segunda-feira, 10 de outubro de 2011

PhD: Protocolo da 1ª sessão, 8 de Outubro.

Platão, Charmides: 163d: nome, definir, dar nomes, chamar, graus de clareza, distinções, unidade de sentido, denominar. Ἐμάνθανον τὸν λόγον, ὅτι τὰ οἰκεῖά τε καὶ τὰ αὑτοῦ ἀγαθὰ καλοίης, καὶ τὰς τῶν ἀγαθῶν ποιήσεις πράξεις· ἀλλ’ ἐγώ σοι τίθεσθαι μὲν τῶν ὀνομάτων δίδωμι ὅπῃ ἂν βούλῃ ἕκαστον· δήλου δὲ μόνον ἐφ’ ὅτι ἂν φέρῃς τοὔνομα ὅτι ἂν λέγῃς. νῦν οὖν πάλιν ἐξ ἀρχῆς σαφέστερον ὅρισαι· ἆρα τὴν τῶν ἀγαθῶν πρᾶξιν ἢ ποίησιν ἢ ὅπως σὺ βούλει ὀνομάζειν, ταύτην λέγεις σὺ σωφροσύνην εἶναι; (…) “Compreendi o sentido do que estavas a dizer, a saber que chamas ‘bens’ às propriedades (ou qualidades) e às características próprias de cada pessoa e que chamas aos efeitos produzidos pelos bens, ‘acções'. Mas eu concedo-te que dês o nome que tu quiseres. Tens é, apenas, de fazer ver a que sentido dás o nome que vieres a dar. Agora, tens de definir de modo mais claro as coisas, de novo a partir do princípio. Será, pois, que a acção dos bens ou a produção dos bens ou como quer que tu queiras designá-las é o que dizes ser a temperança?". O passo do Cármides ilustra a rotina socrática de aproximação a um determinado núcleo sentido. Trata-se aqui de saber a que se chama bem, bens, o que é bom. É possível a aplicação de qualquer nome que se quiser, desde que se torne claro a quê é que se dá nome. De tal sorte que é necessário “definir” mais claramente de novo a partir do princípio de que é que se trata quando se quer designar a acção ou o efeito produzido pelos bens: sôphrosynê, temperança. Há uma compreensão global do que se trata. Sócrates diz: compreendi o que estavas a dizer ou de que é que estavas a falar, ἐμάνθανον τὸν λόγον. Por um lado, o que são bens, por outro a que é que se chamam bens. Saber o que são bens é diferente de saber o que é “bens” como nome? “Bens”, ἀγαθά, é o nome de: as qualidades, τὰ οἰκεῖα, e as características próprias de cada um, τὰ αὑτοῦ. Um bem é uma possibilidade ou um potencial que produz efeitos. Os efeitos, resultados ou produções, são determinações do domínio técnico, pericial. Mutatis mutandis, as produções, ποιήσεις, do bem são acções, πράξεις. O que está envolvido no chamar nomes às coisas ou chamar as coisas pelo seu nome, καλεῖν? Formalmente, pode perceber-se a possibilidade de substituição de um nome por outro. Aqui, “Bens”, “qualidades”, “características do próprio” bem como “produções resultantes dos bens” e “acções” podem ser compreendidas como nomes da mesma coisa. As aspas referem os nomes das coisas, não as coisas nomeadas. Por outro lado, percebe-se que pode haver alterações de referência. O predicativo do sujeito “bens” pode ser o nome de qualidades ou a qualidade específica de coisas designadas de outra maneira. Há uma diferença entre dizer o nome de uma coisa e identificar a característica semântica irredutível na realidade que um nome tem. Há, por conseguinte, uma necessidade de operar a distinção entre o nome, τὸ ὄνομα, e o seu objecto: ἐφ’ ὅτι. No processo de distinção entre nome e nomeado compreende-se a actividade do ὀνομάζειν. Definir, ὅρισαι, é delimitar com maior grau de clareza o sentido visado por um nome. Não se trata de um esclarecimento de nomes através de expressões, mas de um aumento do grau de transparência com que se dissocia um nome do seu objecto. A operação visa distinguir entre ὄνομα e ἐφ‘ ὅτι. Ὀνομάζειν não é dar nomes, escolher nomes para as coisas, baptizá-las. Qualquer nome serve, como diz Sócrates. O nome é pela sua própria natureza intrínseca: nomen actionis. Isto é, o nome é nome quando nomeia, apresenta, manifesta, tira