quarta-feira, 7 de março de 2018

QUESTÕES DE ÉTICA, Handout da 3ª sessão, 08-03-2018

QUESTÕES DE ÉTICA
(IIº Ciclo)
3ª SESSÃO

2º semestre 2017-2018
António de Castro Caeiro


Txt 1.
Διττῆς δὴ τῆς ἀρετῆς οὔσης, τῆς μὲν διανοητικῆς τῆς   (14)
δὲ ἠθικῆς, ἡ μὲν διανοητικὴ τὸ πλεῖον ἐκ διδασκαλίας ἔχει    (15)
καὶ τὴν γένεσιν καὶ τὴν αὔξησιν, διόπερ ἐμπειρίας δεῖται
καὶ χρόνου, ἡ δ’ ἠθικὴ ἐξ ἔθους περιγίνεται, ὅθεν καὶ τοὔνομα
ἔσχηκε μικρὸν παρεκκλῖνον ἀπὸ τοῦ ἔθους. ἐξ οὗ καὶ δῆλον
ὅτι οὐδεμία τῶν ἠθικῶν ἀρετῶν φύσει ἡμῖν ἐγγίνεται· οὐθὲν
γὰρ τῶν φύσει ὄντων ἄλλως ἐθίζεται, οἷον ὁ λίθος φύσει   (20)
κάτω φερόμενος οὐκ ἂν ἐθισθείη ἄνω φέρεσθαι, οὐδ’ ἂν μυ-
ριάκις αὐτὸν ἐθίζῃ τις ἄνω ῥιπτῶν, οὐδὲ τὸ πῦρ κάτω, οὐδ’
ἄλλο οὐδὲν τῶν ἄλλως πεφυκότων ἄλλως ἂν ἐθισθείη. οὔτ’
ἄρα φύσει οὔτε παρὰ φύσιν ἐγγίνονται αἱ ἀρεταί, ἀλλὰ
πεφυκόσι μὲν ἡμῖν δέξασθαι αὐτάς, τελειουμένοις δὲ διὰ τοῦ    (25)
ἔθους. ἔτι ὅσα μὲν φύσει ἡμῖν παραγίνεται, τὰς δυνάμεις @1
τούτων πρότερον κομιζόμεθα, ὕστερον δὲ τὰς ἐνεργείας ἀποδί-
δομεν
Arist. EN1101a14-28.
Sendo a excelência dupla, como disposição teórica [do pensamento
compreensivo] e como disposição ética, a primeira encontra no ensino a
maior parte da sua formação e desenvolvimento, por isso que requer experiência e tempo; a disposição permanente do caráter resulta, antes, de um processo de habituação, de onde até terá recebido o seu nome, «hábito», embora se tenha desviado um pouco da sua forma original. Daqui resulta evidente que nenhuma das excelências éticas nasce conosco por natureza. Nenhum dos entes que existem a partir da natureza pode ser habituado a existir de outra maneira. Como por exemplo uma pedra. Ela desloca-se naturalmente para baixo e ninguém poderá habituá-la a deslocar-se naturalmente para cima; ninguém a habituaria a isso nem que a arremessasse mil vezes para o alto. E o mesmo a respeito do fogo. Ninguém poderá habituá-lo a tender naturalmente para baixo. Nada do que é constituído naturalmente de uma determinada maneira poderá ser habituado a ser de outra maneira. As excelências, então, não se geram em nós nem por natureza, nem contra a natureza, mas por sermos constituídos de tal modo que podemos, através de um processo de habituação, acolhê-las e aperfeiçoá-las. Além disso, tudo o que se constitui em nós depende em primeiro lugar de havermos recebido a sua condição de possibilidade e depois de termos procedido ao seu acionamento.

Txt. 2
τὰς δ’ ἀρετὰς λαμβάνομεν ἐνεργήσαντες πρότερον,
ὥσπερ καὶ ἐπὶ τῶν ἄλλων τεχνῶν· ἃ γὰρ δεῖ μαθόντας
ποιεῖν, ταῦτα ποιοῦντες μανθάνομεν
31-33
É da mesma maneira, então, que adquirimos as excelências. Isto é, primeiramente pomo-las em prática. É assim também que fazemos com as restantes perícias, porque, ao praticar, adquirimos o que procuramos aprender. Na verdade, fazer é aprender.

Txt. 3
ἔτι
ἐκ τῶν αὐτῶν καὶ διὰ τῶν αὐτῶν καὶ γίνεται πᾶσα ἀρετὴ
καὶ φθείρεται, ὁμοίως δὲ καὶ τέχνη
1103b6-8
Demais, é a partir do exercício das mesmas atividades e em vista das mesmas qualidades limite que toda a excelência tanto é gerada quanto é destruída.

