo que ele fez durante a vida. O termo vita aparece sempre num contexto de morte. É algo susceptível de uma avaliação retrospectiva. Esta avaliação está quase sempre associada às honras e feitos do que chegou ao fim da vida. A vida é aquilo que se fez com o sopro que se tinha: uma janela de tempo em que há a possibilidade de viver. "finiuisset vita" tinha dado fim à vida. Articulação entre vida e dias. Carácter finito mas ilimitado do tempo. O V de Vita tem provavemente a origem de B, BIta, que tem a raíz de Bios. Tem em foco o dia, ele nasceu e morreu no mesmo dia. Tem a ver com a duração e o sentido de estar a ser. De que modo atribuímos determinado peso a isto e não àquilo? Campo de determinação, horizonte que organiza os dias.

1.17  "ac si quis tot casus vita superaverit, trahi adhuc diversas in terras ubi per nomen agrorum uligines paludum vel inculta montium accipiant", traduzido por: "If a soldier survives so many risks, he is still dragged into remote regions where, under the name of lands, he receives soaking swamps or mountainous wastes." Se durante a vida ele supera tantos riscos, o que recebe é pouco. Aqui a oposição com a morte não existe de forma tão explícita, embora esteja subjacente à vida militar e aos riscos que esta comporta. O que ele está a pôr em causa é a recompensa por uma vida militar: será que vale a pena, se o retorno é este? Aqui não existe apenas a ideia de duração, ou de um período determinado da vida (ele refere várias vezes os 16 anos de serviço obrigatório), mas também da validade de tal escolha. Aqui,  a validade parece ser medida pelas consequências. Temos uma antecipação maciça do tempo    que virá na nossa vida e por isso do tempo que virá antes e do tempo que veio antes de nós. Tensão relativamente a um fim qualitativo. Há não apenas uma tensão com as diversas fases da vida, mas um tensão em relação a um tempo absoluto: o tempo do fim do serviço militar não é o fim da vida e por isso sobra ainda vida (superavit). Futuro como o que resta. A temporalidade como sendo o resto: o princípio da nossa vida é já o resto. É isso que gera a tensão com o fim da vida (ou é gerado pela tensão com o fim da vida). depois do serviço militar tem de sobreviver = há ainda vida. Abertura a um qualidade de tempo que é para ser vivida daquele modo.

1.22 "'vos quidem' inquit 'his innocentibus et miserrimis lucem et spiritum reddidistis: sed quis fratri meo vitam, quis fratrem mihi reddit? " Vós restistuisteis a estes inocentes e miseráveis o espírito e luz, mas que me restitui a mim a vida. relação sujeito objetco é a relação gramatical. Aparece como complemento directo. A vida não é um valor por si, não é algo que deve ser mantido; a vida é a possibilidade de viver, de estar a ser. Vida como duração do tempo que se tem disponível.

1.53 "constantia mortis haud indignus Sempronio nomine vita degeneraverat". Todo o parágrafo está marcado por mortes. Tal como no primeiro ponto, vita aparece num contexto de morte. É utilizada para referir o fim da vida, ou, como é o caso, aquilo que chega ao fim com a morte. Ele levou uma vida que degenerava a sua honra e era indigna. Aqui parece ter o sentido de "duration of live". Mas esta duração é qualificável por aquilo que se fez durante esse tempo. A vida que levamos, o que fazemos da vida. A nossa relação com a vida determina vergonha e honra.

1.74 Forma de vida, modo de vida. Aquilo que fazemos forma a nossa vida. Ele ataca os delatores (acusatores), pois eles difamavam as pessoas que acusavam mais do que  relatavam os factos. Forma de vida dos delactores. O verbo mostra o modo como se inicia uma determinada actividade. Ser é estar a ir para dentro de -- não a deslocação, mas a transição para algo diferente: as metáforas espaciais servem para enfatizar a ideia de transformação, de entrada ou saída de algo. Neste caso é o modo como alguém leva a sua vida. O sentido horizontal de ser é estar dentro de. O estar a ir é o nomen agentis. Estamos a falar de deslocação espacial mas não visamos de todo essa deslocação (ex. ir às aulas). Instanciação do viver que é continuamente o estar a ir para, estar a sair de. Compreensão tácita do modo com a vida acontece.

