terça-feira, 15 de maio de 2018

TFA, 8 e 10 de Maio

      Platão
      O Filebo de Platão começa medias in res a fazer a pergunta pelo sentido do bem. As respostas possíveis são alternativas mas mutuamente exclusivas. Por um lado, o bem pode ser reconduzido a uma dimensão que excede a da humanidade. Partilha o bem, em comunidade, com todos os seres vivos sem excepção. O bem é identificado com a experiência do comprazer-se, τὸ χαίρειν, especificada quer como o seu objecto quer como o efeito que provoca: ἡδονή καὶ τέρψις e tudo aquilo que pertence a este género de acontecimentos (11b4-6). 
      Por outro, pelo contrário, o ἀγαθόν é determinado negativamente como não sendo nada uma experiência universal do prazer e fenómenos afins na dimensão vital da existência. Antes, o bem apenas pode ser experimentado de forma extrema na esfera estrita em que radica o potencial do humano: no φρονεῖν καὶ τὸ νοεῖν καὶ μεμνῆσθαι καὶ τὰ τούτων αὖ συγγενῆ, 11b7-8. 
      O que está presente nesta dicotomia resulta, assim, numa disjunção exclusiva que provoca uma situação indefinida. Uma situação crítica desta natureza é a que obriga ao esforço de decisão, κρίσις, com a qual o diálogo se debate. A declaração do carácter indefinido e crítico da situação obriga a quem se encontre nela a querer escolher e escolher-se, a habilitar-se a uma aquisição do bem em sentido inequívoco, βουλόμενον ἑλεῖν καὶ περὶ αὑτὸ κτήσασθαι, 20e9. Quem se encontra numa tal situação não se preocupa com nada a não ser com aquilo que tem com desfecho coisas boas, οὐδὲν φροντίζει πλὴν τῶν ἀποτελουμένων ἅμα ἀγαθοῖς, 20e10. 
      Aristóteles
      Aristóteles define em I, xiii, 1102a5, da Ética a Nicómaco, a εὐδαιμονία, τὸ δ’ εὖ ζῆν καὶ τὸ εὖ πράττειν (95a19), como “uma certa actividade da alma conformada por uma excelência completa” (ψυχῆς ἐνέργειά τις κατ’ ἀρετὴν τελείαν). Esta fórmula expande e permite compreender a εὐδαιμονία como τὸ ζητούμενον ἀγαθόν (97a15) ou na versão superlativa: τὸ δ‘ ἄριστον τέλειόν τι (97a28), isto é, o τέλος πρακτόν (97a23) para o qual tudo, sem excepção, tende: οὗ πάντ’ ἐφίεται (94a4). A responsabilidade, o fundamento, a origem e proveniência de uma tal ἐνέργεια é a ψυχή. A sua configuração é a ἀρετὴ τελεία, a excelência completa. 
      Esses acontecimentos são designados pela expressão técnica: τὰ ἐφ’ ἡμῖν. Existem pura e simplesmente sob dependência exclusiva da lucidez, em geral, e das suas actividades, em sentido estrito. Existem na nossa dependência directa e dizem-nos respeito. 
      23.2 Epicteto, Diss. 1.4.28-29
      Não é falso aquilo a partir do qual se dá o correcto fluir e a partir do qual surge a impassibilidade. 
      Euroia, apátheia
      O legislador não sabe que quer as coisas que não lhe foram dadas e que não quere as que lhe são necessárias, quer dizer não conhece nem as que lhe são próprias nem as que lhe são alheias. Se as conhecesse, nunca seria obstaculizado nem impedido e não estaria ansioso. 
      Thelei da me didomena
      Ou thelei ta anankaia 
      Ouk oiden oute ta idia oute ta allotria.
Quais são as coisas com as quais se deve preocupar? Aquelas com as quais se deve preocupar todos os dias e o dia inteiro (holên tôn hêmeran meletônta) e não se deve preocupar de maneira nenhuma com aquelas que lhe são estranhas: nem com o amigo, nem com a situação, nem com o ginásio, nem sequer ao próprio corpo. 
      Cuidar do próprio, não reclamar o que é alheio, usar o que nos foi dado. 
      Ta idia têrein, tôn allotriôn mê antipoieisthai, alla didomenois men chrêsthai
      Por isso quem não está disposto assim, não é indiscreto nem intrometido, pois quando cada um examina os assuntos humanos, não se está a intrometer no que é alheio, mas apenas no que lhe é próprio. 
      As que não são próprias: podem ser impedidas, arrebatadas e necessárias
      Ta men kôluta kai aphaireta kai anankasta
      As que são próprias não podem ser impedidas: ta d’ akôluta idia
      A essência do bem e do mal, como era digno de quem cuida de nós e protege paternalmente localizou-as em nós. Há um só caminho até ao correcto fluir: tem-no à mão desde o amanhecer e durante a noite: afastar-se de tudo o que não depende da nossa escolha, não considerar nada como próprio, entregar tudo à divindade e à ventura, fazer de cuidadores de tais coisas aqueles que Zeus produziu para si próprio, dedica-te tu mesmo a uma única coisa: ao que te é próprio e é livre de impedimento. 
      23.3 Estobeu, Ecl.
      Antípatro sobre a virtude e a felicidade humana: viver escolhendo continuamente as coisas segundo a natureza e preterindo as coisas contrárias à natureza: fazer tudo por si mesmo, de forma contínua e sem alteração para alcançar as coisas que são preferidas segundo a natureza.
      Eklegein ta kata physin, apeklegein ta para physin
      Pan to kath’ hauton poiein diênekôs kai aparabatôs pros to tunkhanein tôn proêgoumenôn kata physin
      Fim diz-se de três maneiras: 
      O bem final é o fim de acordo com um uso académico como quando dizem concordância é um fim
      Meta: a vida concordante
      Fim: objecto último de desejo, aquel ao qual tudo o demais se refere.
      Meta é o corpo proposto a que as pessoas aspiram alcançar, mas todos os projectam na felicidade, porque todo o excelente é feliz e o vil é infeliz. 
      Telos/skopos
      Homologia
      Homologoumenos bios
      Telos: to esckhaton tôn orektôn, eph’ ho panta ta alla anapheresthai


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