Aula 4 –
07.Março.2012 (4ª) –
SPIRITUS
Acepções de SPIRITUS
Spiritus como Pneuma (Tò agiov pveuma) -Cruzamento com o pensamento semita, também
configurado nos gregos e latinos mas cuja raíz se diluiu, dando lugar a uma interpretação
metafísica/transcendente na actualidade.
Habitação do corpo – Diferente na maneira de dizer o que acontece. Concepção destruída na
modernidade. Cristianismo como recuperação do pensamento arcaico.
Raíz etimológica: Spiro – sopro; não visa um acontecimento de ar, mas de sopro;
Ideia de Auras (hauch –
sopro)
.
Compreensão de que na respiração havia uma comunhão com a totalidade da vida. Os
gregos pensavam que os elementos (ar, agúa, terra, fogo) eram modificações de um
acontecimento fluvial (Fédon de Platão).
.
O acesso à realidade não é restrito ao contacto táctil, mas há um contacto que
extrapola o contacto visual (não o ocular, como seria levar um murro no olho).
Contacto táctil, como descrito por Aristóteles, é idêntico ao contacto com a verdade (a
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verdade toca). Ideia básica de que todos os órgãos eram tácteis e que o próprio tacto
tem um campo de expansão para além de si.
.
Compreensão de que esta atmosfera espiritual não resulta de indução. Há antes uma
experiência de ser tudo ao mesmo tempo. Sentidos correspondem a uma
pormenorização, que pressupõe o acontecimento maciço do espírito que é a ponte de
contacto. É a própria abertura e o acesso, cuja forma é descrita como pulsação,
respiração – acontecimentos rítmicos que permitem o ciclo vital.
.
O humano não sabe o que é o vento em si. No pensamento antigo nem se discutia a
questão, mas eram interpretados como um mesmo acontecimento, da mesma
natureza. Se pensarmos na ira, na cólera, descritas por vezes como um “saltar a
tampa”, a compreensão desse acontecimento está determinada pela interpretação
desses conteúdos como próprios e exclusivos do humano, visto dentro de um espaço
estrutural hermético.
LEWIS & SHORT
B
2 An exhalation, smell, odor: spiritus unguenti suavis, Lucr. 3, 222: foedi odoris, Cels. 5, 26,
31 fin.: florum,Gell. 9, 4, 10: sulfuris, Pall. Aug. 9, 1; cf. Hor. C. 3, 11, 19.—
.
Apresentado como exalação ou odor em Horácio;
.
A fragrância é dada por uma exalação e pela presença de uma qualidade secundária,
mas presente na evocação dos deuses (exemplo – incenso)
3 (…) animantium vita tenetur, cibo, potione, spiritu, id. ib. 2, 54, 134: si spiritum ducit,
vivit, id. Inv. 1, 46, 86
.
O ar que é respirado
.
“A vida dos entes dotados de alma”
C. Sentido transferido
.
Sentido dinâmico -Ao falarmos da ideia de respiração perde-se a ideia de espírito.
Trata-se de um movimento dialéctico, implicando uma inspiração e um a expiração.
Forma de compreensão de acontecimentos contíguos (respiração, a pulsação), que
espantava os antigos, de absorver e expelir conteúdos essenciais à manutenção da
vida.
1.
Sufoco
2.
Espírito divino como inspiração (enthousiasmós): Ter presença de espírito ou ter
espírito, tido como uma configuração completamente distinta da anatomia.
Podemos estar apenas “de corpo presente”, estando alerta ou fugidos,
distantes, ausentes. haec fieri non possent, nisi ea uno divino et continuato
spiritu continerentur,by a divine inspiration, Cic. N. D. 2, 7, 19; 3, 11, 28;
inspiração divina na poesia
3.
Espírito da vida (o mesmo fenómeno da psique grego – Sopro vital) -Como
Homero descreve a morte dos combatentes: expiram pela última vez. Latinos
descreviam assim a morte, como se o espírito se espalhasse, se derramasse
como um líquido, pela última vez como um prazo que expira. Múltiplas
roupagens na vida até à última apresentação. eum spiritum, quem naturae
debeat, patriae reddere, Cic. Phil. 10, 10, 20; ideia de um espírito que abonda o
humano e regressa para onde veio, para a sua pátria;
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II.
.
Arrogância/Orgulho –
alguém inchou, tem o ego insuflado: uma forma de
acontecimento que identifica um estado psíquico.
.
Ovídio, 15ª Metamorfose (Pítagoras): ocupação do corpo; impulsos irascíveis como
formas de ocupação, de assalto; Horácio; avidus (i. e. ..
.π.........., the
desiring, coveting soul) ; [é o apetite que nos tem]
b. Transf.
2. Fantasma/ Geist -algo que se agita ou é agitado.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO -ANAIS DE TÁCITO
II.43
Contexto: Germânico consegue obter a vitória em partes da Germânia e consegue vencer a
rebelião dos soldados. Tibério julga que este tem intenções imperiais (apesar de ser filho
adoptado, não é filho de sangue, e Druso é seu filho de sangue.) Germânico não quer abdicar
do poder. Tibério esgota a sua popularidade e procura desgastar a fama de Germano. Piso
assassina Germano para ficar com poder na Ásia menor. Descrição da maneira de ser de Piso.
spiritus sed praeter paternos
uxoris quoque Plancinae nobilitate et opibus accendebatur
.
Espírito do pai que era irascível;
.