1.80 "ad finum vita". o que "fuit" (pret. perfeito resultativo), era este o modo de ele agir: manter os outros no cargo até ao fim da vida. Vida tem sempre esta relação com fim.

1.81 O modo como Tibério escolhe pessoas para o poder. "modo subtractis candidatorum nominibus originem cuiusque et vitam et stipendia descripsit ut qui forent intellegeretur ;" Os candidatos eram escolhidos pela " originem cuiusque ", a origem de cada um. Há os nomes que ele escolhe e depois uma migalhas que sobram para os testas de ferro de certas facções. As origens eram assinaladas e a Vita (curriculum) e os cargos, para que fosse percebido quem eram as pessoas escolhidas.

2.31 Alguém é condenado. Mas geralmente há um período antes de o executar. Neste caso não houve, foi logo executado. Ele depois instaura um período de 10 dias. Mas, "iuravitque Tiberius petiturum se vitam quamvis nocenti, nisi voluntariam mortem properavisset. " A vida é algo que pode ser interrompido. pode-se tentar evitar isso, mas pode sempre ser interrompido.
Há uma confusão enorme entre uma pessoa e a sua vida, entre o sujeito da vida e a vida.

2.42. Tibério era generoso. Verbo implere -- preencher: o fim da vida ser preenchido de nada, ou seja, esvaziar. implevit finem -- ele enche o fimd a vida, ou, vê o fim da vida cheio (previsto pelo próprio destino).

2.71 o fim visto de dentro - morte de germânico. Alguém que está a morrer há alguns dias de envenenamento. discurso directo de germânico em relação ao fim da vida. Ele tem a ideia nítida que vai morrer, mas que continuará na memória dos outros se for vingado.  morte como saída para fora do jogo, saída para fora do sítio/tempo onde se fazia caminho. Ideia clara da relação entre o tempo em que a vida é ceifada e as espectativas. Ex. moreu cedo de mais. Têm de contar ao meu pai e ao meu irmão por qeu espécie de crime fui dilcaerado e porque espécie de crime fui acusado e como fui levado à pior das mortes " miserrimam vitam pessima morte finierim. "-- morte péssima, abaltivo de intrumento, morre-se pela morte. Fim da vida é um eufemismo para morte, para aquilo que define a nossa essência: o ser mortal. Determinação da causa da morte, da justiça de tal morte e da relação com a morte, mas também do impacto dessa morte na vida na vida, morte como acontecimento da vida, que está dentro da vida.
Dissociação: o si não tem nada a ver com a fortuna. Circunscrição do tempo e foco na nossa incapacidade de pensar o que seria não estar vivo. Por isso mesmo ele pede vingança, o último pedido dele é o de vingança -- tem uma projecção de vingança para além da morte. Só a vingança permite  a sobrevivência para além da morte (ficar na memória) e a sobrevivência da mulher e dos filhos.

2.83 Foi em direcção à morte por causa do estado. "Vita finierit". Ideia de estar em trânsito. Período de tempo que acaba.

3.30 "Fine anni concessere vita insignes viri L. Volusius et Sallustius Crispus" Mesma estrutura de 1.3 : "concessere vita" = morrer. Sempre que se fala da morte e do "concessere vita" fala-se depois daquilo que aquele que morre fez durante a vida: quais os feitos, quais as virtudes e defeitos,  mas  principalmente quais as honras e títulos.