do plano de fundo e depõe à nossa frente: o nomeado. O ponto fundamental resido na possibilidade encerrada no facto da nomeação ou do baptismo. Definir horizontes é esclarecer o que transcende o nome, o ἐφ’ ὅτι. Apartar as águas entre nome e o que efectivamente está a ser dito, independentemente do nome, do idioma, da multiplicidade de designações e linguagens. O ἐφ’ ὅτι garante a nomeação, independentemente do nome escolhido para o baptismo. Cratylus: 383a4-b: A reificação da palavra. Pronúncia, voz, conteúdo acústico, percepção acústica, diferentes sons, partes de sons das palavras. A correcção ou justeza e a possibilidade de adequação. A essência ou natureza de cada coisa. Alargamento da consideração a outros conteúdos físicos do nome: táctil, sonoro, visual. O visado enquanto tal: referência. Independência do sentido da expressão linguística, da diferença de idioma, modificação do sentido, manutenção do referente, sentidos diferentes, identidade de referente, sentido sem referente, referente sem nome e com sentido.   {ΕΡΜ.} Κρατύλος φησὶν ὅδε, ὦ Σώκρατες, ὀνόματος ὀρθότητα εἶναι ἑκάστῳ τῶν ὄντων φύσει πεφυκυῖαν, καὶ οὐ (5) τοῦτο εἶναι ὄνομα ὃ ἄν τινες συνθέμενοι καλεῖν καλῶσι, τῆς αὑτῶν φωνῆς μόριον ἐπιφθεγγόμενοι, ἀλλὰ ὀρθότητά τινα τῶν (b.) ὀνομάτων πεφυκέναι καὶ Ἕλλησι καὶ βαρβάροις τὴν αὐτὴν ἅπασιν. No passo do Crátilo, estamos no meio da distinção entre nome, ὄνομα, e cada um dos entes, ἕκαστον τῶν ὄντων. Não chamamos uma coisa com uma coisa. Chamamo-la com um nome. Um nome é um ente diferente de um ente nomeado. Não importa para já ver a ontologia que está na base de uma tal distinção, nem saber se ao chamar-se um nome com um outro nome, não se estará a reificá-lo ou a considerá-lo de um outro ponto de vista. O ponto é que a distinção entre nome e ente pode ser tão extremada que perdemos o ponto de contacto entre ambos. O ponto de contacto apenas pode ser analisado no espaço lógico, em diferentes níveis e graus de aproximação. É possível perguntar pelo ente que é um nome. Neste sentido um nome como nome é analisado como o ἐφ‘ ὅτι. Há nomes de nomes e nomes de nomes de nomes, etc.. Ou seja, nomeações de 1ª e nésima ordem assentes na predicação. Por outro lado, pode interrogar-se o estatuto essencialmente nomeável do ente. O ente como ente é susceptível de nomeação. Como? O que há nele que o faz impor-se desde sempre a uma nomeação? O poder do nome nomear um ente e a capacidade de um ente se deixar nomear são aspectos diferentes de um mesmo fenómeno relacional. Há uma ὀρθότης inerente ao nome que é congruente por natureza a cada um dos entes, ὀνόματος ὀρθότητα εἶναι ἑκάστῳ τῶν ὄντων φύσει πεφυκυῖαν. A ὀρθότης permite compreender a possibilidade da equação nome e coisa, da sua adequação, correcção e justeza. É o que funda o caracter direccional de um nome para um ente e o facto de um ente se orientar por um nome. Nome e ente estão num mesmo horizonte tal que a priori estão envolvidos desde sempre um no outro. A transitividade de um para o outro cria uma tensão de sentido, digamos assim. Independentemente das línguas, diacrónica ou sincronicamente, dos idiomas, do uso da língua, subsiste sempre esta correlação de interdependência entre nome e coisa chamada. Ela é sempre a mesma entre gregos e bárbaros (ὀρθότητά τινα τῶν ὀνομάτων πεφυκέναι καὶ Ἕλλησι καὶ βαρβάροις τὴν αὐτὴν ἅπασιν.) Até pode suceder que uma coisa não tenha nome ou não se saiba como se chama, ou como se diz. Nessas circunstâncias percebe-se de forma mais aguda essa tensão. A linguagem de Platão aponta para uma compreensão orgânica a dar sentido à relação entre nome