segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Filosofia da Linguagem. Handout. 7ª aula.

       Orações
      De novo, os valores de verdade
34: Somos assim impelidos a aceitar o valor de verdade (Wahrheitswerte) de uma frase como a sua referência (Bedeutung). Por “valor de verdade de uma frase” entendo o fato de uma frase ser verdadeira ou ser falsa. Não existem outros valores de verdade. Por brevidade denomino um deles como “o Verdadeiro” e o outro como “o Falso”. Cada frase declarativa, em relação à qual a referência das palavras é relevante, deve assim ser compreendida como um nome próprio, e a sua referência, caso ela exista, é o Verdadeiro ou o Falso. 
       Juízo
A designação dos valores de verdade como objetos pode parecer aqui uma ideia arbitrária. […] O que eu chamo objeto pode ser explicado com maior detalhe somente em conexão com aas noções de conceito e relação. […] Em cada juízo – não importa quão óbvio ele seja – o passo do nível do pensamento (Gedanken) para o nível da referência (Bedeutung) do objectivo (des Objektiven) já foi dado.
       Pensamento, verdade, sujeito, predicado
      A afirmação da verdade em ambos os casos reside na forma do enunciado declarativo e até quando esta não tem a sua força habitual. Por exemplo na boca de um actor no palco a frase: “o pensamento que 5 é um número primo é verdadeiro” contem apenas um pensamento, e na verdade o mesmo pensamento que a frase simples: “5 é um número primo”. Daqui pode retirar-se que a relação do pensamento com o verdadeiro não pode ser comparada com relação entre o sujeito e o predicado. Sujeito e predicado são sempre (do ponto de vista lógico) partes de um pensamento; elas encontram-se no mesmo grau para o conhecimento.
       Sentido, pensamento, referência
Por meio da conexão entre sujeito e predicado chega-se sempre apenas a um pensamento, nunca se passa de um sentido (Sinn) para a sua referência (Bedeutung), nunca de um pensamento para o seu valor de verdade. Movemo-nos no mesmo nível, mas não passamos de um nível para o seguinte. Um valor de verdade não pode ser parte de um pensamento, tampouco como, por exemplo, o Sol, pois o sol não é um sentido, mas um objeto. (35)
       Orações subordinadas
       Uma frase refere-se no discurso directo a uma outra frase e no discurso indirecto a um pensamento. Passamos à consideração das orações subordinadas. (26)
1)    Orações substantivas:
a)     Infinitivas
b)    Interrogativas indirectas
c)     Integrantes
2) Adjectivas
3) Adverbiais
       Orações2.
       Há tantas orações quantos elementos na frase:
       Substantivos
       Adjectivos
       Advérbios
       As orações subordinadas substantivas dividem-se em
       completivas: O Pedro disse que o Eusébio fugiu de Moçambique.
       relativas sem antecedente: Tu precisas de quem te dê um par de lambadas.
                 As orações subordinadas substantivas são seleccionadas por:
       um verbo: A Maria afirmou que amanhã não há feira.
       um nomeFoi uma alegria que o Benfica tivesse derrotado o Marítimo.
       um adjectivo: Os alunos estão conscientes de que sou um péssimo professor.
       Oração subordinada substantiva completiva Finita ou integrante ou conjuncional

            1.1. Finita
       As orações subordinadas substantivas completivas finitas são introduzidas pelas conjunções completivas "que" e "se":
       -» Declaro que tu és um bom rapaz.
       -» A Joana perguntou se eu ia faltar.
