quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ANTIGA. Protocolo: fcsh/ unl, 20 de Outubro, 2011.


Para o isolamento do fenómeno κίνησις, Aristóteles aponta para a distinção modal entre ser num cumprimento ou na completude da possibilidade intrínseca ou ser em possibilidade. Há certos entes que existem apenas no cumprimento das suas possibilidades intrínsecas outros que estão envolvidos com as duas características. Ou seja, a possibilidade intrínseca de um ente e o cumprimento intrínseco dessa possibilidade estabelecem uma tensão no ente. Um ente passível de concretizar o seu potencial e tornar-se concretamente no que pode ser. Actualiza-se, passa a ser em acto essa possibilidade. (ἔστι δὴ [τι] τὸ μὲν ἐντελεχείᾳ μόνον, τὸ δὲ δυνάμει καὶ ἐντελεχείᾳ). 


Há uma diferença entre ἐνέργεια e ἐντελέχεια dentro da identidade estrutural. A expressão ἐν ἔργῳ e ἐν τέλῳ correspondem em muito a uma mesma ideia de realização, pôr em prática, dar início a, começar, pôr-(se) a trabalhar, cumprir(-se), realizar-se. Ross traduz por “to actualize” no sentido técnico de transformação de uma potência num acto que resulta de um agir ou fazer determinados. A ἐνέργεια caracteriza o lado actual da realidade, no sentido em que é a eficácia contínua da transição do possível para o concreto, o accionamento contínuo da actualidade. 
Uma realidade que fosse exclusivamente no cumprimento de si, na execução contínua de possibilidades, estaria sempre continuamente a ser o que tem sido da perspectiva do τόδε τι, tal como do τοσόνδε e do τοιόνδε. Uma realidade envolvida nos deus processos admite a transição entre opostos de um mesmo substrato. A realização de um neutraliza a possibilidade do outro. A passagem ou conversão de uma possibilidade na realidade específica que lhe corresponde intrinsecamente é a mudança. A κίνησις é descrita como o processo que faz transformar δύναμις em ἐντελέχεια. As diversas κινήσεις correspondem aos processos concretos de conversão das δυνάμεις específicas nas ἐντελέχειαι correspondentes. 


Podemos pensar na concretização do dia que ontem ainda era amanhã no dia de hoje e na do dia de ante-ontem no de ontem como a forma básica de constituição de realidade. 


Assim, δύναμις e ἐνέργεια corresponde às formas específicas como se pensa em geral a tensão entre o possível e o actual ou como a impotência impede a actualização da potência que lhe corresponde. Na ligação mais ou menos lassa entre possibilidade e realidade, ou conversão da possibilidade em realidade, pensa-se o meio que a realidade encontra para vir a ser a partir do que não foi. Mas na mudança categorial está pensada a forma específica do realizar, concretizar, a possibilidade específica de que de cada vez é o caso. 
Uma vez mais se vê como é particularmente relevante a categoria da relação, πρός τι,  uma vez  que permite uma descrição da mudança não apenas na medida em que a mudança é considerada como nomen rei acte, mas também como nomen actionis. A relação entre o que está em ‘agenda’ e o que depois fica em ‘acta’, corresponde à acção do ser da vida que transita regularmente do que tem de acontecer para o que é acontecido. Entre o que pode acontecer e o que é dado por determinado residem operadores apassivantes: a vida é vivida, o tempo é feito passar, há mudança. Percebe-se a descrição do fenómeno da mudança como o que ocorre quando algo muda em algo, ou algo muda, mas também como a intervenção do agente que faz mudar algo, o agente da mudança. A categoria da relação permite compreender um mesmo acontecimento na superficialidade do seu ser e também o envolvimento de estruturas agentes da mudança. No facto da mudança pode ver-se em geral o fenómeno da concretização ou da realização, das coisas tornarem-se realidade. Há um elemento produtivo, activo, agente: τὸ δὲ κατὰ τὸ ποιητικὸν e esse elemento é plenamente desenvolvido no παθητικόν correspondente. O elemento produtor está no momento da produção remetido ao seu elemento passivo correspondente, ao objecto específico da sua acção e vice-versa. 


