11ª aula
O humano como princípio motor
fundamental das suas acções.
Aristóteles diz que eu me
tenho sempre em vista. Ou seja, a relação com os próprios não é de reflexão,
mas de tal forma que nós somos o princípio que nós respeitamos. A relação a nós
próprios corresponde a uma perspectiva originária da motivação. Nós
relacionamo-nos com as nossas causas (o que nos move), mas também existe uma
relação com aquilo que nós temos adquirido e pode ter consequências ou pode ser
causa de novos encaminhamentos.
A análise do humano é a da "moral
da história" na vida de cada um -- o que é que perdemos por embarcar nesta
linha de acção e não naquela?, o que é que ganhámos por entrar neste caminho e
não naquele? Há um interesse na "moral da história": qual é a natureza
da relação com o triunfo? E qual é a relação com a perda? A análise do carácter
em Tácito é uma análise que tem em vista a perspectiva que constitui a
excelência ou a não excelência. Mas isto não tem a ver com uma perspectiva
forçosamente moral, mas com a estrutura monolítica do carácter -- faz-se uma
descrição dos actos que caracterizam os sujeitos, uma descrição do seu
carácter.
Se nós perguntarmos pela
relação do humano com os mores
estamos a falar da relação do humano com os costumes através dos adfectus. No fundo a descrição é a de marionetas:
somos empurrados e nos arrastados nesta
ou naquela direcção. O que temos são pessoas expostas aos caprichos da sua
maneira de ser. Essa é, de certa forma, a contradição máxima, porque o
caprichosos é alguém que age em função do que quer, mas os caprichos parecem
ser motores exógenos, e por isso ele age sempre como quer, mas ele não quer
nada, são os caprichos que querem. Será que há uma modificação tal que nós
poderíamos ser afectados pela bondade de tal forma que essa adesão à bondade
não seria feita pela paixão em relação à bondade? Ou seja, que a adesão à
bondade seja diferente da adesão à maldade? Para Tácito isto parece pouco
provável...Alguém pode estar apaixonado pela bondade e isso não corresponder ao
ser bom. Há um foque na adesão subjectiva ao objecto. A pergunta fundamental
é pela natureza dessa relação. Qual a relação que tenho comigo e, dada essa
relação comigo, qual a relação que tenho com a adesão a algo exterior? Em
causa está por isso a possibilidade de liberdade. O problema é que a
possibilidade de liberdade não está dada numa fixação dada pela paixão. Por
outro lado, ela também não vem de uma disciplina que pode ser aplicada.
Outro ponto corresponde à
natureza desta adesão. Nós nunca estamos só no indicativo, mas estamos sempre
numa tensão com o condicional futuro, passado, positivo ou negativo: estamos
sempre em tensão com o que gostaríamos de ser. a perspectiva da análise da
nossa relação connosco tem qualquer coisa a ver com o gosto -- eu gostava de
ser assim. O carácter originário dessa vinculação a mim. O nosso ponto de vista
está em tensão com um projecto que nos dá um livro de encargos; um
projecto dos próprio que é como uma sombra continuamente presente, que não se
manifestam sempre, mas manifestam-se sempre em épocas de balanço. Isso
significa que nós temos uma ideia desse projecto; que ele não é extrínseco a
mim. É um lança de antecipação de si para si. É de tal forma assim que nós
temos ideias positivas de desejo, ou seja, que há vários motores que nos
propulsionam. Nós temos formas específicas de ir ao mundo que têm objectos
específicos. Nós vamos explodindo nessas direcções, que são as direcções dos
objectos que nos polarizam.
A pergunta fundamental é:
quem é que nos abriu a porta a tal motivação? porque é que isso me motivou?
porque é que deixou de me motivar? Como é que me deu para lá? Qual a natureza
positiva desse "gostaria de ter sido"? E, positivamente, qual é o
retrato robot de nós próprios que segrega o conteúdo específico e a forma das
nossas motivações? Qual a αρχή das nossas motivações?
Qual o gosto específico de
uma relação moral com o próprio? será que é um gosto? Poderá haver perspectiva
moral se houver um gosto? Ou existe uma possibilidade extrema de liberdade?
Será que há uma relação com o
próprio que tem sempre em vista o triunfo homérico? Ou há uma excelência que se
constitui ao modo platónico e aristotélico? Ou romano, que se constitui na
vontade de aquisição de conteúdos disponíveis através da luxúria, da ganância,
da ambição, etc.?