e ente. É de nascença, desde sempre, assim: φύσει, a ὀρθότης πεφυκυῖα, a adequação do nome congrui por natureza com cada um dos entes. Assim: um nome não é o que alguns chamam ‘chamar’, o elemento vocal ou acústico dos nomes, o que é proferido e é composto (οὐ τοῦτο εἶναι ὄνομα ὃ ἄν τινες συνθέμενοι καλεῖν καλῶσι, τῆς αὑτῶν φωνῆς μόριον ἐπιφθεγγόμενοι.). Se reduzirmos um nome a um conteúdo acústico, se é proferido com ou sem volume sonoro, as vogais, semivogais e consoantes de que é composto, o timbre, etc., curto circuitamos a capacidade própria que o nome tem ao catapultar-nos para o sentido. É o que sucede quando não ouvimos bem a palavra ou a repetimos vezes sem conta até ser apenas uma manifestação acústica, como os poemas decorados em língua estrangeira sem percebermos o sentido das palavras na infância. O mesmo sucede se reduzirmos uma palavra à textura Braille ou olharmos para a sua configuração visual. O processo de desconstrução permite reificar uma palavra. No limite, mesmo reconhecendo uma palavra como palavra ela perde a sua remissividade. Deixa de dizer o sentido. Euthydemus 277e-278a: níveis de clareza na obtenção de compreensão. Perceber e não perceber de algo, ser ou não ser entendido numa matéria, saber X ou saber de X. Enunciação nominal: um nome de uma sala onde não se esteve nunca, a indicação do nome de alguém sem nunca ter sido vista, o nome de um autor, o nome de um povo ou País. Ver fotos e filmes, ler sobre o assunto, estar lá, deixar-se lá ser vivido. O nome é transfigurado como a coisa. Alguns exemplos de superstição. “τὸ μανθάνειν ὅτι οἱ ἄνθρωποι καλοῦσι μὲν ἐπὶ τῷ τοιῷδε, ὅταν τις ἐξ ἀρχῆς μηδεμίαν ἔχων ἐπιστήμην περὶ πράγματός τινος ἔπειτα ὕστερον αὐτοῦ λαμβάνῃ τὴν ἐπιστήμην, καλοῦσι δὲ ταὐτὸν τοῦτο καὶ ἐπειδὰν ἔχων ἤδη τὴν ἐπιστήμην ταύτῃ τῇ ἐπιστήμῃ ταὐτὸν τοῦτο πρᾶγμα ἐπισκοπῇ ἢ πραττόμενον ἢ λεγόμενον—μᾶλλον μὲν αὐτὸ συνιέναι καλοῦσιν ἢ μανθάνειν, ἔστι δ’ ὅτε καὶ μανθάνειν—σὲ δὲ τοῦτο, ὡς οὗτοι ἐνδείκνυνται, διαλέληθεν, ταὐτὸν ὄνομα ἐπ’ ἀνθρώποις ἐναντίως ἔχουσιν κείμενον, τῷ τε εἰδότι καὶ ἐπὶ τῷ μή· Os homens chamam aprender, por um lado, a qualquer coisa deste género: quando alguém que ao princípio não tem nenhum saber acerca de uma determinada coisa mais tarde se apropria de um saber dessa coisa. Por outro lado dão o mesmo nome [aprender] à situação em que se encontra alguém que, mesmo depois de já ter adquirido saber examina com esse saber exactamente a mesma coisa seja quando é posta em prática seja está a ser enunciada— talvez chamem mais compreender do que aprender, mas também lhe chamam por vezes aprender. É isto mesmo que te está a escapar: o mesmo nome está a ser dado a homens diferentes que se encontram de modo diferente a respeito do saber, tanto aos sabem como aos que nada sabem.” Aprender, τὸ μανθάνειν, descreve a situação da passagem do limite extremo em que alguém se encontra no não saber de uma determinada coisa para o ouro limite extremo, mesmo que mínimo de a saber. O que se dá entre um momento e outro é da natureza dο λαμβάνειν, captar, agarrar ou receber: ἐπιστήμη. Num dado momento encontramo-nos: μηδεμίαν ἔχων1 ἐπιστήμην, sem nenhum saber. Num momento ulterior, ἔπειτα ὕστερον, encontramos com ἐπιστήμη. A relação complexa da situação de ignorância em que alguém se encontra relativamente ao saber de uma dada coisa, περὶ πράγματός τινος, é vista retrospectivamente a partir do momento em que esse mesmo alguém ‘apanhou’ algo acerca dessa mesma coisa. Nós dizemos em português: ‘ah!, estou a ver!’ quando se passa por esta experiência de evidência ou ganho de transparência acerca de algo. A