Esta coordenação ou subordinação corresponde a uma específica forma de sincronização. Um remete para o outro, mesmo que não sejam percebidos na sua relação de fundamento a fundamentado, agente a objecto de acção, causa eficiente e eficácia do efeito. Mas a intervenção de um no outro é o que provoca mudança. Há em geral uma interpretação do elemento produtor como agente da mudança, o mutante: καὶ ὅλως κινητικόν e também o objecto do elemento passivo objecto susceptível de intervenção como mutável, susceptível de mudança, capaz de mudança, a possibilidade da mudança: o κινητόν é δύναμις enquanto não mudado. A expressão completa é assim: o agente da mudnaça é agente da mudança que actua sobre o seu mutável específico e o mutável é mutaável por um único agente da mudança: τὸ γὰρ κινητικὸν κινητικὸν τοῦ κινητοῦ καὶ τὸ κινητὸν κινητὸν ὑπὸ τοῦ κινητικοῦ. 1. τὸ γὰρ κινητικὸν: sujeito, agente, produtor, pertence ao mutável ou susceptível da mudança concreta de que está revestido, κινητικὸν τοῦ κινητοῦ (genitivo objectivo). 2. τὸ κινητὸν κινητὸν ὑπὸ τοῦ κινητικοῦ. O mutável é mutável pelo mutante. O mutante muda o mutável.  
[Nota: Se não há mudança fora das coisas que são mudadas: a mudança é não independente das coisa: οὐκ ἔστι δὲ κίνησις παρὰ τὰ πράγματα. Percebe-se que não há nada em comum entre cada uma destas mudanças que possa ser  determinado abstractamente. O elemento comum da mudança não é visível a olhos nus. Apenas pode ser determinado nas próprias coisas em que acontece de forma concreta: κοινὸν δ’ ἐπὶ τούτων οὐδὲν ἔστι λαβεῖν, ὡς φαμέν, ὃ οὔτε τόδε οὔτε πο- (35)/(201a.) σὸν οὔτε ποιὸν οὔτε τῶν ἄλλων κατηγορημάτων οὐθέν· ὥστ’ οὐδὲ κίνησις οὐδὲ μεταβολὴ οὐθενὸς ἔσται παρὰ τὰ εἰρημένα, μη-/ θενός γε ὄντος παρὰ τὰ εἰρημένα.] 
[Nota 1: Há uma diferença entre κίνησις e μεταβολή. Não há κίνησις κατ’ οὐσίαν. Há, por outro lado, na μεταβολή toda a espécie de mudança que ocorrem na κίνησις e também κατ’ οὐσίαν: o que se transforma transforma-se sempre ou de acordo com a substância ou a quantidade ou a qualidade ou o lugar, μεταβάλλει γὰρ ἀεὶ τὸ μεταβάλλον ἢ κατ’ οὐσίαν ἢ κατὰ ποσὸν ἢ κατὰ ποιὸν ἢ κατὰ τόπον. A γένεσις e a φθορά são os princípios da transformação da οὐσία. Como vimos em sessões anteriores, porém: não se tratam de princípios que só actua no ‘nascimento’ e na ‘morte’ como se se tratassem dos momentos extremos durante os quais qualquer coisa existe. Tratam-se de dois aspectos de uma realidade. Uma entidade está sempre a nascer como está continuamente a morrer. Dito ontologicamente uma entidade está continuamente a passar a ser, existe continuamente: passando a ser. Uma entidade está continuamente a deixar de ser. Existe deixando de ser, como se também esse fosse um aspecto de uma mesma realidade. Passando a ser e deixando de ser são formas co-determinantes do mesmo. Veremos como é no quadro de fundo do pensamento da φύσις que Aristóteles vai buscar o modelo do pensamento da mudança.] 