A relação das criaturas
descritas nos Annales é uma relação
com os próprios. Mas que tipo de relação com os próprios é esta? Ou seja, o que
é que os move. A lascívia, a vontade de poder, a ganância, a ambição. O que
fica presente é a pergunta: a que é que corresponde o projecto de preenchimento
pleno do humano? qual seria a natureza dessa motivação de satisfação plena?
Será que se trata de nos constituirmos a nós como agentes, ou a uma das opções
que nos constituem como objecto de sentido alheio?
Para isso ele traça vários
perfiles psicológicos que visam aquilo a que Aristóteles e Platão chamaram ὄρεξις (desejo). Há uma inquietação da perspectiva
quando estamos expostos às ὄρεξεις. Por exemplo, os estoicos e Platão e
Aristóteles vêem o desejo como algo que nos põe fora de nós. Estamos a
experimentar um desvio de um estado em que estamos quietos, e por isso há um
interpretação de que é melhor aquele estado em que estamos tranquilos no nosso
canto; é melhor estar quieto do que expostos ao que nos põe fora de nós --
precisamente porque o que caracteriza o desejo é que o desejado ainda não está
adquirido, o que o torna meramente potencial. O desejo vive da irrealidade, da
possibilidade de uma acontecimento, que se fosse tido deixava de ter a dinâmica
do desejo. O que acontece é que nesse desejo há uma atrofia da possibilidade de
fracasso e uma hipertrofia da possibilidade de sucesso, caso contrário não
começávamos... Quando começamos, a possibilidade de fracasso está escondida
pela tensão com o aquilo que queremos adquirir.
A pergunta fundamental é se nós não estamos sempre expostos às ὄρεξεις? -- se é possível efectivamente neutralizar as ὄρεξεις como se fossem abcessos?
A outra pergunta é: será que eu tenho margem de manobra para perceber
aquilo que me move?
Qual é a nossa guerra? Eu posso ganhar batalhas e isso corresponder apenas a
uma engorda... A nossa medida de sucesso é geralmente a negativa: ainda não
estou, ainda não consigo. Qual é a natureza positiva de uma descrição disso? O
ponto é compreender qual a natureza específica do horizonte em que nos
encontramos. Há sempre a suspeita que o ganho não corresponde efectivamente a
nada. Aquilo a que embarcamos pode corresponde a meios para a execução dos
próprios, mas em todas as circunstâncias existe o arranque, o percurso feito,
os percurso que estão por abrir, riachos em que estamos, mas a própria vida
está constituída por já estar sempre no rio -- nós não nos atirámos para o rio,
mas demos por nós sempre já no rio.
Assim, a pergunta à qual não conseguimos responder, mas à qual não
conseguimos não querer responder é: qual é a motivação das motivações? nós
tendemos a pensar uma motivação ôntica como as com que lidamos normalmente. Mas
não pode ser, porque não encontramos nenhuma motivação ôntica que seja a
motivação das motivações -- não se consegue revelar qualquer coisa que esteja
na base da nossa existência e que nos atirou para ela (não se adivinha "o
que" ou "quem" nos pôs no rio, não se encontra a αρχή). Nós
descobrimo-nos na realização de um projecto em cuja autoria não tivemos nada a
dizer, mas encontramo-nos sempre numa motivação formal que nos empurra sempre
pra várias motivações que são as suas desformalizações. O que os obriga é o
ser, e o carácter vinculativo do "dever ser"(gerundivo), do "ter
de estar a ser". Uma motivação para ser que encontramos sempre já a
acontecer.
As ὄρεξεις correspondem a algo que nos faz
esticar em direcção àquilo que queremos. Nós temos a relação de diferença em
relação não só ao que gostaríamos de ter sido, mas também em direcção ao
futuro, como se o objecto de desejo que somos nós próprios estivesse constituído
de formal transcendental -- um ser que está em tensão com algo que eu ainda não
sou, mas já está agora a puxar e a
afectar aquilo que sou agora; o que eu ainda não sou já está agora a afectar-me
-- eu próprio no extremo das minhas capacidades, no superlativo de mim. Nas
nossas habilitações temos esta ideia de repetição e esforço que nos faça ser
melhores (mas a repetição pode não levar a isso). Há uma relação sintética a priori entre a tarefa e a perspectiva
de sucesso. Qual é a natureza desta aquisição que está a ser visada? Eu estou
desde sempre em tensão com o extremo radical de mim em que eu sou o meu máximo.