Txt. 4
οὕτω δὴ καὶ ἐπὶ
τῶν ἀρετῶν ἔχει· πράττοντες γὰρ τὰ ἐν τοῖς συναλλάγμασι
τοῖς πρὸς τοὺς ἀνθρώπους γινόμεθα οἳ μὲν δίκαιοι οἳ δὲ ἄδι-   (15)
κοι, πράττοντες δὲ τὰ ἐν τοῖς δεινοῖς καὶ ἐθιζόμενοι φοβεῖ-
σθαι ἢ θαρρεῖν οἳ μὲν ἀνδρεῖοι οἳ δὲ δειλοί. ὁμοίως δὲ καὶ
τὰ περὶ τὰς ἐπιθυμίας ἔχει καὶ τὰ περὶ τὰς ὀργάς· οἳ μὲν
γὰρ σώφρονες καὶ πρᾶοι γίνονται, οἳ δ’ ἀκόλαστοι καὶ ὀρ-
γίλοι, οἳ μὲν ἐκ τοῦ οὑτωσὶ ἐν αὐτοῖς ἀναστρέφεσθαι, οἳ δὲ
ἐκ τοῦ οὑτωσί. καὶ ἑνὶ δὴ λόγῳ ἐκ τῶν ὁμοίων ἐνεργειῶν αἱ
ἕξεις γίνονται. διὸ δεῖ τὰς ἐνεργείας ποιὰς ἀποδιδόναι·
13-22
O mesmo acontece com as excelências. Ao agir-se em transação com outrem, tornamo-nos justos ou injustos. É também ao agir em face de situações terríveis, que sentimos sempre medo ou conseguimos ganhar confiança, isto é, que podemos ficar cobardes ou tornamo-nos corajosos. De modo idêntico a respeito das coisas que fazem nascer em nós desejo e ira. Uns conseguem tornar-se temperados e ser gentis, outros, porém, tornam-se devassos e são irascíveis. Resulta, então, destas considerações que é a respeito das mesmas situações, que se definem comportamentos contrários, ou seja, que é possível portarmo-nos de modos diferentes. Assim, numa palavra, as disposições permanentes do caráter constituem-se através de ações levadas à prática em situações que podem ter resultados opostos. Por isso que as ações praticadas têm de restituir disposições constitutivas de uma mesma qualidade, quer dizer, as disposições do caráter fazem depender de si as diferenças existentes nas ações levadas à prática.