3.50 "vita Clutorii in integro est, qui neque servatus in periculum rei publicae neque interfectus in exemplum ibit". A vida dele ainda está salva. A situação é da discussão da pena de morte. Será que o que ele fez merece pena de morte? A determinação de pena de morte é determinada pelas acções em vida -- não apenas aquela que está sob julgamento, mas também as anteriores e as dos antepassados. O merecer continuar vivo depende daquilo que fez até agora com o período da vida. Mas não é apenas isto: depende também do perigo que pode constituir ele continuar vivo. Será que há perigo em poupar a sua vida? Será que não se devia marcar o exemplo e condenar o homem à morte? Neste caso não há apenas uma análise retrospectiva, mas uma projecção futura: o que é que acontecerá se ele tiver mais vida. Há também o contexto político, que pode determinar a sua vida: ele pode perder a vida porque é necessário dar o exemplo. Ou, pelo contrário, pode viver porque não constitui perigo para a saúde do estado. A vida tem um preço bastante baixo.

3.54 "quod vita populi Romani per incerta maris et tempestatum cotidie volvitur", tarduzido por "and that the very existence of the people of Rome is daily at the mercy of uncertain waves and storms", utilizado no sentido de existência. A existência do povo romano é revolvida por tempestades, dado que se habituaram a viver com grandes luxos, tudo à conta das conquistas de províncias. Modo de vida. Consequências dos modos de vida. Ideia da vita para além do indivíduo: expansão ao povo que por isso introduz o tempo histórico.

3.69 "At Cornelius Dolabella dum adulationem longius sequitur increpitis C. Silani moribus addidit ne quis vita probrosus et opertus infamia provinciam sortiretur, idque princeps diiudicaret." as pessoas de vida vergonhosa e cobertas de infâmia não deveriam ser eleitas para as províncias. A vida aqui tem o valor quase contemporâneo de costumes (moris): a vida é aquilo que se faz com ela. O traço é continuo: a vida é aquilo que se faz com ela, e aquilo que se faz com a vida tem consequências para a vida que há de vir, para o tempo que ainda não veio. Compreensão da vita como sequência (e isso implica a noção de temporalidade) de acções e respectivas consequências. No entanto, não há uma óptica estritamente causal determinda pela moral, uma perspectiva de recompensa e castigo, pois as coisas boas acontecem aos maus e as coisas más aos bons ("tristia in bona et laeta in deterrimus")

4.30 "egenam aquae utramque insulam referens dandosque vitae usus cui vita concederetur" e "si quis maiestatis postulatus ante perfectum iudicium se ipse vita privavisset." Aquele a quem a vida foi poupada deve ter os básicos para manter a vida (por isso não pode ir para uma ilha sem água)(utiliza-se cocederetur). a segunda tem a ver com o não pagamento dos delatores se o acusado se suicidasse. Mais uma vez se fala da vida como oposto da morte. A termo vita é assim referido por contraste: é o tempo em que se é habitado pelo spiritus; ou melhor, o tempo que dura até o spiritus se espraiar.

4.35  Memória para  a vida dos que ficam.

4.38 Relação de Tibério com o futuro e com a imagem que o futuro terá de si.

4.62 "miserandi magis quos abrupta parte corporis nondum vita deseruerat". Utilizado com desero (abandonar, desertar, desistir). Um estádio mal construído cai e mata uma multidão. Uns tiveram a sorte de morrer logo e não ter se suportar a torturas, outros tiveram maior miséria e tiveram os membros/partes do corpo arrancadas sem a vida os abandonar. vita deseruerat = morrer, ser abandonado pela vida. Vida mais uma vez como algo que habita em nós (por uns tempo, como que a título de empréstimo).

6.29 "Mamercus dein Scaurus rursum postulatur, insignis nobilitate et orandis causis, vita probrosus": Ele tinha má fama, e uma vida infame. Vita aparece mais uma vez adjectivada. O que ele fazia com o tempo dele não era bom.
Vita = aquilo que se faz com o tempo que se tem.

6.39 "fine anni Poppaeus Sabinus concessit vita," No final do ano ele perdeu a  vida; morreu. Morrer é concedere vita, perder a vida, ser abanado por ela, por isso é que se utiliza a 3ªpessoa do singular.