Mas como é que eu realizo o máximo a não ser numa produção? E posso reduzir o
máximo de mim a uma produção, a um produto de trabalho? de que forma é que
consigo encontrar um espaço horizontal em que posso vir a ser?
O ponto é que eu estou sempre constituído num horizonte de ὄρεξεις. E também por isso estou sempre já no momento da minha morte.
É neste contexto que as perguntas de tácito têm de ser compreendidas. O que
está a ser descrito é a realização de si no mundo de tal forma que o mundo é o
esgotamento e esbajamento de possibilidades -- precisamente porque essas
possibilidades são vistas como adquiriveis no sentido do
"comestível". O problema é que eu não consigo realizar-me numa tal
aquisição de conteúdos -- isso não corresponde à reaização do ser. Tudo seria
como bens cujo único sentido é o da posse, e eu nunca poderia ter aquilo que
quero.
Nós jogamo-nos sempre num encargo com aquisições ou rejeiçaõ delas, mas a
aquisição do próprio sentido é no "estar a ir". No entanto, isso só é
conseguido se houver uma abertura para esse sentido. Estamos continuamente num apiscor -- num lance para obter qualquer
coisa. As nossas motivações são sempre dinâmicas. Elas surgem num horizonte que
não é perceptivo. O apiscor põe-nos
em contacto com um conteúdo fantástico, com algo que não está aqui mas com o
qual eu estou em tensão -- a conteúdos que não são percepcionados mas com os
quais eu tenho uma relação. Ex. Eu posso estar em tensão com o almoço, e não
preciso de estar a ver o almoço,ele ainda não está disponível no mundo estou é
já me está a puxar.
O termo apiscor tem a ver com o ter na mira, apontar, ir em dircção a
uma determinada costa (e por isso de travessia), mas também possuir e tocar.
Isto podem ser objectos físicos, mas também mentais, mas também de qualidades
(Ex. Alguem que passa a saber gramática.)
Apiscor no L&S:
apiscor
ăpiscor,
aptus, 3, v. dep. apo (class., but more rare than the compd. adipiscor; in the
post-Aug. per. most freq. in Tac.), orig.,
I
to reach after something, in order to take, seize, or get
possession of it (syn.: peto, sequor, adquiro, attingo); hence, in gen.,
I
To pursue (with effort, zeal, etc.): sine me hominem
apisci, Plaut. Ep. 5, 2, 3.—And as the result of the pursuit,
II
To take, seize upon: etenim nullo cessabant tempore apisci Ex
aliis alios avidi contagia morbi, Lucr. 6, 1235.—
III To reach, attain
to, get, gain, acquire (by effort, trouble,
etc.; cf. adipiscor), both lit. and trop.: quod ego objectans vitam bellando
aptus sum, Pac. ap. Non. p. 234, 25: hereditatem, Plaut. Capt. 4, 1,
8: cupere aliquid apisci, Lucil. ap. Non. p. 74, 30; so id. ib.
p. 74, 23: aliquem, Sisenn. ap. Non. p. 68, 25: maris apiscendi causā, Cic. Att. 8, 14 fin.: laudem, Sulp. ap. Cic.
Fam. 4, 5 fin.: aliquid animus praegestit apisci, Cat. 64, 145: spes
apiscendi summi honoris, Liv. 4, 3: jus, Tac. A. 6, 3: summa
apiscendi libido, id. ib. 4, 1: qui id flaminum apisceretur, id. ib.
4, 16: apiscendae potentiae properi, id. ib. 4, 59: cujus (artis)
apiscendae otium habuit, id. ib. 6, 26 al.— Once in Tacitus with gen.
like the Gr. τυγχάνειν
τινός: dominationis, A. 6, 45.—
Poet., to reach something in mind, i. e. to perceive, understand:
Nec ratione animi quam quisquam possit apisci, Lucr. 1, 448.!*?
Apiscendus, pass., Manil. 3, 145; Tac. A. 3, 31; 13, 20
al.; cf. adipiscor.
