sábado, 15 de outubro de 2011

PhD: Protocolo da 2ª sessão, 15/10/2011. FCSH/UNL


Iª Parte: Análise do Euthyphro de Platão. 
Bibliografia: Judson, Lindsay, “Carried Away in the Euthyphro”, in Definition in Greek Philosophy, ed. David Charles, OUP, 2010, (31-61) com um olho em Frege.
Sumário: no confronto com um dado ente ficamos em contacto com o positivo dele. A posição de X é num primeiro momento absoluta: αὐτὸ καθ’ αὑτό, em e por si. Assim, os mais diversos entes, coisas, processos, estados de coisas, manifestações e objectos, ficamos depostos, aparentemente, no absoluto de cada um deles como que absolvidos não apenas dos outros entes que não o que visamos, mas também com a determinação positiva do que de cada vez são. A análise socrática permite perceber os contornos horizontais de sentido em que cada ente ocorre. O X que é um ente surge num horizonte estrutural a partir do qual é possível pensar o aspecto fundamental de sentido que esse ente tem. Assim, X surgem em tensão com as mais diversas possibilidades de ser X. Uma delas é a possibilidade de a identidade cronológica de X se perder e de X se tornar em não-X. Tal não quer dizer que X passa a ser A, B …, Z. Quer dizer que X só pode deixar de ser exactamente X, não converter-se em qualquer outra coisa. As mais diversas peças de roupa, de mobiliário, os alimentos, tudo em geral surge como o que é e ao mesmo tempo na tensão com a destruição ou a possibilidade de deixar de ser o que é. Quando os sapatos têm as solas gastas, quando o iogurte está fora de prazo, quando se esgotam as possibilidades do que quer que seja, mobília deitada ao lixo, electrodomésticos que estão danificados, estamos confrontados não com a transformação de entes X’x noutros entes Y e Z, mas em entes que deixaram de ter a essência de X que tinham. A possibilidade que ofereciam retrai-se:— faz-se sentir ainda na presença de X, mas como a possibilidade que eram na sua liberação agora perdida. Na posição de X está também a possibilidade intrínseca de X deixar de ser o X que é. Na posição de X está o não específico que priva X de ser o que é. Na doença, nega-se da forma particular como faz adoecer a saúde. Nos sapatos velhos e inutilizados faz-se sentir a possibilidade que oferecem quando não os podemos calçar. Na presença manifesta de X no horizonte está simultaneamente a possibilidade do desaparecimento de X, a sua ausência. Entre X ausente e X presente, entre X sendo o que é e X que deixou de ser o que era, encontram-se os contornos horizontais que são as condições de possibilidade do encontro do X de cada vez que se encontra em tensão com o seu não ser. O não ser de X, o não ser X, o desaparecimento de X para paradeiro desconhecido não anula a sua ΟΥΣΙΑ. Uma coisa é um horizonte ideal em que ela ocorre nas mais diversas formas de apresentação e manifestação. Nele está co-incluído a possibilidade da sua impossibilidade.
I. Euthyphro: O problema da definição de sentido aponta para os limites de compreensão e de incompreensão de um determinado fenómeno num determinado Horizonte. Por exemplo, compreender a “saúde” é compreender o que a faz deteriorar-se e o que a restabelece. A medicina visa o saudável e o patológico. A pergunta socrática no Eutifron é acerca do piedoso, τὸ ὅσιον. Não se visam apenas manifestações de piedade nem exemplos de pessoas piedosas. Visa-se também, em primeiro lugar, definir o horizonte em que encontramos fenómenos piedosos. Esse horizonte é definido em tensão com a alteridade divina. Se a justiça e os actos justos implicam uma relação com o outro, do mesmo modo que a coragem ocorre numa situação que mete medo e a sabedoria, numa em que se experimenta opacidade,— a piedade ocorre num horizonte em que o humano está exposto a um acesso à divindade. Mas mais: também nesse horizonte se definem acontecimentos de natureza impiedosa. O ímpio é o limite extremo de como nos relacionamos com a divindade, do mesmo modo que é relativamente a outrem que se define a injustiça, em face do medo que se reconhece o cobarde e na invasão da opacidade que se identifica o ignorante. A impiedade e a piedade são limites extremos que definem o horizonte no qual, ao arrostar com a alteridade divina, se podem encontrar ímpios e piedosos.  