201a3 e sg: Ἕκαστον δὲ διχῶς ὑπάρχει πᾶσιν, οἷον τὸ τόδε (τὸ μὲν γὰρ μορφὴ αὐτοῦ, τὸ δὲ στέρησις), καὶ κατὰ τὸ ποιόν (τὸ μὲν γὰρ λευκὸν τὸ δὲ (5) μέλαν), καὶ κατὰ τὸ ποσὸν τὸ μὲν τέλειον τὸ δ’ ἀτελές. ὁμοίως δὲ καὶ κατὰ τὴν φορὰν τὸ μὲν ἄνω τὸ δὲ κάτω,/ ἢ τὸ μὲν κοῦφον τὸ δὲ βαρύ. “O carácter de cada categoria, ἕκαστον, está presente duplamente em todas as coisas. No caso do ‘isto deste género (por um lado a sua forma, μορφή, por outro, o cancelamento ou privação, στέρησις), também no que respeita à qualidade (por um lado, o branco e por outro o negro) e a respeito da quantidade, o que está plenamente desenvolvido e o que não está completamente desenvolvido. Ainda, por outro lado, no que respeita à deslocação espacial, há para cima e o para baixo ou o leve e o pesado’”
[Nota: Cf Ross, ad loc.: ‘the character of each category is present in the various things that fall within the category, in either of two modes’. The expression is rather loose, but the meaning is that in respect of substance a thing may either have a certain substantial form (e. g. that of fire) or have the privation of this form; that in respect of quality it may have either whiteness of the absence of whiteness which is blackness; and so with the other categories. (Ross, p. 536, Physics, ad loc.)]
Aristóteles enuncia o horizonte específico de cada categoria que admite alteração ou mudança. Cada horizonte tem limites extremos próprios. Um opõe-se ao outro. É assim que, por exemplo, no que diz respeito ao ‘isto aqui do género que é’, a substância, o seu horizonte é o ὑποκείμενον, o substrato, que subsiste entre γένεσις e φθορά. O substrato, subsiste, ὑπομένον, entre o último momento em que qualquer coisa deixa de continuar a ser e o primeiro momento em que começou a deixar de ser. Estes limites como veremos são limites da φύσις e quer-nos parecer apontam para o quadro geral de sentido que projecta por assim dizer as restantes modalidades de mudança. 


Ou seja, toda a mudança é pensada não apenas como o resultado da actuação da ἐντελέχεια que realiza um potencial, mas também como em geral se passa o nascer, o aparecer, o surgir de qualquer coisa como que formada de um plano de fundo. Cada coisa é uma forma recortada a partir de um plano de fundo e que está durante o tempo em que existe numa persistência do seu momento inaugural, um momento inaugural que está determinado pelo carácter crónico do fim. Todas as coisas acabam um dia.

Por outro lado, Aristóteles identifica duas estruturas constitutivas para cada coisa. A forma contém em si princípio formador ou de formação e constituição bem como, paredes meias com ele, um princípio de deformação. A μορφή corresponde ao rosto de uma coisa. Ao que permite identificá-la nos seus contornos exteriores como a coisa que é. Pode coincidir com εἶδος, embora esta estrutura parece apontar mais para o carácter intrínseco a marca constitutiva que vai para lá do aspecto exterior. De qualquer forma, a estrutura ou morfologia de uma coisa trás consigo princípios de degenerescência ou de corrupção. A Constituição de uma coisa como forma e deformação aponta assim para uma estrutura que pode ‘encostar-se‘ a uma coisa, in-formá-la, estruturá-la. Mas pode também deformar-se desestruturar-se, passar por processos de degenerescência e deformações completas em que apenas resiste ainda uma matéria, mas privada da forma que teve.
Um ramo de flores, um molho de grelos, um quilo de maças, etc., etc.: têm o aspecto dos mesmos seres vivos e vegetais, flores, fruta e legumes, mas já não são o que eram quando estavam no jardim, na horta ou no pomar. Foram cortados, deslocados, e é dar-lhes tempo que apodrecem.  A fruta e os legumes apodrecidos são fruta e legumes deformados, desestruturados, perderam a forma, o aspecto, não prestam, estão podres, etc., etc.. A forma de um animal transforma-se, da fecundação até à gestação, nas diversas fases do crescimento. Mas a aparente progressão de um desenvolvimento encerra em si a tensão relativamente à deformação, atrofia do processo de desenvolvimento, ‘perdas de forma’, doença, morte, etc., etc.. 


Ou seja, a ‘forma‘ respira estruturalmente numa tensão contra o embargo, o cancelamento, o embargo da deformação ou da impossibilidade que impossibilita o desenvolvimento. Podemos perceber que quando vemos peças de mobília expostas num grande superfície comercial ou à espera de serem recolhidas pelo lixo, não estamos perante ‘peças de mobiliário’ plenipotenciárias. Na verdade, estão à exposta, podem ser testadas, mas verdadeiramente, não são utilizáveis, estão ‘fora de serviço’. Ou então estão já fora de serviço, ficaram inutilizadas, foram substituídas. Posso até ver um conjunto de tábuas umas encostadas às outras e perceber que ‘foi uma estante’, ‘foi um armário’. A forma está lá ainda. Não se retraiu completamente, não abandonou completamente a madeira que estruturou, e que ‘animou’ com a sua presença fazendo da árvore da floresta, não apenas um conjunto de madeiras, ou tábuas, mas ‘a estante dos livros’ na casa de alguém ou o armário entretanto substituído.
  