Outro termo importate é Adfeto -- tentatica de ter,
compreender, capturar (Ex. ter nas mãos para beijar). Esta é a forma peculiar
que corresonde à tentativa de provar o mundo. É como se a alma tivesse uma mão
que está sempre na tentativa de tocar, de ir por, de aproximar-se, chegar -- o
que está descrito no verbo ser são formas de afastamento e aproximação (é isso
que está dito no verbo γίγνεσθαι). Tem também a ideia de assaltar, de atacar, de movimento que chegam, com
relação com as ὁρμαί, que são usadas para descrever a
abordagem de um navio pirata a outro.
Afficio no L&S:
afficio
af-fĭcĭo
(better adf-), affēci (adf-), affectum (adf-),
3, v. a. facio,
I
to do something to one, i. e. to exert an influence on body or mind,
so that it is brought into such or such a state (used by the poets
rarely, by Hor. never).
1
Aliquem.
A
Of the body rarely, and then commonly in a bad sense: ut aestus, labor, fames,
sitisque corpora adficerent, Liv. 28, 15: contumeliis adficere corpora
sua, Vulg. Rom. 1, 24: non simplex Damasichthona vulnus Adficit, Ov.
M. 6, 255: aconitum cor adficit, Scrib. Comp. 188: corpus adficere
M. Antonii, Cic. Phil. 3: pulmo totus adficitur, Cels. 4, 7; with
abl. of spec.: stomacho et vesicā
adfici, Scrib. Comp. 186. —In bon. part.: corpus ita adficiendum est, ut
oboedire rationi possit, Cic. Off. 1, 23.—
B
More freq. of the mind: litterae tuae sic me adfecerunt, ut, etc., Cic. Att.
14, 3, 2: is terror milites hostesque in diversum adfecit, Tac. A. 11,
19: varie sum adfectus tuis litteris, Cic. Fam. 16, 2: consules
oportere sic adfici, ut, etc., Plin. Pan. 90: adfici a Gratiā aut a Voluptate, Cic. Fam. 5, 12; id. Mil.
29, 79: sollicitudo de te duplex nos adficit, id. Brut. 92, 332: uti
ei qui audirent, sic adficerentur animis, ut eos adfici vellet orator, id.
de Or. 1, 19, 87 B. and K.: adfici animos in diversum habitum, Quint. 1,
10, 25.—
2
With acc. and abl., to affect a person or (rarely) thing with
something; in a good sense, to bestow upon, grace with; in a
bad sense, to visit with, inflict upon; or the ablative and verb
may be rendered by the verb corresponding to the ablative, and if an adjective
accompany the ablative, this adjective becomes an adverb.—Of inanimate things
(rare): luce locum adficiens, lighting up the place, Varr. ap. Non.
p. 250, 2: adficere medicamine vultum, Ov. Med. Fac. 67: factum non
eo nomine adficiendum, designated, Cic. Top. 24, 94: res honore
adficere, to honor, id. N. D. 1, 15, 38: non postulo, ut dolorem
eisdem verbis adficias, quibus Epicurus, etc., id. Tusc. 2, 7, 18.—
3
Very freq. of persons.
(a)
In a good sense: Qui praedā atque agro adoreāque adfecit populares suos, Plaut. Am. 1, 1, 38:
quem sepulturā adficit, buries, Cic.
Div. 1, 27, 56: patres adfecerat gloriā,
id. Tusc. 1, 15, 34: admiratione, id. Off. 2, 10, 37: voluptate, id.
Fin. 3, 11, 37: beneficio, id. Agr. 1, 4, 13: honore, id. Rosc.
Am. 50, 147: laude, id. Off. 2, 13, 47: nomine regis, to style,
id. Deiot. 5, 14: bonis nuntiis, Plaut. Am. prol. 8: muneribus, Cic.
Fam. 2, 3; Nep. Ages. 3, 3: praemio, Cic. Mil. 30, 82:
pretio, Verg. A. 12, 352: stipendio, Cic. Balb. 27, 61.—
(b)
In a bad sense: injuriā abs te adficior indignā, pater, am wronged unjustly, Enn. ap. Auct. ad
Heren. 2, 24, 38; so Ter. Phorm. 5, 1, 3: Quantā me curā et sollicitudine adficit
Gnatus, id. ib. 2, 4, 1; so Cic. Att. 1, 18: desiderio, id.