Ἀλλ’ ἔγωγε φαίην ἂν τοῦτο εἶναι τὸ ὅσιον ὃ ἂν πάντες οἱ θεοὶ φιλῶσιν, καὶ τὸ ἐναντίον, ὃ ἂν πάντες θεοὶ μισῶσιν, ἀνόσιον. 9e1-3
Saber a essência de qualquer coisa não é saber o acidental dela: mas a sua forma: o seu aspecto essencial, o rosto do sentido das coisas, apenas dado a ver para um ponto de vista que a põe sob perspectiva. Diferença entre ΕΙΔΟΣ e ΙΔΕΑ (Natorp, Platon’s Ideenlehre). O âmbito alargado do que X é e do seu o oposto. 
Qualquer que seja a ocorrência de um determinado fenómeno, com determinadas características, é possível identificá-lo num horizonte de sentido com limites: um positivo e o outro a privação desse positivo. É neste quadro formal de sentido horizontal que encontramos os mais diversos matizes de piedade e de impiedade e os mais diversos exemplos de homens piedosos e ímpios. O horizonte é definido pela relação entre um humano e a possibilidade de Deus.
II. A multiplicidade de instanciações reconhecidas, não extrinsecamente, como substitutos de X ou exemplos de X numa relação vertical, mas a partir do acontecimento isolado de cada um, como se não fossem do mesmo género ou da mesma espécie mas indivíduos singulares na sua complexidade. 
Saturação da análise pela constituição de universos horizontais. O horizonte definido por limites opostos. A, E, I, O. Universal afirmativa, particular negativa, universal negativa, particular afirmativa: Contrárias (A—E), Sub-contrárias (I—O), subalternas (A—I, E—O) e contraditórias (A—O, E—I). 
{ΣΩ.} Μέμνησαι οὖν ὅτι οὐ τοῦτό σοι διεκελευόμην, ἕν τι ἢ δύο με διδάξαι τῶν πολλῶν ὁσίων, ἀλλ’ ἐκεῖνο αὐτὸ τὸ εἶδος, ᾧ πάντα τὰ ὅσια ὅσιά ἐστιν; ἔφησθα γάρ που μιᾷ ἰδέᾳ τά τε ἀνόσια ἀνόσια εἶναι καὶ τὰ ὅσια ὅσια· ἢ οὐ μνημονεύεις;
  {ΕΥΘ.} Ἔγωγε.
  {ΣΩ.} Ταύτην τοίνυν με αὐτὴν δίδαξον τὴν ἰδέαν τίς ποτέ ἐστιν, ἵνα εἰς ἐκείνην ἀποβλέπων καὶ χρώμενος αὐτῇ παραπράττῃ φῶ ὅσιον εἶναι, ὃ δ’ ἂν μὴ τοιοῦτον, μὴ φῶ. (Eyth., 6d9-e6).
ᾯ dativo de instrumental de causa. 
III. Argumentação simétrica e causal. Descrição na voz passiva de F(x) irredutível à determinação “ousiológica” e X no sua estrutura intrínseca. Enunciação na voz activa. Variações de aspectos. A rede conceptual das relações complexas entre sujeito, predicado, predicativo, sujeito, predicado e agente da passiva. O aspecto verbal dos particípios passado e presente.
