terça-feira, 2 de outubro de 2018

Filosofia da Linguagem: Handout. 6ª aula.

       REPRESENTAÇÃO
       30: 
       A representação (VORSTELLUNG) associada a um símbolo deve ser diferenciada da sua referência (BEDEUTUNG) e do seu sentido (SENTIDO). Se a referência de um símbolo é um objeto empírico passível de ser percebido, a representação que tenho dele é uma imagem interna (INNERES BILD) decorrente da memória de impressões sensíveis que tive e de ações, tanto internas quanto externas, executadas por mim. Essa imagem é geralmente embebida em sentimentos; a clareza das suas partes separadas é variada e oscilante. Nem sempre a mesma representação é associada ao mesmo sentido, nem mesmo para a mesma pessoa. A representação é subjetiva: a representação de uma pessoa não é a mesma que a de outra. Apenas isso já deixa claro que há uma multiplicidade de representações associadas ao mesmo sentido. Um pintor, um cavaleiro e um zoólogo irão provavelmente associar ao nome “Bucéfalo” representações bem diferentes. 
       30:VORSTELLUNG (Continuação)
Assim, enquanto não hesitamos em falar simplesmente do sentido (SINN), para sermos exatos em relação à representação (VORSTELLUNG) é preciso acrescentar a quem ela pertence e em que tempo se gera. Talvez pudéssemos dizer: assim como a uma mesma palavra uma pessoa pode associar uma representação e outra pessoa uma representação diferente, também uma pessoa pode associar a ela um sentido e outra pessoa um sentido diferente. Entretanto, a diferença então reside só no modo dessa conexão. 
       31: Radicalização da representação
Se duas pessoas representassem o mesmo (dasselbe vorstellen), cada uma teria ainda a sua própria representação (seine eigene Vorstellung). Algumas vezes é possível constatar a diferença entre as representações, e até mesmo a diferença das sensações (Empfindungen), de pessoas diferentes; mas uma comparação mais exata não é possível, porque não podemos ter essas representações juntas em uma mesma consciência. 
       31: Referência, objecto, representação
A referência de um nome próprio (Eigenname) é o próprio objeto (der Gegenstand selbst) que designamos com ele; a representação que então temos é totalmente subjetiva; entre os dois reside o sentido (Sinn), que não é subjetivo como a representação, mas por certo não é o próprio objeto. 
       Tode ti vs. logos tês ousias
       31: A lua
       Alguém observa a Lua através de um telescópio. Comparo a própria Luacom a referência; ela é o objeto da observação, que é veiculado pela (a) imagem realconstruída no interior do telescópio pela lenteobjetiva e pela (b) imagemna retinado observador. (a) Aquela (sc: imagem real) comparo com o sentido, (b) esta com a representação ou a intuição. (a)A imagem no telescópio é apenas parcial; ela é dependente do lugarmas ela é por certo objetiva, uma vez que vários observadores podem fazer uso dela. Pode-se mesmo orientar várias pessoas a fazer uso dela ao mesmo tempo. Mas em relação à (b) imagem na retina cada um teria a sua própria. Mesmo uma congruência geométrica quase não pode ser alcançada em função da diferença no formato dos olhos, e um ajuste perfeito seria impossível. Talvez a analogia possa ser levada adiante se supomos que a imagem na retina de A pode tornar-se visível para B; ou que o próprio A possa ver a imagem da sua retina no espelho. Poder-se-ia aqui mostrar como a própria representação pode ser tomada como objeto, mas nesse caso ela não seria para o observador (Betrachter) o que é imediatamente para quem representa  algo para si (Vorstellenden). Porém, seguir esta via seria um desvio muito grande. 
       32: Nome próprio, sentido, referência
Um nome próprio (palavra, símbolo, combinação de símbolos, expressão) exprime o seu sentido, refere-se a ou designa a sua referência. Exprimimos com um símbolo o seu sentido e designamos com ele a sua referência. 
Ein Eigenname (Wort, Zeichen, Zeichenverbindung, Ausdruck) drückt aus seinen Sinn, bedeutet oder bezeichnet seine Bedeutung. Wir drücken mit einem Zeichen dessen Sinn aus und bezeichnen mit ihm dessen Bedeutung. 
       32: Referência e valor de verdade
não é a nossa intenção falar da nossa representação da Lua, e que também não nos contentamos com o sentido quando dizemos “a Lua”; pressupomos, antes, uma referência (wir setzen eine Bedeutung voraus). Se quiséssemos tomar a frase “a Lua é menor do que a Terra” como dizendo algo a respeito da representação da Lua, estaríamos realmente a distorcer o seu sentido. Caso o falante queira dizer tal coisa, ele usaria como recurso a expressão “a minha representação da Lua”. 
       33-44: Pensamento, sentido e referência
Perguntamos agora sobre o sentido e a referência de uma frase declarativa completa. Tal frase contém um pensamento (Gedanken). Devemo sencarar esse pensamento como o seu sentido ou como a sua referência? […] O pensamento não pode ser então a referência da frase e deveremos antes concebê-lo como o seu sentido. A frase “Ulisses desembarcou em Ítaca dormindo profundamente” tem claramente um sentido. Porém, visto que é duvidoso se o nome que nela ocorre, “Ulisses”, tem uma referência, é também duvidoso se a frase completa tem uma referência. Em todo caso, é certo que uma pessoa, ao tomar seriamente a frase por verdadeira ou por falsa, também atribuirá uma referência ao nome “Ulisses”, e não apenas um sentido; pois é à referência desse nome que o predicado será atribuído ou negado. Quem não reconhece uma referência, não pode atribuir ou negar a ela um predicado. (Wer eine Bedeutung nicht anerkennt, der kann ihr ein Prädikat weder zu- noch absprechen.)

       35: Valor de verdade
Somosassim impelidos a aceitar o valor de verdade(Wahrheitswert) deumafrase como a suareferência.Porvalor de verdade de umafrase” entendoa circunstânciadeuma frase ser verdadeira ou serfalsa[…] Cadafrasedeclarativa,emrelaçãoà qual areferênciadas palavras érelevantedeveassim ser compreendida como um nomepróprioeasuareferênciacasoelaexista, éoVerdadeiro ou oFalso.[…]Masgostaria de deixar aqui esclarecidopelo menos que em cadajuízo– não importa quão óbvio eleseja – o passo do nível do pensamento para o nível dareferência  (do objetivo)-foidado.

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