Fam. 2, 12: timore, to terrify, id. Quint. 2, 6:
difficultate, to embarrass, Caes. B. G. 7, 6: molestiā, to trouble, Cic. Att. 15, 1: tantis
malis, Vulg. Num. 11, 15: maculā,
Cic. Rosc. Am. 39, 113: ignominiā,
id. ib. 39, 123: contumeliis, Vulg. Ezech. 22, 7; ib. Luc. 20,
11: rerum et verborum acerbitatibus, Suet. Calig. 2: verberibus, Just.
1, 5: supplicio, Cic. Brut. 1, 16; so Caes. B. G. 1, 27: poenā, Nep. Hann. 8, 2: exsilio, to banish, id.
Thras. 3: morte, cruciatu, cruce, Cic. Verr. 3, 4, 9: morte, Vulg.
Matt. 10, 21: cruce, Suet. Galb. 9: ultimis cruciatibus, Liv. 21,
44: leto, Nep. Regg. 3, 2.—And often in pass.: sollicitudine
et inopiā consilii, Cic. Att. 3, 6: adfici
aegritudine, id. Tusc. 3, 7, 15: doloribus pedum, id. Fam. 6, 19:
morbo oculorum, Nep. Hann. 4, 3: inopiā
rei frumentariae, Caes. B. G. 7, 17: calamitate et injuriā, Cic. Att. 11, 2: magnā poenā, Auct. B. G. 8, 39:
vulneribus, Col. R. R. 4, 11: torminibus et inflationibus, Plin. 29,
5, 33, § 103: servitute, Cic. Rep. 1, 44.—Hence, affectus (adf-), a,
um, P. a.
I
In a peculiar sense, that on which we have bestowed labor, that which
we are now doing, so that it is nearly at an end; cf.: Adfecta,
sicut M. Cicero et
-- 67 --
veterum elegantissime locuti
sunt, ea proprie dicebantur, quae non ad finem ipsum, sed proxime finem
progressa deductave erant, Gell. 3, 16: bellum adfectum videmus et paene
confectum, Cic. Prov. Cons. 8, 19: in provinciā (Caesar) commoratur, ut ea. quae per eum adfecta
sunt, perfecta rei publicae tradat, id. ib. 12, 29: cum adfectā prope aestate uvas a sole mitescere tempus, etc., near
the end of summer, id. ap. Gell. l. c.: Jamque hieme adfectā mitescere coeperat annus, Sil. 15, 502: in Q.
Mucii infirmissimā valetudine adfectāque jam aetate, Cic. de Or. 1,45,200; id.
Verr. 2,4,43, § 95.—
II
In nearly the same sense as the verb, absol. and with abl.
A Absol.
(a)
Of persons laboring under disease, or not yet quite recovered: Qui cum ita
adfectus esset, ut sibi ipse diffideret, was in such a state, Cic.
Phil. 9, 1, 2: Caesarem Neapoli adfectum graviter videam, very ill, id.
Att. 14, 17; so Sen. Ep. 101: quem adfectum visuros crediderant, ill,
Liv. 28, 26: corpus adfectum, id. 9, 3: adfectae vires corporis, reduced
strength, weakness, id. 5, 18: puella, Prop. 3, 24, 1: aegra
et adfecta mancipia, Suet. Claud. 25: jam quidem adfectum, sed tamen spirantem,
id. Tib. 21.—
(b)
Of things, weakened, sick, broken, reduced: partem
istam rei publicae male adfectam tueri, Cic. Fam. 13, 68: adfecta res
publica, Liv. 5, 57: Quid est enim non ita adfectum, ut non deletum
exstinctumque esse fateare? Cic. Fam. 5, 13, 3: sic mihi (Sicilia)
adfecta visa est, ut hae terrae solent, in quibus bellum versatum est, id.
Verr. 5, 18, 47: adfecta res familiaris, Liv. 5, 10: opem rebus
adfectis orare, id. 6, 3; so Tac. H. 2, 69: fides, id. ib. 3,
65: spes, Val. Fl. 4, 60.—
(g)
Of persons, in gen. sense, disposed, affected, moved, touched:
Quonam modo, Philumena mea, nunc te offendam adfectam? Ter. Hec. 3, 1, 45:
quomodo sim adfectus, e Leptā poteris cognoscere, Cic.