Txt. 5
  Ἐπεὶ οὖν ἡ παροῦσα πραγματεία οὐ θεωρίας ἕνεκά
ἐστιν ὥσπερ αἱ ἄλλαι (οὐ γὰρ ἵνα εἰδῶμεν τί ἐστιν ἡ ἀρετὴ
σκεπτόμεθα, ἀλλ’ ἵν’ ἀγαθοὶ γενώμεθα, ἐπεὶ οὐδὲν ἂν ἦν
ὄφελος αὐτῆς), ἀναγκαῖον ἐπισκέψασθαι τὰ περὶ τὰς
πράξεις, πῶς πρακτέον αὐτάς· αὗται γάρ εἰσι κύριαι καὶ    (30)
τοῦ ποιὰς γενέσθαι τὰς ἕξεις, καθάπερ εἰρήκαμεν. τὸ μὲν οὖν
κατὰ τὸν ὀρθὸν λόγον πράττειν κοινὸν καὶ ὑποκείσθω—ῥηθή-
σεται δ’ ὕστερον περὶ αὐτοῦ, καὶ τί ἐστιν ὁ ὀρθὸς λόγος,
καὶ πῶς ἔχει πρὸς τὰς ἄλλας ἀρετάς. ἐκεῖνο δὲ προδιο-
(1104a) μολογείσθω, ὅτι πᾶς ὁ περὶ τῶν πρακτῶν λόγος τύπῳ
καὶ οὐκ ἀκριβῶς ὀφείλει λέγεσθαι, ὥσπερ καὶ κατ’ ἀρχὰς
εἴπομεν ὅτι κατὰ τὴν ὕλην οἱ λόγοι ἀπαιτητέοι· τὰ δ’ ἐν
ταῖς πράξεσι καὶ τὰ συμφέροντα οὐδὲν ἑστηκὸς ἔχει, ὥσ-
περ οὐδὲ τὰ ὑγιεινά. τοιούτου δ’ ὄντος τοῦ καθόλου λόγου,   (5)
ἔτι μᾶλλον ὁ περὶ τῶν καθ’ ἕκαστα λόγος οὐκ ἔχει τἀκρι-
βές· οὔτε γὰρ ὑπὸ τέχνην οὔθ’ ὑπὸ παραγγελίαν οὐδεμίαν
πίπτει, δεῖ δ’ αὐτοὺς ἀεὶ τοὺς πράττοντας τὰ πρὸς τὸν και-
ρὸν σκοπεῖν, ὥσπερ καὶ ἐπὶ τῆς ἰατρικῆς ἔχει καὶ τῆς
κυβερνητικῆς. ἀλλὰ καίπερ ὄντος τοιούτου τοῦ παρόντος   (10)
λόγου πειρατέον βοηθεῖν.
1103b26-1104a11
Uma vez que o tratamento do assunto em causa não é motivado por nenhuma especulação teórica, como o será, eventualmente, o tratamento de outros assuntos (de fato, não examinamos a excelência para sabermos o que ela é – o que não teria nenhuma utilidade –, mas para nos tornarmos excelentes), é necessário examinar o que diz respeito às ações. Isto é, como têm de ser levadas à prática. É que as ações são, tal como dissemos, decisivas para a produção das qualidades das disposições permanentes do caráter. O agir tem de ser, tal como é comumente aceite, estabelecido de acordo com um sentido orientador [prático].55 Mais tarde falar-se-á acerca do que é o sentido orientador, bem como do modo e da maneira como se comporta relativamente às outras excelências. Seja para já concedido de antemão que todo o princípio vigente nas situações concretas de ação não pode ser esclarecido senão a partir de uma sua caracterização apenas nos seus traços essenciais, e não, portanto, de um modo rigoroso, tal como dissemos no início das nossas análises. Como temos dito repetidas vezes, as formas de tratamento de um assunto são tantas quanto a matéria a que se aplicam o admitir. Nada do que diz respeito à prática de ações ou à obtenção do que é vantajoso tem algo de estável, tal como o não tem o que concerne o estado de saúde. Se é já isto que acontece com a fixação de um princípio geral, por maioria de razão não se pode exigir rigor ao princípio de cada uma das situações concretas que de cada vez se constituem. Elas não caem sob a competência de nenhuma perícia nem estão expostas a nenhuma ordem ou comando. Os que estão na situação de agir têm de olhar para as circunstâncias em vista da ocasião e da oportunidade do momento, tal como acontece com a medicina e a arte de navegar. Mas mesmo sendo deste gênero o presente princípio, temos que tentar ir em seu auxílio.

Txt. 6
Σημεῖον
δὲ δεῖ ποιεῖσθαι τῶν ἕξεων τὴν ἐπιγινομένην ἡδονὴν ἢ λύ-
πην τοῖς ἔργοις· ὁ μὲν γὰρ ἀπεχόμενος τῶν σωματικῶν    (5)
ἡδονῶν καὶ αὐτῷ τούτῳ χαίρων σώφρων, ὁ δ’ ἀχθόμενος @1
ἀκόλαστος, καὶ ὁ μὲν ὑπομένων τὰ δεινὰ καὶ χαίρων ἢ
μὴ λυπούμενός γε ἀνδρεῖος, ὁ δὲ λυπούμενος δειλός. περὶ
ἡδονὰς γὰρ καὶ λύπας ἐστὶν ἡ ἠθικὴ ἀρετή· διὰ μὲν γὰρ
τὴν ἡδονὴν τὰ φαῦλα πράττομεν, διὰ δὲ τὴν λύπην τῶν   (10)
καλῶν ἀπεχόμεθα.
1104b3-11
Uma indiciação das disposições éticas é dada pelo prazer e pelo sofrimento
que acompanham as nossas ações. Por um lado, o que se abstém
dos prazeres do corpo e nisso encontra motivo de regozijo é temperado;
mas já o que se entedia com essa prática é devasso. Do mesmo modo, é
corajoso quem resiste em situações terríveis e nisso encontra motivo de
regozijo ou, pelo menos, não sente medo. Por outro lado, já é cobarde o
que nas mesmas situações sente medo. A excelência ética constitui-se,
portanto, em vista de fenômenos de prazer e de sofrimento. É, assim, por causa do prazer que incorremos, por um lado, em ações vergonhosas. É, do mesmo modo, também que por causa da ansiedade causada pelo medo nos podemos afastar de feitos gloriosos.

