sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PhD, 2ª sessão, 14/10/2011 (aparato e alinhamento), FCSH/UNL


PhD, 2ª sessão, 14/10/2011 (aparato e alinhamento), FCSH/UNL
António Caeiro

Iª Parte: Análise do Euthyphro de Platão. 
IIª Parte: os modelos da definição no Philebus e no Sophista (cf.: Syllabus para as referências.)

Bibliografia: Judson, Lindsay, “Carried Away in the Euthyphro”, in Definition in Greek Philosophy, ed. David Charles, OUP, 2010, (31-61) com um olho em Frege.
I. Euthyphro: Definição de sentido aponta para os limites de compreensão e de incompreensão. Compreender a saúde é compreender o que a faz deteriorar-se e o que a restabelece. A medicina visa o saudável e o patológico
Ἀλλ’ ἔγωγε φαίην ἂν τοῦτο εἶναι τὸ ὅσιον ὃ ἂν πάντες οἱ θεοὶ φιλῶσιν, καὶ τὸ ἐναντίον, ὃ ἂν πάντες θεοὶ μισῶσιν, ἀνόσιον. 9e1-3
Saber a essência de qualquer coisa não é saber o acidental dela: mas a sua forma, o aspecto essencial do rosto do sentido das coisas dado a ver por um ponto de vista que a põe sob perspectiva. Diferença entre ΕΙΔΟΣ e ΙΔΕΑ (Natorp, Platon’s Ideenlehre). O âmbito alargado do que X é e do seu o oposto. 
II. A multiplicidade de instanciações reconhecidas, não extrinsecamente, como substitutos de X ou exemplos de X numa relação vertical, mas a partir do acontecimento isolado de cada um, como se não fossem do mesmo género ou da mesma espécie mas indivíduos singulares na sua complexidade. 
Saturação da análise pela constituição de universos horizontais. O horizonte como limites opostos. A, E, I, O. Universal afirmativa, particular negativa, universal negativa, particular afirmativa: Contrárias (A—E), Sub-contrárias (I—O), subalternas (A—I, E—O) e contraditórias (A—O, E—I). 
{ΣΩ.} Μέμνησαι οὖν ὅτι οὐ τοῦτό σοι διεκελευόμην, ἕν τι ἢ δύο με διδάξαι τῶν πολλῶν ὁσίων, ἀλλ’ ἐκεῖνο αὐτὸ τὸ εἶδος ᾧ πάντα τὰ ὅσια ὅσιά ἐστιν; ἔφησθα γάρ που μιᾷ ἰδέᾳ Τά τε ἀνόσια ἀνόσια εἶναι καὶ τὰ ὅσια ὅσια· ἢ οὐ μνημονεύεις;
  {ΕΥΘ.} Ἔγωγε.
  {ΣΩ.} Ταύτην τοίνυν με αὐτὴν δίδαξον τὴν ἰδέαν τίς ποτέ ἐστιν, ἵνα εἰς ἐκείνην ἀποβλέπων καὶ χρώμενος αὐτῇ παραπράττῃ φῶ ὅσιον εἶναι, ὃ δ’ ἂν μὴ τοιοῦτον, μὴ φῶ. (Eyth., 6d9-e6).
III. Argumentação simétrica e causal. Descrição na voz passiva de F(x) irredutível à determinação “ousiológica” e X no sua estrutura intrínseca. Enunciação na voz activa. Variações de aspectos. A rede conceptual das relações complexas entre sujeito, predicado, predicativo, sujeito, predicado e agente da passiva. O aspecto verbal dos particípios passado e presente.
{ΣΩ.} Ἀλλ’ εἴ γε ταὐτὸν ἦν, ὦ φίλε Εὐθύφρων, τὸ θεοφιλὲς καὶ τὸ ὅσιον, εἰ μὲν διὰ τὸ ὅσιον εἶναι ἐφιλεῖτο τὸ ὅσιον, καὶ διὰ τὸ θεοφιλὲς εἶναι ἐφιλεῖτο ἂν τὸ θεοφιλές, εἰ δὲ διὰ τὸ φιλεῖσθαι ὑπὸ θεῶν τὸ θεοφιλὲς θεοφιλὲς ἦν, καὶ τὸ ὅσιον ἂν διὰ τὸ φιλεῖσθαι ὅσιον ἦν· νῦν δὲ ὁρᾷς ὅτι ἐναντίως ἔχετον, ὡς παντάπασιν ἑτέρω ὄντε ἀλλήλων. Τὸ μὲν γάρ, ὅτι φιλεῖται, ἐστὶν οἷον φιλεῖσθαι· τὸ δ’ ὅτι ἐστὶν οἷον φιλεῖσθαι, διὰ τοῦτο φιλεῖται. 
