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21.1
DL 7.84 (SVF 3.1; LS 56A)
•
Dividem
[sc.: os estoicos] a parte Ética nos seguintes tópicos sobre o impulso (hormê)
e sobre o que diz respeito às coisas boas e más (peri agathôn kai kakôn), sobre
as paixões (peri pathôn), sobre a excelência (peri aretês) sobre a finalidade
(peri telous) e sobre o valor primeiro (peri prôtês axias), sobre as acções
(peri tôn praxeôn) sobre os actos devidos (peri tôn kathêkontôn) e sobre as
exortações e dissuasões (protropôn te kai apotropôn).
21.2 Epicteto, Diss. 3.2.1-5
(LS 56C)
•
São
três os tópicos a respeito dos quais deve ser exercitado aquele que está para
ser glorioso e nobre (askêthênai dei ton esomenon kalon kai agathon): o que diz
respeito aos desejos e aversões (orexeis kai ekkliseis), para que estando de desejos
não falhe a obtenção do que deseja (mêt’ oregomenos apotunkhanêi) e sentindo
aversão não caia naquilo que procura evitar (mêt’ ekklinôn peripiptêi). O que
respeita as impulsões e as repulsões (hormai kai aphormai) e o que diz
simplesmente respeito ao acto que é devido (kathêkon), para que aja com
ordenação, com razoabilidade e não de modo descuidado. O terceiro é sobre a
ausência de erro e a imponderabilidade e em geral o que diz respeito aos
assentimentos (sunkatatheseis). O mais importante de todos os tópicos e o que
exerce mais pressão diz respeito às paixões (pathê). Porquanto a paixão só
nasce quando não se encontra aquilo que se deseja e cai precisamente naquilo
que se quer evitar. É isto que provoca perturbações, confusões, azares,
infelicidades, é a paixão que faz crescer em nós lamentos, gemidos, invejas,
faz de nós invejosos e zelosos, é por causa das paixões que não somos sequer
capazes de escutar a voz da razão. O segundo ponto diz respeito ao acto devido
(kathêkon). Com efeito eu não devo ser impassível (desprovido de paixão:
apathês) como uma estátua, mas devo preservar as relações tanto naturais como
adquiridas como homem piedoso, como filho, como irmão, como pai, como cidadão.
O terceiro diz respeito àqueles que estão já avançados [no exercício da ética]
e relaciona-se com a sua segurança para que nem nos sonhos lhes ocorra
despercebidamente uma impressão (phantasia) que fique sem ser examinada
(anexestatos), nem na embriaguez nem num surto de melancolia.
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21.4
Séneca, Ep. 89. 14-15 (LS 56B)
•
[14]
Portanto, já que a filosofia tem três partes, comecemos por dispor, em primeiro
lugar, a parte moral. Esta pareceu-lhes bem que fosse dividida também em três
partes. Assim, a primeira parte é um exame que visa distribuir por cada um o
que é seu e estimar quanto e o que é que cada coisa tem de valor, um exame
utilíssimo, pois o que há de mais necessário do que dar o preço a cada coisa? A
segunda parte diz respeito à impulsão (de impetu), a terceira diz respeito às
acções. A primeira parte é, então, para que julgues quanto vale cada coisa e a
sua importância (quidque sit), a segunda para que captes um impulso na direção
de cada coisa que seja ordenado e moderado. A terceira parte para que haja
concordância (conveniat) entre o teu impulso e a acção, para que em todas estas
situações estejas de acordo contigo próprio (tibi ipse consentias). [15] A
falta de alguma destas partes perturba o conjunto. Qual é a vantagem de ter
todas as coisas estimadas se o teu impulso é excessivo? Qual é a vantagem de
reprimir um impulso e ter os desejos em seu poder, se na própria acção
ignorares as oportunidades, e não souberes quando ou o quê ou onde ou de que
modo se deve agir (tempora ignores ne scias quando quidque et ubi et
quemadmodum agi debeat)? Uma coisa é conhecer as dignidades e o preço das
coisas, outra conhecer os momentos, outra saber refrear os impulsos e caminhar
até ao que deve ser feito, mas não precipitar-se nessa direcção. Nessa altura,
então a vida estará de acordo consigo
quando a acção não deixou de lado o impulso e o impulso foi concebido a partir
da dignidade de qualquer coisa, do mesmo modo o impulso é mais lasso ou mais
tenso consoante a coisa é digna de ser procurada.
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Hierocles,
FE
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Afirmam
que o animal dirige o primeiro impulso em direcção da própria conservação,
porque a natureza o familiariza consigo mesmo desde o princípio, como diz
Crísipo no livro I sobre os fins, quando sustente que a sua própria
constituição e a sua consciência dela é o primeiro familiar a todo o animal.
Não é verosímil, com efeito, que a natureza fizesse o animal estranho a si
mesmo nem que, tendo-o produzido, não o tenha feito estranho nem familiar a si
mesmo. […] Deste modo, afasta-se das coisas que lhe trazem dano e são
desvantajosas e aproxima-se das que lhe são familiares. […] Como foi
acrescentado aos animais o impulso, de que fazem uso para se dirigirem para o
que lhes é familiar, para eles o que é conforme à natureza é ser administrado
de acordo com o impulso. E uma vez que a razão foi dada aos seres racionais
como o governante mais perfeito, viver segundo a razão correctamente é para
eles o que é viver segundo a natureza, pois a razão sobrevém como artesã do
impulso.