 Txt. 7
ἔτι δ’ εἰ αἱ ἀρεταί εἰσι περὶ
πράξεις καὶ πάθη, παντὶ δὲ πάθει καὶ πάσῃ πράξει ἕπε-
ται ἡδονὴ καὶ λύπη, καὶ διὰ τοῦτ’ ἂν εἴη ἡ ἀρετὴ περὶ   (15)
ἡδονὰς καὶ λύπας.
13-16
Além do mais, se as excelências se constituem a partir de ações e afecções – o prazer e o sofrimento acompanham toda a afecção e toda a ação –, também sob esse fundamento a excelência se constitui sobre os prazeres e os sofrimentos.

Txt. 8
ἔτι, ὡς καὶ πρῴην
εἴπομεν, πᾶσα ψυχῆς ἕξις, ὑφ’ οἵων πέφυκε γίνεσθαι
χείρων καὶ βελτίων, πρὸς ταῦτα καὶ περὶ ταῦτα τὴν φύ-    (20)
σιν ἔχει· δι’ ἡδονὰς δὲ καὶ λύπας φαῦλοι γίνονται, τῷ
διώκειν ταύτας καὶ φεύγειν, ἢ ἃς μὴ δεῖ ἢ ὅτε οὐ δεῖ ἢ
ὡς οὐ δεῖ ἢ ὁσαχῶς ἄλλως ὑπὸ τοῦ λόγου διορίζεται τὰ
τοιαῦτα.
18-23
Além do mais, tal como dissemos primeiramente, toda a disposição da alma constitui-se naturalmente ao relacionar-se, e ao lidar, com aquele tipo de situações que a tornam melhor ou pior. Ou seja, é por causa dos prazeres e dos sofrimentos que os homens se tornam perversos, perseguindo e fugindo de prazeres e de sofrimentos: 1) que não devem; 2) ou quando não devem; 3) ou como não devem; 4) ou a respeito de todos os outros modos que o sentido determina o «dever ser».

Txt. 9
τριῶν γὰρ ὄντων τῶν εἰς τὰς αἱρέσεις καὶ τριῶν   (30)
τῶν εἰς τὰς φυγάς, καλοῦ συμφέροντος ἡδέος, καὶ [τριῶν]
τῶν ἐναντίων, αἰσχροῦ βλαβεροῦ λυπηροῦ, περὶ ταῦτα
μὲν πάντα ὁ ἀγαθὸς κατορθωτικός ἐστιν ὁ δὲ κακὸς ἁμαρ-
τητικός, μάλιστα δὲ περὶ τὴν ἡδονήν·
30-34
Há três possibilidades relativamente às quais se definem as escolhas do que devemos perseguir e do que devemos preterir e evitar. Devemos escolher o belo, o vantajoso e o agradável; devemos, por outro lado, evitar os seus contrários, isto é, o feio, o nocivo, o desagradável. Relativamente a todas essas possibilidades, o homem de bem é capaz de as escolher corretamente e o perverso erradamente, sobretudo a respeito do prazer.