IV. Tensão interrogativa: o que é X? Nexo causal. Resposta pela passividade relativamente a um agente extrínseco. Determinação derivada. A capacidade, possibilidade e potencialidade como modificações qualitativas, quantitativas, “X é—F(…do/da: sufixo do particípio passado, adjectivo, aspecto nominal do verbo)”. A determinação activa do envolvimento do predicativo do sujeito com o sujeito: X é F(ens/nte, ndo: sufixo do particípio presente ou  gerúndio). A acção peculiar de X e a determinação verbal, adverbial, participial, adjectival. A re-interpretação do substantivo.  
“…κινδυνεύεις, ὦ Εὐθύφρων, ἐρωτώμενος τὸ ὅσιον ὅτι ποτ’ ἐστίν, τὴν μὲν οὐσίαν μοι αὐτοῦ οὐ βούλεσθαι δηλῶσαι, πάθος δέ τι περὶ αὐτοῦ λέγειν, ὅτι πέπονθε τοῦτο τὸ ὅσιον, φιλεῖσθαι ὑπὸ πάντων θεῶν· ὅτι δὲ ὄν, οὔπω εἶπες. εἰ οὖν σοι φίλον, μή με ἀποκρύψῃ ἀλλὰ πάλιν εἰπὲ ἐξ ἀρχῆς τί ποτε ὂν τὸ ὅσιον εἴτε φιλεῖται ὑπὸ θεῶν εἴτε ὁτιδὴ πάσχει—οὐ γὰρ περὶ τούτου διοισόμεθα—ἀλλ’ εἰπὲ προθύμως τί ἐστιν τό τε ὅσιον καὶ τὸ ἀνόσιον;”
  1. Ser piedoso=ser amado pelos Deuses.
  2. Ser piedoso depende de uma actividade dos Deuses. Os Deuses são os agentes da passiva. X é o sujeito mas de um enunciado na voz passiva. X é amado pelos Deuses=X é (feito) piedoso.
E contrario:
  1. Ser piedoso resulta de uma actividade qualitativa que define uma maneira de ser de X.
  2. Essa maneira de ser de X é reconhecida pelos Deuses. 
  3. Por isso, os deuses reagem a essa actividade. 
  4. É retroactiva e retrospectivamente que amam os piedosos.
“Ser piedoso” resulta de uma transformação passiva de X por ser amado pelos Deuses ou “ser piedoso” é activo. “Ser piedoso/Ficar piedoso”. Amar e ser amado. 
Impossibilidade de definição sem esclarecimento do que ser piedoso é: existir piedosamente. De outro modo, confusão entre voz activa e passiva, possibilidade radical de actuar ou de ser a essência que qualquer coisa é. Possibilidade afectável do sujeito da voz passiva. Curto circuito natural e ininteligibilidade. “Θεοφιλές não pode ser aquilo de que depend o ser piedoso e ao mesmo tempo ser o resultado do que é activamente piedoso.”
  1. Transformação dos particípios passados em adjectivos. Adjectivos substantivados. Perda do nexo com o agente da passiva. Ambiguidade da posição substantiva do sujeito.
VI. A causa reside na capacidade de afecção do sujeito da passiva.
1. Λέγομέν τι φερόμενον καὶ φέρον καὶ ἀγόμενον καὶ ἄγον καὶ ὁρώμενον καὶ ὁρῶν καὶ πάντα τὰ τοιαῦτα μανθάνεις ὅτι ἕτερα ἀλλήλων ἐστὶ καὶ ᾗ ἕτερα;
2. Οὐκοῦν καὶ φιλούμενόν τί ἐστιν καὶ τούτου ἕτερον τὸ φιλοῦν;
3. Λέγε δή μοι, πότερον τὸ φερόμενον διότι φέρεται φερόμενόν ἐστιν, ἢ δι’ ἄλλο τι; Καὶ τὸ ἀγόμενον δὴ διότι ἄγεται, καὶ τὸ ὁρώμενον διότι ὁρᾶται;
VII. Mudança de perspectiva: A causa reside no AGENS? A complexa relação da causa eficiente com o seu resultado e a sua expressão. Olhar retrospectivo a partir de Aristóteles. A peculiar enunciação do ὅθεν ἡ τῆς κινήσεως ἀρχή:— κινηθῆναι ΥΠΟ ΤΙΝΟΣ.  