Espírito, como maneira de ser, herdado do pai: ingenium violentum; ignarum
obsequio;
.
Boa ou má influência (ideia fluvial)
.
Espírito configura a nossa relação com o outro, havendo ou não pessoas disponíveis;
.
Família como entidade transcendente, que não se esgota na contemporaneidade dos
membros que a compõe, incluindo antepassados, formando relações de descendência
.
Contaminação de um sopro por outro sopro, pela convivência que influencia
(confluência/apartamento de águas).
II.70
Contexto: Envenenamento de Germano.
Si effundendus spiritus sub oculis inimicorum foret
.
Escutou conspiração contra o próprio, percebeu com ira e não menos com medo;
.
Ideia de partida, exitus, abandono do espírito.
.
Effundendus: vida pensada como acontecimento fluvial, que se espalha;
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XIII.16
Contexto: Nero e Agripina (filha de Germânico). Agripina tem intenções imperiais e procura
matar Britânico. Nero envenena Britânico provocando uma aparente crise de epilepsia.
quod ita cunctos eius artus pervasit ut vox pariter et spiritus raperentur.
.
Veneno espalha-se por todo o seu corpo, de tal forma que a presença do espírito é
“raptada”
at Agrippinae is pavor, ea consternatio mentis, quamvis vultu premeretur, emicuit ut perinde
ignaram fuisse <atque> Octaviam sororem Britannici constiterit: quippe sibi supremum
auxilium ereptum et parricidii exemplum intellegebat.
.
Dá conta que pode ser posta fora de jogo por Nero; mostra face de horror
IV.12
Agrippinae quoque proximi inliciebantur pravis sermonibus tumidos[1] spiritus perstimulare.
.
Também o espírito de Agripina era estimulado a “encher” através de conversas
privadas com os seus próximos.
.
Carácter orgulhoso espicaçado ao ponto de inchar ainda mais – metáfora física, para
um acontecimento psicológico.
Ceterum laudante filium pro rostris Tiberio senatus populusque habitum ac voces dolentum
simulatione magis quam libens induebat
.
Habitum (pose/maneira de ser) revestido/armado de uma posição “simulatio”
quod principium favoris et mater Agrippina spem male tegens perniciem adceleravere.
.Descrição do modo como se provoca o outro -o caracácter do outro.
igitur contumaciam eius insectari, vetus Augustae odium, recentem Liviae conscientiam
exagitare, ut superbam fecunditate, subnixam popularibus studiis inhiare dominationi apud
Caesarem arguerent.
.
Insectari/inhiare/exagitare/perstimulare: Formas de compreensão de que o espírito se
trata de um acontecimento concreto intrínseco, com consequências extrínsecas.
IV.52
non eiusdem ait mactare divo Augusto victimas et posteros eius insectari. non in effigies mutas
divinum spiritum transfusum: se imaginem veram, caelesti sanguine ortam
.
Acusativo – resultado da acção, objecto da acção
.
Ideia de relação entre o espírito e uma noção de sopro ou líquido/ pressão
atmosférica, etc.
XIII.21
Contexto: Conspiração de Agripina, apoiada por Burru e Séneca. Estado em que ficam os
acusadores depois de Agripina ter falado.
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commotis qui aderant ultroque spiritus eius mitigantibus, conloquium filii exposcit, ubi nihil
pro innocentia, quasi diffideret, nec de beneficiis, quasi exprobraret, disseruit, sed ultionem in
delatores et praemia amicis obtinuit.
.
Não argumenta pela sua inocência, nem fala dos benefícios que o filho recebeu dela
para que não fosse acusada, mas obtém a vingança contra os delatores e o prémio
para os seus amigos.
XV.57-11
dit cervicem et corporis pondere conisa tenuem iam spiritum expressit, clariore exemplo
libertina mulier in tanta necessitate alienos ac prope ignotos protegendo, cum
.
“Comprime o sopro já ténue.
.
Suicídio/morte pensada como uma compressão do sopro para fora.
XV.64
Contexto: Poupada a morte à mulher de Séneca, Paulina por Nero para que não aumentasse o
ódio à sua crueldade. Morte de Séneca.
esset multum vitalis spiritus egestum
.
Modo como espírito estava enfraquecido, reflectindo-se numa palidez, uma
modificação da apresentação física, da aparência de um humano, resultado do eclipse
da alma.
XVI.24
Contexto: Morte de Trasea, denunciado como agente da conspiração contra Nero. Proibido de
vir ao senado fazer a sua defesa. Escreve carta a Nero.
quod ubi non evenit vultumque et spiritus et libertatem insontis ultro extimuit, vocari patres
iubet.
.
Temia ver/enfrentar um vulto/espírito
XVI.26
Contexto. ( ) Pretende defender Trasea.
cohibuit spiritus eius Thrasea ne vana et reo non profutura, intercessori exitiosa inciperet.
XVI.34
Via-se na cara dele que tinha estado a investigar coisas sérias
de natura animae et dissociatione spiritus corporis que inquirebat
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.
Investigação acerca da natureza da alma e da natureza da relação entre espírito e
corpo
.
Corpus/spiritus como entidades simultâneas e é a dissociação, (dissolvência –
termo
jurídico) que se trata do momento final.
.
Alma/pneuma
.
Diferença spiritus/anima –
relação com verbos.1. Spiritus com entidade supra
individual que flui continuamente; 2. Animus –
relacionado com fluidez, maneira de
ser. Spiritus descrito quando se espalha, ou inspira, como algo mais radical que o
Animus.
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