6.51 " morum quoque tempora illi diversa: egregium vita famaque quoad privatus vel in imperiis sub Augusto fuit" Quando foi admitido na casa de augusto tinha uma fama egrégia. Portava-se bem e foi um bom período da sua vida (uma parte boa do tempo que é a vida). Aqui também está relacionado com os mores. A vida dele dividiu-se em vários períodos que foram pautados por comportamentos diferentes. A vida não tem nada a ver com o carácter, mas com a sequência de acontecimentos e períodos do tempo que se perde com a morte.

11.6 " ad summa provectos incorrupta vita et facundia" É a primeira vez que se diz bem da vida de alguém. Descrição da vida dele. Descreve-se as notas chaves que marcam a sua existência. Não tem a ver com definição do carácter (a não ser indirectamente), mas com a forma como isso é visto. Todas as descrições em que ocorre o termo vita são pautadas por um julgamento de quem olha.

12.39 + uma vez "concessit vita" = morreu

12.43 " navibusque et casibus vita populi Romani permissa est" A vida dopovo Romano é deixada ao sabor dos navios, enquanto sustentam África e etc... Vida tem aqui o significado português: a vida das pessoas de Roma, a sua existência.

12.52 " neque tamen exuli longa posthac vita fuit: morte fortuita an per venenum extinctus esset, ut quisque credidit, vulgavere" Mas o exilado não viveu muito depois disso, mas o povo discutia se foi por morte natural ou envenenamento. Mais uma vez contraste entre vida e morto: definição de vida por oposição à morte: está-se vivo até à morte.

13.43 " ferebaturque copiosa et molli vita secretum illud toleravisse" Tolerava a vida abundande a "soft"  separado no exílio. Aqui é utilizado para descrever um período da vida e também um modo de via. Vê-se melhor nesta passagem (embora também esteja presente nas anteriores) o modo de vida. Não tanto pela descrição dos olhares alheios e seus juízos, mas por uma descrição com uma certa pretensão de imparcialidade e de mera descrição de factos. Ideia de que pode corresponde a uma determinada fase da vida um determinado modo de viver.

14.51 " concessitque vita Burrus, incertum valetudine an veneno"Morreu Burru, não se sabe se envenenado ou por doença. (há quase sempre uma suspeita por trás da morte deles). A expressão que utiliza sempre para a morte é "concedere vita X".

14.55 " et tua quidem erga me munera, dum vita suppetet, aeterna erunt" enquanto a vida estiver disponível. Suppeto é be in store, be available, be at hand. Enquanto a vida estiver aqui à mão eu não me esquecerei de ti. Tem a mesma ideia de concedere vita: o concedere vita é quando a vida deixa de estar à mão, deixa de estar in store, deixa de estar disponível para ser vivida.

14.59 " doctoresque sapientiae, Coeranum Graeci, Musonium Tusci generis, constantiam opperiendae mortis pro incerta et trepida vita suasisse" Os doutores da sapiência/filosfia X e Y aconselharam a esperar uma morte firme em vez de (pro) o aconselhar uma vida incerta (incerta,agitada) e trepida (agitada). Definição de vida por oposição à morte. Por vezes mais vale morrer do que viver de determinado modo. Definição não só de vida, mas também, como há pouco, de modo de vida.

14.61 " quamquam id sibi vita potius, sed vitam ipsam in extremum adductam a clientelis et servitiis Octaviae quae plebis sibi nomen indiderint, ea in pace ausi quae vix bello evenirent" Há algo mais valioso que a vida,  mas a própria vida dela corria perigo...

15.11 " se fidem interim, donec vita suppeditet, retenturos."  Situação de guerra. Ele disse que eles se manteriam (se aguentariam em combate) fieis enquanto durasse a vida. Duração: a vida tem uma duração finita e define-se pelo que acontece nesse intervalo de tempo. Mais uma vez, pela situção de combate, se percebe que "vita" aparece sempre em situções de morte ou de proximidade com a morte

15.49 " nam Scaevino dissoluta luxu mens et proinde vita somno languida" Scaevino dissolveu a mente num sonho lânguido. Eles está a descrever as circûnstâncias que os levam a querer matar Nero.






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