Fam. 14, 17: ut eodem modo erga amicum adfecti simus, quo erga nosmetipsos,
id. Lael. 16, 56; id. Fin. 1, 20, 68: cum ita simus adfecti, ut
non possimus plane simul vivere, id. Att. 13, 23; id. Fin. 5, 9, 24:
oculus conturbatus non est probe adfectus ad suum munus fungendum, in proper
state, id. Tusc. 3, 7, 15: oculi nimis arguti, quem ad modum animo
adfecti simus, loquuntur, id. Leg. 1, 9, 27; id. Off. 3, 5, 21; id.
Att. 12, 41, 2.—
(d)
As rhet. t. t.: affectus ad, related to, resembling: Tum ex eis
rebus, quae quodam modo affectae sunt ad id, de quo quaeritur, Cic. Top. 2,
8 Forcellini.—
B
With abl. chiefly of persons, in indifferent sense, in good or bad sense (cf.:
Animi quem ad modum adfecti sint, virtutibus, vitiis, artibus, inertiis, aut
quem ad modum commoti, cupiditate, metu, voluptate, molestiā, Cic. Part. Or. 10, 35).
(a)
In indifferent sense, furnished with, having: validos lictores
ulmeis affectos lentis virgis, Plaut. As. 3, 2, 29: pari filo similique
(corpora) adfecta figurā, Lucr. 2, 341: Tantāne adfectum quemquam esse hominem audaciā! Ter. Phorm. 5, 7, 84: omnibus virtutibus, Cic.
Planc. 33, 80.—
(b)
In bad sense: aegritudine, morbo adfectus, Col. R. R. 7, 5, 20: aerumnis
omnibus, Lucr. 3, 50: sollicitudine, Caes. B. G. 7, 40:
difficultatibus, Cic. Fam. 7, 13: fatigatione, Curt. 7, 11:
frigore et penuriā, id. 7, 3: adfecta
sterilitate terra, Col. R. R. praef. 1, 2: vitiis, Cic. Mur. 6, 13:
ignominiā, id. Att. 7, 3: supplicio, Tac.
A. 15, 54: verberibus, Curt. 7, 11: vulnere corpus adfectum, Liv.
1, 25: morbo, Ter. Hec. 3, 3, 6: dolore, Cic. de Or. 2, 49, 201:
febre, Suet. Vit. 14: pestilentiā,
Liv. 41, 5: desperatione, Cic. Att. 14, 22: clade, Curt. 10, 6:
senectute, Cic. de Or. 3, 18, 68: aetate, id. Cat. 2, 20; id.
Sen. 14, 47: morte, Serv. ad Cic. Fam. 4, 12.—Sup.: remiges
inopiā adfectissimi, Vell. 2, 84.—
(g)
In good sense: beneficio adfectus, Cic. Fam. 14, 4: aliquo honore aut
imperio, id. Off. 1, 41, 149: valetudine optimā, id. Tusc. 4, 37, 81: laetitiā, id. Mur. 2, 4, and ad Brut. 1, 4:
munere deorum, id. N. D. 3, 26, 67: praemiis, id. Pis. 37, 90.—Adv.:
affectē (adf-), with (a strong) affection,
deeply: oblectamur et contristamur et conterremur in somniis quam
adfecte et anxie et passibiliter, Tert. Anim. 45.
Outro termo importante é Avidus ,a, um ; aveu-- avidez, o avaro: hipertrofia de um conteúdo que depois
não é gasto: forma peculiar como nos podemos relacionar com conteúdo. Também
pode ser cobiçoso -- ideia de insaciabilidade: elemento positivo de motivação
(mais) e elemento negativo de "nunca conseguir chegar lá".
Avidus no L&S:
avidus
ăvĭdus, a, um, adj. 1. aveo,
I
longing eagerly for something (either lawful or unlawful), desirous,
eager, earnest, greedy (diff. from avarus, q. v.).
I
In gen., constr. with gen., in with acc., dat., or absol.
(a)
With gen.: cibi, Ter. Eun. 5, 4, 16: Romani semper appetentes
gloriae praeter ceteras gentes atque avidi laudis, Cic. Imp. Pomp. 3, 7:
festinatio victoriae avida, id. Phil. 3, 1; so, potentiae, honoris,
divitiarum, Sall. J. 15, 4: avidissimus privatae gratiae, id. H. Fr.
(Orat. Cottae ad Popul. p. 245 Gerl.): turba avida novarum rerum, Liv. 1, 8,
6: avidus poenae (sc. sumendae), id. 8, 30, 13: libidinum, Hor.