experiência do “Ah!” corresponde a uma modificação modal do modo como nos relacionamos com um determinado sentido. O sentido ἐπιστήμη pode sem dúvida querer dizer ‘ciência’ tal como contemporaneamente entendemos termo. Mas o seu sentido coloquial permite uma outra estilização. A nossa relação com uma dada ciência e com o seu objecto é idêntica ao que se passa em outros domínios pré teóricos. Nós dizemos de alguém que sabe de uma determinada coisa, matéria ou ciência, que percebe ‘disso’, que é entendido ‘nisso’. Tal como alguém ‘conhece’ uma cidade, quando se sabe orientar nela, sabe onde se encontra o quê. A mesma experiência é referida noutros idiomas como a captação ou a sintonização por um posto que capta uma determinada frequência: I got it, ich habe’s kappiert, compreendi, estou a ver, etc., etc. A situação é muito mais complexa do que a descrita na relação entre um sujeito e um objecto, qualquer que seja o sentido dado a essa ‘relação’. ‘Aprender X’ não é apenas apreender X. É apreender o saber de X. Mais é estar sem posição relativamente a X e passar a estar numa posição relativamente a X. É passar de um momento quando não se tinha saber de X para o momento em que se recebeu o conhecimento de X. O mesmo X, o mesmo certo πρᾶγμα, tem o mesmo nome antes e depois, por exemplo. Mas a minha posição acerca do nome e da coisa nomeada alterou-se. A representação que se tem de X, o que se sabe de X, se entende ou percebe de X, o que se conhece de X alterou-se da noite para o dia. A descrição aqui parece ser a aquela em que nos encontramos a perceber algo do que nos está a ser dito e nós não estamos em circunstâncias de o perceber. O que está a ser dito, enquanto incompreensível, é maciçamente opaco, mas não deixa de ser justamente isso: um objecto a contornar, com o qual tem de se lidar, de que nada se percebe. Não se trata de um objecto que nada nos diz. Ora é esse estado de falta de transparência que é anulado pela captação do saber dele. Por exemplo, quando lemos sala 0.07, Piso 0, no ID. Sabemos que é na FCSH/UNL, na Av. De Berna, que não é nem a Torre A nem a Torre B, que é no ID, que não é no 1º nem em nenhum dos outros pisos, que é no piso 0, que não é a sala, 1, nem 2, nem…6, mas a 07. Mas apenas quando lá nos encontramos ao vivo, em directo, lá mesmo na presença sincronizada em carne e osso, nós lá na sala, é que vemos como ela é. O que antes era uma mera representação vazia passa a ficar preenchida. O mesmo se passa com os nomes dos autores dos livros que lemos e vemos uma fotografia deles e o seu aspecto ou os conhecemos em carne e osso, etc., etc.. Numa outra acepção, “aprender” corresponde à possibilidade de aprofundamento dos conhecimentos mínimos já obtidos acerca de qualquer coisa. Não importa aprofundar o que aqui está em causa. A esta situação regressaremos. Para Platão compreender é uma forma de aprender. Compreender uma coisa, aprender o que uma coisa é, é seguir o seu acontecer tal como se manifesta em acto bem como seguir a formulação do seu sentido. No limite: podemos dizer que quem não entende nada de um assunto ao adquirir compreensão desse assunto, aprende. Mas também dizemos que quem tem já conhecimento de um determinado assunto, pode aprender acerca desse assunto. O ponto sublinhado pelo passo é que tanto o que não vê, o que não sabe, como o que vê, sabe podem aprender. Ou seja: o mesmo nome é dado a homens que se encontram em situações absolutamente opostas relativamente a um mesmo acontecimento. Talvez possamos ter uma indicação do que possa querer dizer aprender, μανθάνειν, captar ou apropriar-se de um saber ou de