       Sujeito
«É possível [que o João não venha à festa]»
       «[Isso] é possível»
       «É verdade [que o João é alérgico a morangos]»
       «[Isso] é verdade»;
       Complemento directo
       «O João sabe [que estamos à espera dele]»
       «O João sabe [isso]/[-o]»
       «O conselho lamentou [que não lhe tenha sido comunicada a decisão]»
       «O conselho lamentou[-o]»
       oblíquo (objetivas indiretascompletivas nominais, em Cunha e Cintra):
       «O João insistiu [em [que fôssemos à festa dele]]» 
       «*O João insistiu-o» (agramatical)
       «Não me esqueço [de [que estavas doente quando ele nasceu]]»
       «*Não mo esqueço» (agramatical)
       «Durante a Idade Média, os geógrafos não defendiam a ideia [de [que a Terra é redonda]»
       «*Durante a Idade Média, os geógrafos não o defendiam a ideia» (agramatical)
       (como se pode constatar, as completivas que desempenham relações gramaticais oblíquas não podem ser substituídas pelo pronome demonstrativo átono invariável [-o]).
        
       Não finitas (ou reduzidas) 
       «[O filme ter ganho o festival] foi surpreendente»
       «[Isso] foi surpreendente»
       «O João lamenta [os pedreiros não terem concluído a obra]»
       «O João lamenta[-o]»
       «Os pais disseram aos miúdos [para vir(em) para casa cedo]»
       «Os pais disseram[-no] aos miúdos»
       Finalmente, é de referir que, como se pode constatar, as orações completivas podem ser selecionadas por verbos (ex.: afirmar, alegar, assegurar, prometer, propor, sugerir, pedir, perguntar, detestar, gostar, lamentar, ...), por adjetivos (ex.: possível, ...), ou por nomes (ex.: verdade, ...).
       Podem ser substituídas por pronomes demonstrativos invariáveis como istoissoaquilo.
       «Os críticos disseram [que o filme ganhou o festival]»
       «Os críticos disseram [isso]»
       «*Os críticos disseram» (agramatical)
       «O João prometeu [que telefonava logo à noite]»
       «O João prometeu [isso]»
       «*O João prometeu» (agramatical)
       «Todos lhe perguntaram [se ele afinal vinha à festa]»
       «Todos lhe perguntaram [isso]»
       «*Todos lhe perguntaram»
       Orações relativas
       As orações subordinadas substantivas relativas são introduzidas por pronomes relativos e ocorrem sempre em posição argumental, ou seja, no mesmo contexto em que ocorrem expressões linguísticas com a função de sujeito (cf. 1), de complemento direto (cf. 2), complemento indireto (cf. 3), complemento oblíquo (cf. 4):
       (1) «Quem entregou o trabalho não fará o exame.»
       (2) «O professor elogiou quem entregou o trabalho
       (3) «O professor ofereceu o livro a quem entregou o trabalho
       (4) «O professor conversou com quem tinha dúvidas sobre o trabalho
       As orações subordinadas adjetivas relativas desempenham a função típica dos adjetivos – a função de modificador. Designam-se relativas por se construírem com subordinadores relativos (pronomes ou advérbios), os quais implicam uma relação de correferência com um antecedente de que dependem. Assim, por exemplo, na frase:
       (5) «As revistas queestão no cesto são para rasgar.»
       O pronome relativo que implica uma relação de correferência com «as revistas», o qual funciona como antecedentedaquele. Subjacente à oração relativa «que estão no cesto» está, pois, a oração «as revistas são para rasgar». O pronome relativo que visa as revistas.
       Orações relativas restritivas
       As orações subordinadas relativas restritivas são orações introduzidas por pronomes relativos e têm por função delimitar o universo de seres representado pelo nome que antecede o relativo. Desempenham a função sintática de modificador restritivo.
       «Os alunos que tiverem boa nota receberão uma bolsa de mérito.»
       Orações subordinadas relativas explicativas
       Orações introduzidas por pronomes relativos e têm por função fornecer um esclarecimento adicional acerca do nome que antecede o relativo. Desempenham a função sintática de modificador apositivo e são sempre separadas por vírgulas.
       «O João, que é o melhor aluno da turma, recebeu uma bolsa de mérito.»