Simplício no seu comentário à Física, acentua um aspecto decisivo, quer-nos parecer, na análise que Aristóteles oferece da κίνησις. Diz ele no vol, 9, p. 407, ll.: 17 e sgs.: καὶ κατὰ τόπον ἡ/ μὲν ἐπὶ τὸ ἄνω ἀνάβασις, ἡ δὲ ἐπὶ τὸ κάτω κατάβασις. πανταχοῦ δὲ ἡ/ μὲν ἐπὶ τὸ κρεῖττον τῶν ἀντικειμένων ὁδὸς τὸ εἴδους ἔχον λόγον εἴδει καὶ/ αὐτὸ ἀναλογήσει, ἡ δὲ ἐπὶ τὸ χεῖρον καὶ στερητικὸν στερήσει. (20) De acordo com o a deslocação espacial, uma é a subida para cima, a outra, a descida para baixo. Ou seja, não há apenas uma localização estática e topológica do ‘em cima’ ou do ‘cimo’, do ‘baixo’ ou do ‘em baixo’, da ‘direita’ e da ‘esquerda’, do ‘dentro’ e do ‘fora’, do ‘próximo’, do ‘distante’, do ‘aqui’, ‘ali’, ‘lá’, etc., etc. . Esses pontos que são preenchidos consoante os pontos de vista, por exemplo, das pessoas num estádio de futebol, com conteúdos que podem ser absolutamente diferentes, são postos em relação dinâmica uns com os outros. Não apenas o ‘cimo’ admite graus, mas também conteúdos diferentes de preenchimento. A direita é sempre à direita de… e à esquerda de… bem como a esquerda é sempre à esquerda de… e à direita de. Cada ponto admite uma integração em sistemas de referência sempre diferentes. Mas mais é possível perceber que a deslocação de um local mais em baixo para outro mais em cima não é uma deslocação qualquer: é uma ascensão, uma subida. Do mesmo modo, não se faz um caminho qualquer de cima para baixo: desce-se, é uma descida. Do mesmo modo o caminho para dentro não é um caminho qualquer: é a entrar que eu vou para dentro, tal como é a sair que eu vou para fora. 