conhecimento, ἐπιστήμην λαμβάνειν, compreender, συνιέναι, ser capaz de examinar, ἐπισκοπεῖν, um mesmo objecto, coisa ou conteúdo, πρᾶγμα τι, tanto quanto ao modo como se comporta na prática quanto como se deixa enunciar se lermos seguinte passo do Ménon, 96d6: Discute-se o sentido do bem e o que são homens bons. Em causa está não dizer o sentido. Ou melhor, compreender o sentido do que é o bem ou do que são homens bons significa saber como tornar-se bom, melhor ou excelente. Saber o que é ser bom é ter o poder de se transformar num homem bom ou de transformar outros homens em homens bons: “De que modo ocorre o processo pelo qual passaram os homens que se tornaram bons: τίς ἂν εἴη τρόπος τῆς γενέσεως τῶν ἀγαθῶν γιγνομένων.” “Temos de procurar por alguém que, pelo menos de um só modo, faça de nós homens melhores, ζητητέον ὅστις ἡμᾶς ἑνί γέ τῳ τρόπῳ βελτίους ποιήσει”, (8e-1). Aprender condicio sine qua non para ensinar, fazer: condicio sine qua non para saber. Quem ensina sabe. Quem faz sabe. Apropriação é prática. Compreender é fazer, é ficar com a disponibilidade de agir em situações possíveis. O domínio do sentido é a possibilidade da obtenção de compreensão. Compreender é ser no sentido de ser capaz, conseguir, transformar o que não compreendido em compreendido. Ser entendido numa dada matéria é conseguir resolver, a partir de dados mínimos, um problema. É o que temos em vista como falamos em domínio de competências, capacidade de execução, desempenho funções, exercício de cargos, realização de tarefas. Produz-se a alteração de uma perspectiva estática para a dinamização do sentido. A equivocidade de sentido implica a compreensão do mesmo, mas níveis diferentes de decisão. A compreensão nominal é a mesma, mas quem entende de uma matéria e quem não entende da matéria tem uma relação radicalmente diferente como o nomeado. Há vários modos como Platão tem isto em vista nas formas de relação de desformalização ou materialização de uma expressão consoante é baseada em excessos de sentido e de compreensão.2 Phaedon: 78d: Unidade de sentido. Diverso de instanciações. Princípios ontológicos da condição de verdade. Função e argumento, valor de verdade, sentido e referência. Reconhecimento da essência. Definição de essência e o pleonasmo redundante da definição do núcleo duro: em si, o próprio, o mesmo que é próprio sempre continuamente da mesma maneira a respeito das mesmas coisas e nunca de modo nenhum de outro modo: o em si como princípio activo de apropriação: a entidade como o que torna o ente no que é. Saber a sua consistência. 78d1 e sgs.: “αὐτὴ ἡ οὐσία ἧς λόγον δίδομεν τοῦ εἶναι καὶ ἐρωτῶντες καὶ ἀποκρινόμενοι, πότερον ὡσαύτως ἀεὶ ἔχει κατὰ ταὐτὰ ἢ ἄλλοτ’ ἄλλως; αὐτὸ τὸ ἴσον, αὐτὸ τὸ καλόν, αὐτὸ ἕκαστον ὃ ἔστιν, τὸ ὄν, μή ποτε μεταβολὴν καὶ ἡντινοῦν ἐνδέχεται; ἢ ἀεὶ αὐτῶν ἕκαστον ὃ ἔστι, μονοειδὲς ὂν αὐτὸ καθ’ αὑτό, ὡσαύτως κατὰ ταὐτὰ ἔχει καὶ οὐδέποτε οὐδαμῇ οὐδαμῶς ἀλλοίωσιν οὐδεμίαν ἐνδέχεται; “A essência em si de cujo ser damos sentido, ao fazer perguntas e ao dar respostas, será que se mantém do mesmo modo continuamente a mesma a respeito do mesmo ou de modo diferente de cada vez? Será que o igual em si, o belo em si, o em si singular que cada coisa é, o ente, não admite nunca qualquer espécie de transformação que seja? Ou será que cada coisa é continuamente o que é, tendo uma única forma que é a mesma em si de acordo consigo, existe sempre da mesma maneira e nunca admite em lado nenhum de nenhuma maneira nenhuma espécie de alteração?” Este passo contem a radicalização das distinções que temos vindo a acompanhar. Não se trata já da distinção ingénua