       Adverbiais ou circunstanciais
       As orações subordinadas adverbiais são as orações que exercem função de advérbio em relação à oração principal. É muito comum haver verbos e outros termos elípticos nestes e em outros tipos de oração. São orações do períodocompostosindéticas (possuem conjunção). São ligadas à oração principal através da conjunção subordinativa.
       Oração adverbial: circunstância de causal
       Indicam a circunstância da causa. Ex.: a causa de faltar ao trabalho, a causa do choro, a causa da visita. Conjunções causais: porque, porquanto, como, já que, uma vez que, visto que, por isso que, pois, etc.
       Não fui trabalhar, já que peguei gripe.
       Oração Principal: Não fui trabalhar
       Oração Sub. Adv. Causal: já que peguei gripe
       A menina chorava porque havia caído da bicicleta.
       Oração Principal: A menina chorava
       Oração Sub. Adv. Causal: porque havia caído da bicicleta
       Ele foi visitar a prima visto que ela estava com hipertensão.
       Oração Principal: Ele foi visitar a prima
       Oração Sub. Adv. Causal: visto que ela estava com hipertensão
       Comparativa
       Compara com a oração principal (veja: grau). Conjunções comparativas: como, bem como, assim como, mais./menos... (do) que, tão/tanto... quanto/como, tal qual, etc.
       Os olhos dela eram tão lindos quanto era o céu.
       Oração Principal: Os olhos dela eram tão lindos
       Oração Sub. Adv. Comparativa: quanto era o céu
       Ele fazia as coisas mais lentamente que o andar de uma tartaruga.
       Oração Principal: Ele fazia as coisas mais lentamente
       Oração Sub. Adv. Comparativa: que o andar de uma tartaruga
       A multidão gritava mais alto que o som feito pelas caixas de som.
       Oração Principal: A multidão gritava mais alto
       Oração Sub. Adv. Comparativa: que o som feito pelas caixas de som
       Oração subordinada adverbial concessiva
       Indicam uma ideia ou um fato insistente. Conjunções concessivas: embora, conquanto, ainda que, mesmo que, mesmo quando, apesar de que, se bem que, nem que, posto que, por mais/menos que, malgrado, não obstante, inobstante, em que pese, etc.
       Ele não se mexia por mais que eu tentasse mexê-lo.
       Oração Principal: Ele não se mexia
       Oração Sub. Adv. Concessiva: por mais que eu tentasse mexê-lo
       Ainda que você tente de tudo, nada vai me fazer mudar de ideia.
       Oração Principal: nada vai me fazer mudar de ideia
       Oração Sub. Adv. Concessiva: Ainda que você tente de tudo
       Nem quando eu me atirar de um desfiladeiro ele fará algo assim.
       Oração Principal: ele fará algo assim
       Oração Sub. Adv. Concessiva: Nem quando eu me atirar de um desfiladeiro
       Oração subordinada adverbial condicional
       Indicam a condição, que aquilo só ocorreria se algo estivesse de tal modo. Conjunções condicionais: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, a não ser que, sem que, exceto se, salvo se, uma vez que, etc.
       Não farão nada, exceto se me prometerem uma coisa.
       Oração Principal: Não farão nada
       Oração Sub. Adv. Condicional: exceto se me prometerem uma coisa
       Não serão expulsos caso cumpram as nossas regras.
       Oração Principal: Não serão expulsos
       Oração Sub. Adv. Condicional: caso cumpram as nossas regras
       Encomendarei comida a não ser que você não esteja com fome.
       Oração Principal: Encomendarei comida
       Oração Sub. Adv. Condicional: a não ser que você não esteja com fome
       Conformativa
       Indicam a conformidade. É separada com vírgula. Conjunções conformativas: conforme, segundo, consoante, como, de acordo com, etc.
       Conforme o que o médico dizia, o câncer é uma modificação celular.
       Oração Principal: o câncer é uma modificação celular
       Oração Sub. Adv. Conformativa: Conforme o que o médico dizia
       Segundo o que estava escrito na revista, o cantor casou-se com a atriz.