Simplício aponta para o facto de que mesmo a mudança espacial não resulta senão de formas peculiares que transformam a deslocação em descrições sofisticadas dos princípios da transformação do baixo para o cimo e do dentro para fora, etc., etc.. Quer dizer: subir é fazer o caminho para cima, partir de um local mais baixo para chegar a um local mais acima. Do mesmo modo descer é fazer o caminho do local mais elevado para um outro menos elevado. Entrar é fazer a deslocação do interior para o exterior e assim também sair é ir em direcção à saída, do interior para exterior, etc., etc.. Ou seja, poder descer e subir, entrar e sair não são possibilidades quaisquer. São formas peculiares de intervenção no mundo. O elo de ligação entre o cimo e o baixo, o dentro e o fora é o subir, não a subida, e o descer, não a descida, o entrar, não a entrada, e o sair, não a saída. Ora: subir, descer, entrar e sair são acções que não existem em lado nenhum do mundo. Uma saída não existe. É um local assinalado com uma placa, é alcatrão ou um portão. Mas eu só sei o que é uma saída porque eu compreendo que quero sair e não consigo se não fizer alguma coisa por e para sair. Eu tenho de ir do interior para o exterior e sair daí para fora, etc., etc.. 
Esta descrição permite-nos perceber os “nomina actionis” de cada vez em causa.
Cada género de coisa admite um encontrar-se na contínua actualização da sua completude ou na possibilidade de ser o que pode ser sem o ser ainda. διῃρημένου
 δὲ καθ’ (9)/ ἕκαστον γένος τοῦ μὲν ἐντελεχείᾳ
 τοῦ δὲ δυνάμει. 
A mudança é a forma peculiar como aquilo que é na sua possibilidade pode vir a cumprir-se numa das possibilidades que tem para ser o que é, para exibir e manifestar o seu ser, cumprindo-se. ἡ τοῦ δυ- (10)/ νάμει ὄντος ἐντελέχεια, ᾗ τοιοῦτον, κίνησίς ἐστιν, οἷον τοῦ μὲν/ ἀλλοιωτοῦ, ᾗ ἀλλοιωτόν, ἀλλοίωσις, τοῦ δὲ αὐξητοῦ καὶ τοῦ/ ἀντικειμένου φθιτοῦ (οὐδὲν γὰρ ὄνομα κοινὸν ἐπ’ ἀμφοῖν) αὔ-/ ξησις καὶ φθίσις, τοῦ δὲ γενητοῦ καὶ φθαρτοῦ γένεσις καὶ/ φθορά, τοῦ δὲ φορητοῦ φορά. ὅτι δὲ τοῦτο ἔστιν ἡ κίνησις, (15)/ ἐντεῦθεν δῆλον. 
O que realiza, desenvolve, manifesta, faz ser, põe em prática, actualiza, etc., etc., a potência, o potencial ou a possibilidade de qualquer coisa é a mudança. A mudança é a forma peculiar como o possível se anula e se torna realidade, passa a existir. Tal como a subida e a descida, a entrada e a saída, a mudança, o cumprimento, a alteração, o crescimento e a diminuição, mas também a geração e a destruição são formas de transformar tudo em geral. Não há subida sem compreender o que subir e poder pôr em prática essa compreensão. O mesmo para o descer, entrar, sair, mudar, cumprir-se, alterar e alterar-se, crescer, definhar, gerar, destruir, etc.. Do mesmo modo que a subida não são as escadas do meu prédio, a descida não é o ascensor, a entrada não é a porta de metal e a saída não é a mesma porta de metal do outro lado, também a mudança de cor não é a passagem do pálido a bronzeado, o aumento de tamanho ou de peso. É isso, mas é isso percorrido, intervindo nas coisas. Todas as possibilidades, capacidades, potenciais de tudo em geral requer uma forma particular para passar a ser e ir sendo. A forma particular de como uma possibilidade se incorpora, encarna, exprime, passa a ser testemunha também o que era como possibilidade antes de ter vindo a ser. O que cria tensão à possibilidade é a impotência. A impotência não deixa que uma coisa ‘tenha’ forças para ser nem tão pouco se mantenha, uma vez vindo a ser. 