entre nome e coisa, nem da identificação do elemento comum ao ente e ao nome, elemento comum que permite a simbiose natural entre ente e nome, a ὀρθότης, nem a radicalização extrema da possibilidade de aprender e portanto de perceber a diferença entre ἐπιστήμη e πρᾶγμα e as múltiplas formas de esclarecimento do sentido. O que Platão procura descrever é uma situação em que de cada vez sempre nos encontramos, uma situação que situa dois elementos relatos entre si, mas que não pode opô-los sob pena e impermeabilização e curto circuito entre si. Compreender como se comporta uma coisa e como ela é dita é de algum modo o mesmo. São versões diferentes do mesmo acontecimento. Ou seja, perceber algo acerca de alguma coisa, ser entendido nela e ter uma compreensão dela é ser capaz de transformar uma situação incompreensível num dado sistema de compreensão numa situação comrpeensível. Ou ser capaz de criar um ponto de vista a partir do qual se ganhe perspectiva para o que, sem perspectiva, não tem contornos aparentes, é apenas a maça opaca, resistente da ininteligibilidade. O estilo é impossível e saturado: a essência em si tem um λόγος τοῦ εἶναι. O sentido do ser da essência da coisa é obtido por um processo de tensão interrogativa, de perguntas feitas e respostas dadas. O processo não pode ser aqui explicado. Corresponde à “ideia” de lucidez de Platão. A alma humana não é um estigma sem extensão, não é o acontecimento pontual de uma perspectiva situada não se sabe onde, o lado negativo da realidade, descrito como não sendo realidade: não extenso, não corpóreo, não material. A alma é antes já sempre de cada vez o desdobramento em três frentes de si para si, através de si e para si. As dobras da lucidez permitem perguntar e responder, perguntar de novo e responder de novo. Os interlocutores são diferentes porque quem pergunta não está a dar uma resposta e uma resposta não é um enunciado avulso, mas é uma resposta a uma pergunta. Mas os interlocutores podem ser a mesma pessoa em estados diferentes. Quem pergunta sou eu. Mas eu posso fazer-me a pergunta a mim próprio. E a resposta que eu dou sou eu próprio que a dou a mim. Mas eu sou aquele em que se dá o perguntar e o responder já desde sempre no desdobramento complexo da tensão relativamente ao que está por saber. Mas, o decisivo, do ponto de vista analítico é que os descritores são advérbios e locuções adverbiais: μή ποτε, ὡσαύτως, ἀεὶ, κατὰ ταὐτά, ἄλλοτ’ ἄλλως, οὐδέποτε, οὐδαμῇ, οὐδαμῶς, demonstrativos e pronomes indefinidos αὐτή, αὐτό, ἕκαστον, ὅ, αὐτὸ καθ’ αὑτό. Cf. Phaedon, 78d1 e sgs.: “αὐτὴ ἡ οὐσία ἧς λόγον δίδομεν τοῦ εἶναι καὶ ἐρωτῶντες καὶ ἀποκρινόμενοι, πότερον ὡσαύτως ἀεὶ ἔχει κατὰ ταὐτὰ ἢ ἄλλοτ’ ἄλλως; αὐτὸ τὸ ἴσον, αὐτὸ τὸ καλόν, αὐτὸ ἕκαστον ὃ ἔστιν, τὸ ὄν, μή ποτε μεταβολὴν καὶ ἡντινοῦν ἐνδέχεται; ἢ ἀεὶ αὐτῶν ἕκαστον ὃ ἔστι, μονοειδὲς ὂν αὐτὸ καθ’ αὑτό, ὡσαύτως κατὰ ταὐτὰ ἔχει καὶ οὐδέποτε οὐδαμῇ οὐδαμῶς ἀλλοίωσιν οὐδεμίαν ἐνδέχεται; “A essência em si de cujo ser damos sentido, ao fazer perguntas e ao dar respostas, será que se mantém do mesmo modo continuamente a mesma a respeito do mesmo ou de modo diferente de cada vez? Será que o igual em si, o belo em si, o em si singular que cada coisa é, o ente, não admite nunca qualquer espécie de transformação que seja? Ou será que cada coisa é continuamente o que é, tendo uma única forma que é a mesma em si de acordo consigo, existe sempre da mesma maneira e nunca admite em lado nenhum de nenhuma maneira nenhuma espécie de alteração?” O que está a ser dito? Qual é o referente de tais enunciados?

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