C. 1, 18, 11: futuri, id. A. P. 172 et saep.: belli gerundi, Sall.
J. 35, 3: malefaciundi, id. H. Fr. ap. Serv. ad Verg. A. 9, 343 (p.
251, n. 116 Gerl.): avidior properandi, id. H. Fr. 4, 30 Gerl.: videndi,
Ov. M. 10, 56 et saep.— Poet. with inf. (inst. of gen. of
gerund.): avidi committere pugnam, Ov. M. 5, 75: cognoscere amantem,
id. ib. 10, 472: Chaos innumeros avidum confundere mundos, Luc. 6,
696 al.—A. more remote gen. relation is found in Lucr.: Humanum genus est
avidum nimis auricularum, in respect of, Lucr. 4, 594.—
(b)
With in with acc.: avida in novas res ingenia, Liv. 22, 21, 2:
avidae in direptiones manus, id. 5, 20, 6.—*
(g)
With dat.: servorum manus subitis avidae, Tac. H. 1, 7.—
(d)
Absol. and transf. to inanimate things: ita sunt avidae (aures meae),
etc., Cic. Or. 29, 104: avidi cursus frena retentat equi, Ov. P. 3,
9, 26: avidae libidines, Cic. Sen. 12, 39: amor, Cat. 68, 83:
cor, Ov. Tr. 3, 11, 58: pectus, id. H. 9, 161: amplexus, id.
M. 7, 143.—
II
Esp
A Eager
for gain, avaricious, covetous, greedy of money, =
avarus: me dices avidum esse hominem, Plaut. Ps. 5, 2, 34; id. Aul.
prol. 9; 3, 5, 12; id. Bacch. 2, 3, 43: Sed habet patrem
quendam avidum, miserum atque aridum, Ter. Heaut, 3, 2, 15: divitiasque
Conduplicant avidi, Lucr. 3, 71: aliquantum ad rem avidior, Ter. Eun.
1, 2, 51: grati animi, non appetentis, non avidi signa proferri perutile
est, Cic. de Or. 2, 43, 182; id. Rosc. Com. 7 fin.: avidae manus
heredis, Hor. C. 4, 7, 19 al.—
B Eager
for food, hungry, greedy, voracious, gluttonous:
Avidos vicinum funus et aegros Exanimat, Hor. S. 1, 4, 126: convivae, id.
ib. 1, 5, 75: Noli avidus esse in omni epulatione, * Vulg. Eccli. 37, 32.—
Poet.: Efficit ut largis avidum mare fluminis undis, insatiable, Lucr.
1, 1031: Exitio est avidum mare nautis, Hor. C. 1, 28, 18: morbus, Lucr.
6, 1236: manus Mortis, Tib. 1, 3, 4: ignis, Ov. M. 9, 234; 12,
280: flammae, id. ib. 9, 172: morsus, id. ib. 4, 724 et
saep.—
C
In Lucr. of space as swallowing up objects, wide, large, vast:
Inde avidei partem montes silvaeque ferarum Possedere, Lucr. 5, 202:
avido complexu quem tenet aether id. 2, 1066; so id. 5, 470.—Adv.,
eagerly, greedily, etc.
a
Anteclass. form ăvĭdĭter: invadere pocula, Val.
Antias ap. Arn. 5, p. 155; so App.: merum ventri ingurgitare, Met. 4, p.
145, 27.—
b Class. form ăvĭdē: ab ludis animus atque aures avent avide exspectantes
mentium, Enn. ap. Varr. L. L. 6, § 83 Müll. (Trag. v. 71 Vahl.); Lucr.
4, 1108: adripere Graecas litteras, Cic. Sen. 8, 26: adpetere
aliquid, id. ib. 20, 72: exspectare aliquid, id. Att. 12, 40; 16,
10: jam bibit avide, Suet. Tib. 59: pransus, Hor. S. 1, 6, 127
al.— Comp.: avidius se in voluptates mergere, Liv. 23, 18, 11:
procurrere, id. 34, 15, 4: avidius vino ciboque corpora onerant, id.
41, 2, 13: vesci, Suet. Calig. 18.—Sup.: avidissime
exspectare aliquid, Cic. Phil. 14, 1: credere aliquid, Plin. 5, 1, 1,
§ 4: adprehendere palmam, id. 14, 22, 28, § 147.