  1. Οὐκ ἄρα διότι ὁρώμενόν γέ ἐστιν, διὰ τοῦτο ὁρᾶται, ἀλλὰ τὸ ἐναντίον διότι ὁρᾶται, διὰ τοῦτο ὁρώμενον
  2. Oὐδὲ διότι ἀγόμενόν ἐστιν, διὰ τοῦτο ἄγεται, ἀλλὰ διότι ἄγεται, διὰ τοῦτο ἀγόμενον
  3. Οὐδὲ διότι φερόμενον φέρεται, ἀλλὰ (10) διότι φέρεται φερόμενον
  4. Εἴ τι γίγνεται ἤ τι πάσχει, οὐχ ὅτι γιγνόμενόν ἐστι γίγνεται, ἀλλ’ ὅτι γίγνεται γιγνόμενόν ἐστιν· οὐδ’ ὅτι πάσχον ἐστὶ πάσχει, ἀλλ’ ὅτι πάσχει πάσχον ἐστίν·
  5. Οὐκοῦν καὶ τὸ φιλούμενον ἢ γιγνόμενόν τί ἐστιν ἢ πάσχον τι ὑπό του;
  6. Οὐχ ὅτι φιλούμενόν ἐστιν φιλεῖται ὑπὸ ὧν φιλεῖται, ἀλλ’ ὅτι (10) φιλεῖται φιλούμενον;
VIII. Destruição da argumentação a partir do carácter não analítico ou meramente circunstancial da relação entre ser piedoso e ser amado pelos deuses. 
  1. ἄλλο τι φιλεῖται ὑπὸ θεῶν πάντων, ὡς ὁ σὸς λόγος;
  2. Ἆρα διὰ τοῦτο, ὅτι ὅσιόν ἐστιν, ἢ δι’ ἄλλο τι;/ {ΕΥΘ.} Οὔκ, ἀλλὰ διὰ τοῦτο. 
  3. Διότι ἄρα ὅσιόν ἐστιν φιλεῖται, ἀλλ’ οὐχ ὅτι φιλεῖται, διὰ τοῦτο ὅσιόν ἐστιν;
  4. Ἀλλὰ μὲν δὴ διότι γε φιλεῖται ὑπὸ θεῶν φιλούμενόν ἐστι καὶ θεοφιλές.
  5. CONCLUSÃO: Οὐκ ἄρα τὸ θεοφιλὲς ὅσιόν ἐστιν, ὦ Εὐθύφρων, οὐδὲ τὸ ὅσιον θεοφιλές, ὡς σὺ λέγεις, ἀλλ’ ἕτερον τοῦτο τούτου.
IX. A coisa afectada. A afecção enquanto tal independentemente da coisa. Aponta para o ser da acção e não para a coisa agida ou afectada. O carro é a coisa levada// ser levado: implica ser guiado, empurrado, deslocado, etc.. Guiar ou empurrar é diferente do carro. Embora o carro possa ser guiado e empurrado, como a mota, ou uma pessoa (LJ, 34-35). Verbos passivos: ἔστι, ὑπὸ θεῶν φιλούμενον εἶναι. Φερόμενόν ἐστι (sujeito de uma actividade) diferente de φέρεται: ser objecto de uma actividade
X. Ideia relacional: o dedo é queimado pelo fogo. O fogo queima o dedo. Ser queimado pelo fogo é uma possibilidade do dedo. O fogo queimar é uma possibilidade do fogo a par de aquecer sem queimar ou dar luz, ou cozinhar. Mas o dedo não queima o fogo, logo o fogo não é queimado pelo dedo. O ser combustível é uma possibilidade de um objecto quando sob a acção do fogo. O fogo é o resultado de X ser pela oxidação e presença de uma fonte térmica. 
X é —ado por Y.
Y —ando X.
Particípio passivo com agente da passiva: adjectivo, epíteto de Algo. Nomen rei actae.
Particípio presente: sentido do ser um agir, accionar, intervencionar: forma nominal do verbo, nomen actionis.
XI. Acção e ser agido e Y que age e X que é agido. Diferenças complexas entre dedo, fogo, queimar, ser combustível. Inter-relação, interacção e interdependência de X e Y. Acentua-se diferentes aspectos do mesmo. Aponta-se para a definição enquanto: definiens. Um lado da equação implica uma correlação formal. Por outro lado um sentido assimétrico que identifica fenómenos completamente diferentes: dedo, carro, queimar, deslocar. Por outro lado, os agentes da acção independentemente dos pacientes da acção. A acção enquanto tal dependente do agente. O agido ou intervencionado não como agido ou intervencionado mas como a coisa que é também sem ser agido ou intervencionado desse modo determinado. Um carro estacionado e um carro a andar implicam relações diferentes com o agente. Um carro estacionado só pode andar se puder andar. E um carro a andar só pode estacionar se for arrumado e parado. Parar e arrumar são acções que implicam um condutor, mas não implicam necessariamente um carro. Implicam a relação entre veículos e tracção, entre X e Y, um homem, um deus, um carro ou um homem. X ser afectado por Y é diferente de X ser afectado e de Y a agir.

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