Txt. 10
  Μετὰ δὲ ταῦτα τί ἐστιν ἡ ἀρετὴ σκεπτέον. ἐπεὶ οὖν
τὰ ἐν τῇ ψυχῇ γινόμενα τρία ἐστί, πάθη δυνάμεις ἕξεις,   (20)
τούτων ἄν τι εἴη ἡ ἀρετή. λέγω δὲ πάθη μὲν ἐπιθυμίαν @1
ὀργὴν φόβον θάρσος φθόνον χαρὰν φιλίαν μῖσος πόθον
ζῆλον ἔλεον, ὅλως οἷς ἕπεται ἡδονὴ ἢ λύπη· δυνάμεις
δὲ καθ’ ἃς παθητικοὶ τούτων λεγόμεθα, οἷον καθ’ ἃς δυ-
νατοὶ ὀργισθῆναι ἢ λυπηθῆναι ἢ ἐλεῆσαι· ἕξεις δὲ καθ’   (25)
ἃς πρὸς τὰ πάθη ἔχομεν εὖ ἢ κακῶς, οἷον πρὸς τὸ ὀργι-
σθῆναι, εἰ μὲν σφοδρῶς ἢ ἀνειμένως, κακῶς ἔχομεν, εἰ δὲ
μέσως, εὖ· ὁμοίως δὲ καὶ πρὸς τἆλλα. πάθη μὲν οὖν
οὐκ εἰσὶν οὔθ’ αἱ ἀρεταὶ οὔθ’ αἱ κακίαι, ὅτι οὐ λεγόμεθα
κατὰ τὰ πάθη σπουδαῖοι ἢ φαῦλοι, κατὰ δὲ τὰς ἀρετὰς    (30)
καὶ τὰς κακίας λεγόμεθα, καὶ ὅτι κατὰ μὲν τὰ πάθη
οὔτ’ ἐπαινούμεθα οὔτε ψεγόμεθα (οὐ γὰρ ἐπαινεῖται ὁ φο-
βούμενος οὐδὲ ὁ ὀργιζόμενος, οὐδὲ ψέγεται ὁ ἁπλῶς ὀργι-
(1106a) ζόμενος ἀλλ’ ὁ πῶς), κατὰ δὲ τὰς ἀρετὰς καὶ τὰς κακίας
ἐπαινούμεθα ἢ ψεγόμεθα. ἔτι ὀργιζόμεθα μὲν καὶ φοβού-
μεθα ἀπροαιρέτως, αἱ δ’ ἀρεταὶ προαιρέσεις τινὲς ἢ οὐκ
ἄνευ προαιρέσεως. πρὸς δὲ τούτοις κατὰ μὲν τὰ πάθη
κινεῖσθαι λεγόμεθα, κατὰ δὲ τὰς ἀρετὰς καὶ τὰς κακίας    (5)
οὐ κινεῖσθαι ἀλλὰ διακεῖσθαί πως. διὰ ταῦτα δὲ οὐδὲ
δυνάμεις εἰσίν· οὔτε γὰρ ἀγαθοὶ λεγόμεθα τῷ δύνασθαι
πάσχειν ἁπλῶς οὔτε κακοί, οὔτ’ ἐπαινούμεθα οὔτε ψεγό-
μεθα· ἔτι δυνατοὶ μέν ἐσμεν φύσει, ἀγαθοὶ δὲ ἢ κακοὶ
οὐ γινόμεθα φύσει· εἴπομεν δὲ περὶ τούτου πρότερον. εἰ   (10)
οὖν μήτε πάθη εἰσὶν αἱ ἀρεταὶ μήτε δυνάμεις, λείπεται
ἕξεις αὐτὰς εἶναι. ὅ τι μὲν οὖν ἐστὶ τῷ γένει ἡ ἀρετή,
εἴρηται.
1105b19-1106a13
Poder-se-á levantar a dificuldade acerca do modo como dizemos que aqueles que praticam ações justas se tornam justos e os que praticam ações temperadas se tornam, por sua vez, temperados, isto é, se serão já, de algum modo, justos e temperados, por praticarem ações justas e temperadas do mesmo modo que dizemos dos que aplicam a gramática e executam música que são peritos em gramática e executantes de peças musicais? Ou será que não é assim com as perícias? É que é possível redigir um trabalho acordo com elas, somos capazes de ficar irados, ou passar por sofrimentos ou sentirmos compaixão. Disposições, por fim, são os gêneros de fenômenos de acordo com os quais nos comportamos bem ou mal relativamente às afecções. Por exemplo, relativamente ao estado em que se fica irado, comportamo-nos mal se ficarmos nesse estado veementemente ou frouxamente, e comportamo-nos bem se o estado em que ficarmos for apenas moderado; e assim se passa a respeito de todas as afecções. Nem as excelências nem as perversões são, portanto, afecções, porque nós não dizemos que somos sérios ou desavergonhados de acordo com as afecções, nem é segundo as afecções que somos louvados nem repreendidos (ninguém é louvado por estar com medo ou zangado, nem quem está zangado é simplesmente censurado, mas o é relativamente ao modo como está zangado). Ou seja, louvamos ou censuramos alguém de acordo com as excelências e as perversões. Além do mais, zangamo-nos ou sentimos medo sem qualquer decisão prévia, enquanto as excelências resultam de certas decisões que tomamos de antemão, ou, pelo menos, não existem sem uma tomada de decisão. Acresce ainda a isto que dizemos que segundo as afecções se fica comovido, mas segundo as excelências e as perversões não se fica apenas comovido; é-se disposto de algum modo. Por este motivo, então, também não se trata de capacidades. Não dizemos que somos autênticos ou perversos, simplesmente por sermos ou não sermos capazes de sofrer, nem somos louvados nem repreendidos por isso. De resto, o sermos capazes acontece por natureza. Contudo, tornarmo-nos bons ou maus não acontece por natureza. Já falamos acerca disto anteriormente. Se, então, as excelências não são nem afecções nem capacidades, só resta que sejam disposições do caráter. Fique assim dito o que é a excelência quanto ao seu gênero.

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