Outro termo é Concupisco -- ideia da relação com aquilo que está em falta,
qualquer coisa da qual não temos nada, mas que queremos: encontramo-nos
continuamente numa motivação. Não é uma suplementação do tido, mas uma tensão
com uma falta. O que nos motiva no desejo é uma ausência (e por isso mesmo
nunca poderia ser um conteúdo perceptivo).
Concupisco no L&S:
concupisco
con-cŭpisco, cŭpīvi or cŭpii, ītum, 3,
I
v. inch. a. [cupio], to long much for a thing, to be very desirous
of, to covet, to aspire to, strive after (class. in prose and poetry).
(a)
With acc.: quid concupiscas tu videris: quod concupiveris certe habebis,
Ant. ap. Cic. Phil. 5, 12, 33: credo enim vos ... non pecuniam ... non
opes violentas ... sed caritatem civium et gloriam concupivisse, Cic. Phil.
1, 12, 29: signa, tabulas, etc., id. Par. 6, 3, 49: domum aut
villam, Sall. C. 51, 33: tribunos plebis, Liv. 3, 67, 7: eandem
mortem gloriosam, Cic. Div. 1, 24, 51; Quint. 5, 13, 6: loquendi
facundiam, id. 12, 10, 16: eloquentiam, Tac. Agr. 21:
dominationem, Suet. Caes. 30: triumphum, id. Vesp. 12: majora, Nep.
Paus. 1, 3: nihil desiderabile, Cic. Fin. 1, 16, 53: nihil mihi,
Planc. ap. Cic. Fam. 10, 9, 3: perniciosum quicquam, id. ib. 10, 8, 2;
Cic. Quint. 21, 69; * Hor. Epod. 3, 19; Quint. 1, 2, 6; 12,
11, 23: cum est concupita pecunia, Cic. Tusc. 4, 11, 24; 4, 6, 12:
concupiscendus honos, id. Fam. 15, 6, 2: aliquid alicui concupiscendum
relinquere, Liv. 1, 56, 7; Curt. 7, 8, 13; Plin. 11, 6, 5, §
15: aliquid intemperanter, Nep. Att. 13, 4.—
(b)
With inf.: quid erat, quod concupisceret deus mundum signis et luminibus
tamquam aedilis ornare? Cic. N. D. 1, 9, 22: obmutescere, id. Fin. 4,
3, 7: ducere Sassiam in matrimonium, id. Clu. 9, 26; Nep. Lys. 2,
2; Petr. 111: Nero virtutem ipsam exscindere concupivit, Tac. A.
16, 21: esse similes, Quint. 2, 9, 2: videri Atticorum imitatores, id.
12, 10, 14: prodire in scaenam, Suet. Ner. 20; id. Claud. 34;
id. Calig. 37.—
(g)
With acc. and inf.: discerpi senatorem, Suet. Calig. 28.—
(d)
Absol. (rare): fingebat et metum, quo magis concupisceret, Tac. H. 1,
21; 1, 52: abiit jam tempus, quo posses videri concupisse, id.
ib. 2, 76: his domos villas patefecimus non concupiscentibus, id. G. 41:
quamvis ista non adpetat, tam grate tamen excipit quam si concupiscat, Plin.
Ep. 3, 2, 6.—
II Transf., of things (very
rare): (faba) aquas in flore maxime concupiscit; cum vero defloruit, exiguas
desiderat, Plin. 18, 12, 30, § 120.
Na perspectiva são conteúdos que apenas existem num tempo "a
ser", e só no ser por mim, a serem para mim é que ele existem. São também
conteúdos que detonam em mim o interesse neles -- eles criam uma tensão com a
minha forma de compreensão deles. A maior parte do tempo nós vivemos assim: na
expectativa de preenchimento de alguma coisa que está por ser. Como é que é
possível o nosso ponto de vista estar dado nesta tensão com aquilo que ainda
não existe, de tal forma que a vida nos põe sempre a ir até lá?
O que se encontra na análise de Tácito que está relacionado com a ideia
Aristotélica de glória e fama (τὸ καλόν). A
motivação fundamental é o ser imortal pela fama, porque sempre que se é falado
é-se ressuscitado. Temos uma relação de sede com a glória porque é ela que nos
torna imortais, ou seja, superlativo
de nós. A glória é a possibilidade mais extrema de nós. Está relacionado com a
ideia de a vida começar quando se morre: os que vivem são aquele cujo nome é
perpetuado. É a imortalidade que
está expressa na fama e na glória.
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