{ΣΩ.} Ἀλλ’ εἴ γε ταὐτὸν ἦν, ὦ φίλε Εὐθύφρων, τὸ θεοφιλὲς καὶ τὸ ὅσιον, εἰ μὲν διὰ τὸ ὅσιον εἶναι ἐφιλεῖτο τὸ ὅσιον, καὶ διὰ τὸ θεοφιλὲς εἶναι ἐφιλεῖτο ἂν τὸ θεοφιλές, εἰ δὲ διὰ τὸ φιλεῖσθαι ὑπὸ θεῶν τὸ θεοφιλὲς θεοφιλὲς ἦν, καὶ τὸ ὅσιον ἂν διὰ τὸ φιλεῖσθαι ὅσιον ἦν· νῦν δὲ ὁρᾷς ὅτι ἐναντίως ἔχετον, ὡς παντάπασιν ἑτέρω ὄντε ἀλλήλων. Τὸ μὲν γάρ, ὅτι φιλεῖται, ἐστὶν οἷον φιλεῖσθαι· τὸ δ’ ὅτι ἐστὶν οἷον φιλεῖσθαι, διὰ τοῦτο φιλεῖται. 
IV. Tensão interrogativa: o que é X? Nexo causal. Resposta pela passividade relativamente a um agente extrínseco. Determinação derivada. A capacidade, possibilidade e potencialidade como modificações qualitativas, quantitativas, “X é—F(…do/da: sufixo do particípio passado, adjectivo, aspecto nominal do verbo)”. A determinação activa do envolvimento do predicativo do sujeito com o sujeito: X é F(ens/nte, ndo: sufixo do particípio presente ou gerúndio). A acção peculiar de X e a determinação verbal, adverbial, participial, adjectival. A re-interpretação do substantivo.  
“…κινδυνεύεις, ὦ Εὐθύφρων, ἐρωτώμενος τὸ ὅσιον ὅτι ποτ’ ἐστίν, τὴν μὲν οὐσίαν μοι αὐτοῦ οὐ βούλεσθαι δηλῶσαι, πάθος δέ τι περὶ αὐτοῦ λέγειν, ὅτι πέπονθε τοῦτο τὸ ὅσιον, φιλεῖσθαι ὑπὸ πάντων θεῶν· ὅτι δὲ ὄν, οὔπω εἶπες. εἰ οὖν σοι φίλον, μή με ἀποκρύψῃ ἀλλὰ πάλιν εἰπὲ ἐξ ἀρχῆς τί ποτε ὂν τὸ ὅσιον εἴτε φιλεῖται ὑπὸ θεῶν εἴτε ὁτιδὴ πάσχει—οὐ γὰρ περὶ τούτου διοισόμεθα—ἀλλ’ εἰπὲ προθύμως τί ἐστιν τό τε ὅσιον καὶ τὸ ἀνόσιον;”
  1. Ser piedoso=ser amado pelos Deuses.
  2. Ser piedoso depende de uma actividade dos Deuses. Os Deuses são os agentes da passiva. X é o sujeito mas de um enunciado na voz passiva. X é amado pelos Deuses=X é (feito) piedoso.
E contrario:
  1. Ser piedoso resulta de uma actividade qualitativa que define uma maneira de ser de X.
  2. Essa maneira de ser de X é reconhecida pelos Deuses. 
  3. Por isso, os deuses reagem a essa actividade. 
  4. É retroactiva e retrospectivamente que amam os piedosos.
“Ser piedoso” resulta de uma transformação passiva de X por ser amado pelos Deuses ou “ser piedoso” é activo. “Ser piedoso/Ficar piedoso”. Amar e ser amado. 
Impossibilidade de definição sem esclarecimento do que ser piedoso é: existir piedosamente. De outro modo, confusão entre voz activa e passiva, possibilidade radical de actuar ou de ser a essência que qualquer coisa é. Possibilidade afectável do sujeito da voz passiva. Curto circuito natural e ininteligibilidade. “Θεοφιλές não pode ser aquilo de que depende o ser piedoso e ao mesmo tempo ser o resultado do que é activamente piedoso.”