       Oração Principal: o cantor casou-se com a atriz
       Oração Sub. Adv. Conformativa: Segundo o que estava escrito na revista
       O Haiti foi devastado por mais abalos sísmicos, de acordo com o que estava escrito no jornal.
       Oração Principal: O Haiti foi devastado por mais abalos sísmicos
       Oração Sub. Adv. Conformativa: de acordo com o que estava escrito no jornal
       Consecutiva
       Indicam a consequência do fato, o que ocorreu após o fato. Conjunções consecutivas: que (precedido de tal, tão, tanto, tamanho), de modo que, de forma que, de sorte que, tanto que, etc
       Ela assustava os outros de modo que todos acabavam se apavorando.
       Oração Principal: Ela assustava os outros
       Oração Sub. Adv. Consecutiva: de modo que todos acabavam se apavorando
       Estavam tão entusiasmados com a festa que nem perceberam escurecer.
       Oração Principal: Estavam tão entusiasmados com a festa
       Oração Sub. Adv. Consecutiva: que nem perceberam escurecer
       Falavam tão baixo de forma que todos precisavam se aproximar para ouvir.
       Oração Principal: Falavam tão baixo
       Oração Sub. Adv. Consecutiva: de forma que todos precisavam se aproximar para ouvir
       Final
       Indicam a circunstância de fim, a finalidade de tal fato. Conjunções finais: para que, a fim de que, que, porque, etc.
       Queria ir para casa para que pudesse acabar meus deveres.
       Oração Principal: Queria ir para casa
       Oração Sub. Adv. Final: para que pudesse acabar meus deveres
       Largaria meu emprego a fim de que houvesse mais tempo livre.
       Oração Principal: Largaria meu emprego
       Oração Sub. Adv. Final: a fim de que houvesse mais tempo livre
       Gostaria de voltar no tempo para que eu pudesse consertar meus erros.
       Oração Principal: Gostaria de voltar no tempo
       Oração Sub. Adv. Final: para que eu pudesse consertar meus erros
       Proporcional
       Indicam proporcionalidade. Não confunda estas com as comparativas, a proporção indica que se tal fato ocorresse com tal intensidade, outro fato ocorreria com a mesma intensidade. São separadas das orações principais com vírgula. Conjunções proporcionais: à medida que, assim que, à proporção que, ao passo que, quanto mais, quanto menos, tanto mais, tanto menos, enquanto, etc. É importante lembrar que essas conjunções iniciam as orações subordinadas adverbiais proporcionais.
       Quanto mais chuva cair, mais enchente haverá.
       Oração Principal: mais enchente haverá
       Oração Sub. Adv. Proporcional: Quanto mais chuva cair
       À medida que aumentar mais a renda per capita, diminuirá assim também o número de pessoas com fome.
      Oração Principal: diminuirá assim também o número de pessoas com fome
      Oração Sub. Adv. Proporcional: À medida que aumentar a renda per capita
      Quanto mais o tempo passava, com mais remorsos do acidente ele ficava.
      Oração Principal: com mais remorsos do acidente ele ficava
      Oração Sub. Adv. Proporcional: Quanto mais o tempo passava
       Temporal
      Indicam o período do tempo em que ocorre a oração principal. Conjunções temporais: quando, enquanto, logo que, assim que, sempre que, antes que, depois que, mal, até que, desde que, etc...
      Isto me ocorre sempre quando estou com raiva.
       Oração Principal: Isto me ocorre
      Oração Sub. Adv. Temporal: sempre quando estou com raiva
      Desde que ele faleceu ela vive tristemente.
       Oração Principal: ela vive tristemente
      Oração Sub. Adv. Temporal: Desde que ele faleceu
      Eu ouvia cochichos na hora em que eu falava.
       Oração Principal: Eu ouvia cochichos
      Oração Sub. Adv. Temporal: na hora em que eu falava.

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