•
(85) Τὴν δὲ πρώτην ὁρμήν φασι τὸ ζῷον ἴσχειν ἐπὶ τὸ τηρεῖν
ἑαυτό, οἰκειούσης αὐτὸ τῆς φύσεως ἀπ’ ἀρχῆς, πρῶτον οἰκεῖον λέγων
εἶναι παντὶ ζῴῳ τὴν αὑτοῦ σύστασιν καὶ τὴν ταύτης συνείδησιν·
οὔτε γὰρ ἀλλοτριῶσαι εἰκὸς ἦν αὐτὸ <αὑτῷ> τὸ ζῷον, οὔτε ποιή- (5)
σασαν αὐτό, μήτ’ ἀλλοτριῶσαι μήτ’ [οὐκ] οἰκειῶσαι. ἀπολείπεται
τοίνυν λέγειν συστησαμένην αὐτὸ οἰκειῶσαι πρὸς ἑαυτό· οὕτω γὰρ
τά τε βλάπτοντα διωθεῖται καὶ τὰ οἰκεῖα προσίεται. […] ἐκ
περιττοῦ δὲ τῆς ὁρμῆς τοῖς ζῴοις ἐπιγενομένης, ᾗ συγχρώμενα
πορεύεται πρὸς τὰ οἰκεῖα, τούτοις μὲν τὸ κατὰ φύσιν τῷ κατὰ τὴν
ὁρμὴν διοικεῖσθαι· τοῦ δὲ λόγου τοῖς λογικοῖς κατὰ τελειοτέραν
προστασίαν δεδομένου, τὸ κατὰ λόγον ζῆν ὀρθῶς γίνεσθαι (10)
<τού>τοις κατὰ φύσιν· τεχνίτης γὰρ οὗτος ἐπιγίνεται τῆς ὁρμῆς.
ἑαυτό, οἰκειούσης αὐτὸ τῆς φύσεως ἀπ’ ἀρχῆς, πρῶτον οἰκεῖον λέγων
εἶναι παντὶ ζῴῳ τὴν αὑτοῦ σύστασιν καὶ τὴν ταύτης συνείδησιν·
οὔτε γὰρ ἀλλοτριῶσαι εἰκὸς ἦν αὐτὸ <αὑτῷ> τὸ ζῷον, οὔτε ποιή- (5)
σασαν αὐτό, μήτ’ ἀλλοτριῶσαι μήτ’ [οὐκ] οἰκειῶσαι. ἀπολείπεται
τοίνυν λέγειν συστησαμένην αὐτὸ οἰκειῶσαι πρὸς ἑαυτό· οὕτω γὰρ
τά τε βλάπτοντα διωθεῖται καὶ τὰ οἰκεῖα προσίεται. […] ἐκ
περιττοῦ δὲ τῆς ὁρμῆς τοῖς ζῴοις ἐπιγενομένης, ᾗ συγχρώμενα
πορεύεται πρὸς τὰ οἰκεῖα, τούτοις μὲν τὸ κατὰ φύσιν τῷ κατὰ τὴν
ὁρμὴν διοικεῖσθαι· τοῦ δὲ λόγου τοῖς λογικοῖς κατὰ τελειοτέραν
προστασίαν δεδομένου, τὸ κατὰ λόγον ζῆν ὀρθῶς γίνεσθαι (10)
<τού>τοις κατὰ φύσιν· τεχνίτης γὰρ οὗτος ἐπιγίνεται τῆς ὁρμῆς.
•
22.2
Cícero, De fin 3.16-19
•
quando
nasce o animal sente apego por si mesmo e uma inclinação não apenas para a sua
própria conservação mas também para a sua própria condição e para aquelas
coisas que conservam a sua própria condição. E, pelo contrário, sente
estranheza por tudo o que do destrói ou por tudo aquilo que parece trazer
destruição. […] Sentimos estima por
aquelas coisas que foram adoptadas como
prioritárias por natureza o facto de que não há ninguém que, tendo a
possibilidade de escolher, não prefira ter todas as partes do seu corpo bem
formadas e íntegras em vez de as ter diminuídas ou deformadas ainda que possa
utilizá-las.
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simulatque natum sit animal
ipsum sibi conciliari et commendari ad se conservandum et ad suum statum eaque,
quae conservantia sint eius status, diligenda, alienari autem ab interitu
iisque rebus, quae interitum videantur adferre. […] fieri autem non posset ut
appeterent aliquid, nisi sensum haberent sui eoque se diligerent. ex quo
intellegi debet principium ductum esse a se diligendo.
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22.4
Séneca, Ep. 121.5-21; 23-24
•
Pois
o homem sente estima por si mesmo a respeito daquela parte pela qual é homem.
Então, como é possível que um bebé sinta apego à sua constituição racional se
não é racional? Cada idade tem a sua própria constituição: uma coisa é o caso
do bebé outra a da criança, outra a do adolescente, outra a do velho: todos
eles sentem apego pela própria constituição em que se encontram. […] Os
períodos da primeira infância, da infância, a adolescência e a velhice são
muito diferentes. Eu fui um bebê, um menino e um adolescente sou o mesmo.
Assim, ainda que cada um de mim tem a sua constituição diferente, em momentos
diferentes, o apego à sua própria constituição que é a sua no momento em que é
bebé não a terá quando for jovem. […] Eu ocupo-me do meu próprio cuidado. Evito
a dor por respeito a quem? A mim mesmo. Ocupo-me, portanto, do meu próprio
cuidado. Se levo a cabo todos os meus actos pelo meu próprio cuidado, estou a
ocupar-me de mim antes de tudo o mais. […] E uma vez que todo o cuidado é pelo
que está mais próximo, qualquer pessoa está confiada a si mesma. [...]
Portanto, mesmo os animais jovens, quando saem do útero da mãe ou do ovo,
familiarizam-se de imediato com o que lhes é hostil e evitam o que é letal. […]
Não depende da experiência e não é pela prática que alcançaram o estado em que
se encontram, mas devido a um desejo natural de auto-conservação.
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