  1. Transformação dos particípios passados em adjectivos. Adjectivos substantivados. Perda do nexo com o agente da passiva. Ambiguidade da posição substantiva do sujeito.
VI. A causa reside na capacidade de afecção do sujeito da passiva.
1. Λέγομέν τι φερόμενον καὶ φέρον καὶ ἀγόμενον καὶ ἄγον καὶ ὁρώμενον καὶ ὁρῶν καὶ πάντα τὰ τοιαῦτα μανθάνεις ὅτι ἕτερα ἀλλήλων ἐστὶ καὶ ᾗ ἕτερα;
2. Οὐκοῦν καὶ φιλούμενόν τί ἐστιν καὶ τούτου ἕτερον τὸ φιλοῦν;
3. Λέγε δή μοι, πότερον τὸ φερόμενον διότι φέρεται φερόμενόν ἐστιν, ἢ δι’ ἄλλο τι; Καὶ τὸ ἀγόμενον δὴ διότι ἄγεται, καὶ τὸ ὁρώμενον διότι ὁρᾶται;
X é modificado pelo agente, pela acção relativamente à qual é objecto (pela qual passa, recebe o efeito, a repercussão, a intervenção, é paciente:— sofre a acção). Um carro, uma carroça, uma bicicleta, uma motociclo, etc., etc.. São Xxx. Vistos na possibilidade da acção perdem o seu estatuto autónomo e são compreendidos única e exclusivamente como terminais, objectos ou campos de aplicação de intervenção por agentes que os põem a trabalhar, manipulam, conduzem. Compreendido como independente de intervenção e compreendido como dependente de intervenção. O mesmo se passa com o visto. Qualquer “visto” é visto porque depende do ver que o vê. Um copo é em si fora do âmbito da acção que o ver surte sobre ele. Ao ser determinado como copo visto, há um acrescento sintético que o converte numa entidade existente como entidade vista sob a dependência exclusiva de uma possibilidade accionada pelo agente do ver que vê o copo e por isso o converte num copo visto. O que se vê depende do acto da visão. É porque X é visto pelo ver que X é algo que é visto. Não é um visto em si. É porque X está a ser conduzido que é algo que é conduzido. É porque um agente intervém em X de uma determinada maneira que X ganha essa qualidade. Tudo o que é visível tem aparentemente um estatuto independente do sentido que tem e da compreensão ou não desse sentido. Quando o X que é o que é passa a ser visto como o X que está a ser visto por Y, o sentido: ser visto é conferido pelo Y que vê X (visto), pelo Y vendo X. X deixa de estar aparentemente incólume para passar a ficar sob a acção à distância e dependente do controlo remoto que mergulha no seu raio de acção o horizonte da visibilidade e exclui objectos que ficam fora desse campo.
Hipótese de alargamento: o que é, o que tem sido, o ser como o que faz ser, investe ser. Defeito da doação de ser e recondução da doação de ser, existência real, não existência real mas existência irreal, modos de existência, ser provável, improvável, não ser provável, não ser improvável, ser possível, ser impossível, não ser possível, não ser impossível, ser necessário, não ser necessário. A semântica do verbo ser como doação da presença que torna o presente sob um determinado aspecto cria um horizonte. Esse horizonte criado transforma os entes que nele surgem. Os diferentes horizontes mergulham os diferentes entes nesse horizonte no espaço de sentido peculiar em que inerem. X que é o que tem sido, modificado pela doação de ser que o faz ser o que é. O ente existe pelo ser. O que faz ser um ente, o que manifesta um ente, o que produz, cria, traz um ente à presença é o acto que age sobre cada entidade e que a põe no mundo.    
VII. Mudança de perspectiva: A causa reside no AGENS? A complexa relação da causa eficiente com o seu resultado e a sua expressão. Olhar retrospectivo a partir de Aristóteles. A peculiar enunciação do ὅθεν ἡ τῆς κινήσεως ἀρχή:— κινηθῆναι ΥΠΟ ΤΙΝΟΣ.  