Simplicius (vol, 9, p. 400, ll.: 30 e sgs) aponta para esta oposição entre potência e actualização da potência no acto, e vice versa (καὶ τῷ μὲν δυνάμει ἀντίκειται τὸ ἐνεργείᾳ, τῇ δὲ δυνάμει ἡ ἐνέργεια). “A potência é a preparação completamente acabada do que é a substância de uma coisa e sua prontidão livre de impedimentos que se precipita em direcção do seu accionar. Ser possível  é a condição requerida, mas ainda por cumprir, relativamente á qual dizemos que o que é possível é capaz de receber em si em acto o que era uma mera possibilidade e que não é projectada a partir de si. O accionar-se e estar em acção resulta do que se disse ser o possível. Em acto existe o homem que já era conformado pela forma humana. A actividade accionada é oposta da potência e é a mudança posta em acção, projectada a partir da possibilidade. O que está accionado existe em acção. Acção é por exemplo a produção e a situação posta em prática. (Καὶ δύναμις μέν ἐστι παρασκευὴ τελεία τῆς οὐσίας καὶ ἑτοιμότης ἀκώλυτος πρὸς τὸ ἐνεργεῖν οἰστικὴ τῆς ἐνεργείας, τὸ δυνάμει δὲ ἐπιτηδειότης ἀτελὴς πρὸς ὃ λέγεται δυνάμει τὸ ἐνεργείᾳ παρ’ ἄλλου δεχομένη καὶ οὐκ ἀφ’ (30) ἑαυτῆς προβάλλουσα· τὸ δὲ ἐνεργείᾳ τοῦτό ἐστιν, ὃ ἐνεργεῖν ἤδη δύναται κατ’ ἐκεῖνο καθ’ ὃ λέγεται. ἐνεργείᾳ γὰρ ἄνθρωπος ὁ ἤδη κατὰ τὸ ἀν-/θρώπινον εἶδος ἐνεργῶν. ἐνέργεια δέ ἐστιν ἡ τῇ δυνάμει ἀντικειμένη καὶ/ ἡ ἀπὸ τῆς δυνάμεως προβαλλομένη ἐνεργὸς κίνησις· ἐνεργὸς δὲ καὶ ἡ ἐν τῷ ἔργῳ· ἔργον δὲ ἥ τε ποίησίς ἐστι καὶ ἡ πρᾶξις.”
10-11: ἡ τοῦ δυνάμει ὄντος ἐντελέχεια, ᾗ τοιοῦτον, κίνησίς ἐστιν: actualization, not actuality: it is the passage from potentiality to actuality that is ΚΙΝΗΣΙΣ.  
A estrutura da mudança é forma peculiar de intervir no mundo: de criar e de ter sob a dependência exclusiva do agente da acção o que se faz. 
  1. Quando, por exemplo, a respeito do que é susceptível de ser construído, ‘o construível’,  dizemos que é por onde é o que é, que vem a um cumprimento da sua possibilidade, virá a ser construído, e é isto mesmo que nós dizemos que é a ‘construção civil’ (ὅταν γὰρ τὸ οἰκοδομητόν, ᾗ τοιοῦτον αὐτὸ/ λέγομεν εἶναι
  2. , ἐντελεχείᾳ ᾖ, οἰκοδομεῖται, καὶ ἔστιν τοῦτο/ οἰκοδόμησις·)
  3. O mesmo se passa relativamente à aprendizagem
  4. À obtenção da cura
  5. À projecção que leva ao assentamento de espadas
  6. Ao salto, 
  7. O amadurecimento
  8. O envelhecimento 
(ὁμοίως δὲ καὶ μάθησις καὶ ἰάτρευσις καὶ κύ-/ λισις καὶ ἅλσις
 καὶ ἅδρυνσις
 καὶ γήρανσις
. ἐπεὶ δ’ ἔνια/ ταὐτὰ καὶ δυνάμει καὶ ἐντελεχείᾳ ἐστίν, οὐχ ἅμα δὲ ἢ οὐ (20)/ κατὰ τὸ αὐτό, ἀλλ’ οἷον θερμὸν μὲν ἐντελεχείᾳ ψυχρὸν δὲ/ δυνάμει, πολλὰ ἤδη ποιήσει καὶ πείσεται ὑπ’ ἀλλήλων·/ ἅπαν γὰρ ἔσται ἅμα ποιητικὸν καὶ παθητικόν. ὥστε καὶ/ τὸ κινοῦν φυσικῶς κινητόν· πᾶν γὰρ τὸ τοιοῦτον κινεῖ κινού-/ μενον καὶ αὐτό. δοκεῖ μὲν οὖν τισιν ἅπαν κινεῖσθαι τὸ κι- (25)/ νοῦν, οὐ μὴν ἀλλὰ περὶ τούτου μὲν ἐξ ἄλλων ἔσται δῆλον/ ὅπως ἔχει (ἔστι γάρ τι κινοῦν καὶ ἀκίνητον), ἡ δὲ τοῦ δυνάμει/ ὄντος <ἐντελέχεια>, ὅταν/ἐντελεχείᾳ ὂν ἐνεργῇ οὐχ ᾗ αὐτὸ ἀλλ’/ ᾗ κινητόν, κίνησίς ἐστιν. λέγω δὲ τὸ ᾗ ὡδί.) 
[Nota: Com Ross também: ᾗ τοιοῦτον: Aggregate of bricks, stones, &c., may be regarded (1) as so many bricks, stones, &c., (2) as potentially a house, (3) as ponentially being in course of being fashioned into a house. The movement of building is the realization not (1) of the materials as these materials (they are previously to the movement of building, already actually these materials), nor (2) of their potentiality of being a house (the house is the realization of this), but (3) of their potentiality of being fashioned into a house. Similarly every movement is a realization of a potentiality which is a stage on the way to a further realization of potentiality, and only exists while the further potentiality is not yet realized. Hence it is ἀτελής, b32, and though in a sense an ἐνέργεια, is distinct from an  ἐνέργεια in the narrower sense in which ἐνέργεια implies that no element of δύναμις is present at all.]

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