  1. Οὐκ ἄρα διότι ὁρώμενόν γέ ἐστιν, διὰ τοῦτο ὁρᾶται, ἀλλὰ τὸ ἐναντίον διότι ὁρᾶται, διὰ τοῦτο ὁρώμενον: X ser visto resulta de uma possibilidade de X. Mas a possibilidade pode ficar inerte. X escondido, X em paradeiro incerto, X tapado, desaparecido não deixa de ser X, eventualmente perfilado pelos contornos da ausência mais vincados do que quando X está à mão. X visto altera-se não por si, mas pela afectação a um horizonte de visão. Alienação de X e passagem a X sob dependência do ver X. Porque é visto por um ver, X não apenas é X, mas é X que está a ser visto.  
  2. Oὐδὲ διότι ἀγόμενόν ἐστιν, διὰ τοῦτο ἄγεται, ἀλλὰ διότι ἄγεται, διὰ τοῦτο ἀγόμενον. O mesmo se passa para campos de intervenção que alteram o sujeito dessa intervenção. Formas de pegar no mundo, manipular objectos, accionar mecanismos, ligar aparelhos, mexer-se bem em determinados domínios, ser versado em matérias, utilizar, rentabilizar, usar, empregar, aplicar. Formas de ser no mundo, estar nele, ir a…, ter de ir a… para executar tarefas, exercer competências, desempenhar funções, fazer trabalhos, resolver assuntos, problemas: formas específicas de incumbência. Meio ou instrumento, porquê, com quem, para quê, com que finalidade. Ir a um sítio para… com o intuito. Por causa de… com o objectivo de…
  3. Οὐδὲ διότι φερόμενον φέρεται, ἀλλὰ (10) διότι φέρεται φερόμενον
  4. Εἴ τι γίγνεται ἤ τι πάσχει, οὐχ ὅτι γιγνόμενόν ἐστι γίγνεται, ἀλλ’ ὅτι γίγνεται γιγνόμενόν ἐστιν· οὐδ’ ὅτι πάσχον ἐστὶ πάσχει, ἀλλ’ ὅτι πάσχει πάσχον ἐστίν· A formulação geral: porque passou a ser, porque está a ser, mas não por geração espontânea. Devido ao agente do ser: o que faz ser, o que produz, o agente que põe em acto o que quer que seja. Qual é o espaço de manobra para se compreender o campo específico de liberação de qualquer coisa ser o que é. A liberação que transforma X. A partir do seu ser inerte, sem utilidade, sem uso, sem compreender-se o sentido: para quê ou o que é: num X activo, útil, a ser usado, empregue, em funcionamento, compreendido no seu sentido, a ser o que é. O horizonte de funcionalidade: em funcionamento, fora de serviço, disfuncional ou avariado dão os limites em que uma coisa é compreendida: a eficácia ou ineficácia como a realidade que libera uma coisa para ser no seu campo o que é ou a inibe: estrago, dano, prejuízo, mau funcionamento, disfunção. Compreensão radical do que é no exercício da inteligibilidade. Compreensão do sentido: transformação da compreensão da ininteligibilidade do sentido, incompreensão da ininteligibilidade ou inteligibilidade do sentido. Relação com o sentido na possibilidade. Reunidas as condições para se compreender o que é X: poder explicá-lo, poder defini-lo, poder arrancá-lo à opacidade inerte que o faz implodir sem compreender a sua utilidade, modo de ser posto a funcionar, a sua lógica intrínseca. 
  1. Οὐκοῦν καὶ τὸ φιλούμενον ἢ γιγνόμενόν τί ἐστιν ἢ πάσχον τι ὑπό του;
  2. Οὐχ ὅτι φιλούμενόν ἐστιν φιλεῖται ὑπὸ ὧν φιλεῖται, ἀλλ’ ὅτι (10) φιλεῖται φιλούμενον;
VIII. Destruição da argumentação a partir do carácter não analítico ou meramente circunstancial da relação entre ser piedoso e ser amado pelos deuses. 
  1. ἄλλο τι φιλεῖται ὑπὸ θεῶν πάντων, ὡς ὁ σὸς λόγος;
  2. Ἆρα διὰ τοῦτο, ὅτι ὅσιόν ἐστιν, ἢ δι’ ἄλλο τι;/ {ΕΥΘ.} Οὔκ, ἀλλὰ διὰ τοῦτο. 
  3. Διότι ἄρα ὅσιόν ἐστιν φιλεῖται, ἀλλ’ οὐχ ὅτι φιλεῖται, διὰ τοῦτο ὅσιόν ἐστιν;
  4. Ἀλλὰ μὲν δὴ διότι γε φιλεῖται ὑπὸ θεῶν φιλούμενόν ἐστι καὶ θεοφιλές.
  5. CONCLUSÃO: Οὐκ ἄρα τὸ θεοφιλὲς ὅσιόν ἐστιν, ὦ Εὐθύφρων, οὐδὲ τὸ ὅσιον θεοφιλές, ὡς σὺ λέγεις, ἀλλ’ ἕτερον τοῦτο τούτου.
A possibilidade intrínseca de qualquer coisa ser o que é. Pelo quê é que qualquer coisa vem a ser o que é?
IX. A coisa afectada. A afecção enquanto tal independentemente da coisa. Aponta para o ser da acção e não para a coisa agida ou afectada. O carro é a coisa levada// ser levado: implica ser guiado, empurrado, deslocado, etc.. Guiar ou empurrar é diferente do carro. Embora o carro possa ser guiado e empurrado, como a mota, ou uma pessoa (LJ, 34-35). Verbos passivos: ἔστι, ὑπὸ θεῶν φιλούμενον εἶναι. Φερόμενόν ἐστι (sujeito de uma actividade) diferente de φέρεται: ser objecto de uma actividade
X. Ideia relacional: o dedo é queimado pelo fogo. O fogo queima o dedo. Ser queimado pelo fogo é uma possibilidade do dedo. O fogo queimar é uma possibilidade do fogo a par de aquecer sem queimar ou dar luz, ou cozinhar. Mas o dedo não queima o fogo, logo o fogo não é queimado pelo dedo. O ser combustível é uma possibilidade de um objecto quando sob a acção do fogo. O fogo é o resultado de X ser pela oxidação e presença de uma fonte térmica. 
X é —ado por Y.
Y —ando X.
Particípio passivo com agente da passiva: adjectivo, epíteto de Algo. Nomen rei actae.
Particípio presente: sentido do ser um agir, accionar, intervencionar: forma nominal do verbo, nomen actionis.
XI. Acção e ser agido e Y que age e X que é agido. Diferenças complexas entre dedo, fogo, queimar, ser combustível. Inter-relação, interacção e interdependência de X e Y. Acentua-se diferentes aspectos do mesmo. Aponta-se para a definição enquanto: definiens. Um lado da equação implica uma correlação formal. Por outro lado um sentido assimétrico que identifica fenómenos completamente diferentes: dedo, carro, queimar, deslocar. Por outro lado, os agentes da acção independentemente dos pacientes da acção. A acção enquanto tal dependente do agente. O agido ou intervencionado não como agido ou intervencionado mas como a coisa que é também sem ser agido ou intervencionado desse modo determinado. Um carro estacionado e um carro a andar implicam relações diferentes com o agente. Um carro estacionado só pode andar se puder andar. E um carro a andar só pode estacionar se for arrumado e parado. Parar e arrumar são acções que implicam um condutor, mas não implicam necessariamente um carro. Implicam a relação entre veículos e tracção, entre X e Y, um homem, um deus, um carro ou um homem. X ser afectado por Y é diferente de X ser afectado e de Y a agir.

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